SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O grupo Comporte Participações arrematou nesta sexta-feira (28) o lote Alto Tietê, composto por três linhas da CPTM (11-coral, 12-safira e 13-jade). Essas vias interligam a zona central de São Paulo à zona leste da capital e cidades como Suzano, Mogi das Cruzes e Guarulhos.
A companhia ofereceu um deságio de 2,57%. O mínimo estabelecido pelo governo de São Paulo era de 1,16%. Derrotada no leilão, a proposta do grupo CCR foi de 1,45%.
Por se tratar de uma parceria público-privada (PPPs), em que o governo prevê pagamentos ao concessionário, o critério do leilão era quem pedisse o menor valor de contraprestação. Neste caso, o edital exige um investimento de R$ 10 bilhões por parte do governo paulista, que serão repassados ao longo de 25 anos para ajudar a bancar as reformas de modernização e expansão das linhas.
A Comporte, criada por Nenê Constantino, da família fundadora da companhia aérea Gol, é uma holding voltada ao setor de transporte, principalmente rodoviário.
Atualmente, a companhia controla a concessão do metrô de Belo Horizonte (MG) e da linha 7-rubi, em São Paulo, adquirida em leilão no ano passado pelo consórcio C2 Mobilidade Sobre Trilhos -união da Comporte com a gigante estatal chinesa CRRC (China Rail Road Company), uma das maiores fornecedoras de equipamentos de transporte ferroviário do mundo.
Além da linha 7, a concessão envolve a criação de um “trem parador” conectando Jundiaí a Campinas e um trem entre São Paulo e Campinas.
O projeto prevê investimentos de R$ 14,3 bilhões em 25 anos e abrange melhorias operacionais -como a redução no tempo de espera entre os trens-, tecnológicas e na estrutura da rede ferroviária, que será ampliada.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse que a competição das duas empresas, classificadas por ele como supergrupos, era um indicador de sucesso para o leilão.
“As pessoas às vezes não tem noção de um desconto de 2,57% na contraprestação. Mas isso, ao longo do período de concessões, estamos falando em R$ 1 bilhão”, disse.
O governo se movimentou para evitar que somente uma empresa ofertasse na disputa, como aconteceu no leilão de fevereiro do ano passado pela linha 7-Rubi, vencido justamente pelo consórcio formado pela Comporte e a chinesa CRRC.
Segundo Tarcísio, não é fácil trazer interessados, pois são poucos os operadores no mundo que atuam nesse setor, muitos deles reticentes em assumir o risco de engenharia. Para a disputa desta sexta, o governador explicou que o projeto tinha características diferentes e que eram mais atrativos.
“Tivemos alguns operadores europeus estudando essas linhas, não formularam propostas, mas já se prepararam para estudar o próximo leilão que deve ser da linha 10 e 14. Eles estão imersos nesse estudo. Temos a esperança de que traremos novos operadores”, afirmou.
“Estamos falando de um modo de transporte que é intensivo em termo de capital. Nem sempre a turma está disposta ao risco. O que estamos tentando fazer é mitigar todos esses riscos, sensibilizar os operadores para que a gente possa ter sempre esse cenário de competição, que é o que nos interessa.”
O leilão desta sexta foi o primeiro feito pelo governo paulista em 2025. Em julho, a gestão Tarcísio prevê a disputa do lote Paranapanema, onde serão concedidos 285 km do trecho da rodovia Raposo Tavares entre Itapetininga e Ourinhos. Em agosto deve ser leiloado o túnel Santos-Guarujá.
Juntos, os dois lotes devem movimentar R$ 10,7 bilhões em investimentos, segundo previsões da secretaria de Parcerias em Investimentos do governo paulista.
Os dias que antecederam o leilão foram movimentados, com manifestações e ameaça de greve por parte dos trabalhadores que operam as linhas concedidas. Para evitar atos organizados dos ferroviários, a Polícia Militar cercou as ruas ao redor da B3, na região central de São Paulo.
“A questão de protesto é normal. Toda vez que você vai transferir algo para a iniciativa privada, algumas pessoas têm uma certa insegura com relação a isso, mas a gente está olhando o interesse público, o investimento, a melhoria da qualidade de serviço”, disse o governador após o leilão.
Mais de 4,6 milhões de pessoas moram nas regiões atendidas pelas vias que foram a leilão, e a previsão é de que, até 2040, mais de 1,3 milhão de usuários as utilizem diariamente.
Após a concessão, o projeto prevê que a linha 11 vai ganhar 4 km de extensão, com quatro novas estações, chegando até a Barra Funda e finalizando na estação César de Souza, em Mogi das Cruzes. Na linha 12, serão 2,7 km de novos trilhos, duas novas estações e integrações com as linhas 13 e 2-verde, do metrô.
Por fim, a linha 13 terá a adição de 15,6 km de extensão, com seis novas estações e vai chegar até a região de Bonsucesso e Gabriela Mistral -hoje o trecho se encera no aeroporto de Guarulhos.
O governo estabeleceu no edital o fim de todas as passagens em nível, que serão substituídas por passarelas ou viadutos e devem oferecer mais segurança a quem transitar na região.
A gestão estadual absorveu também melhorias regulatórias no contrato, incluindo um programa de investimentos iniciais e uma fase de transição operacional de dois anos. O objetivo é promover mais treinamentos por parte da CPTM aos novos funcionários e permitir a operação assistida da concessionária, evitando problemas e falhas que comprometam o serviço.
DIEGO FELIX / Folhapress