SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os rebeldes pró-Irã do Iêmen atacaram com um míssil na noite desta segunda (11) um navio norueguês no mar Vermelho, na mais recente ação contra embarcações comerciais e militares na região em apoio ao Hamas palestino na guerra contra Israel.
O navio-tanque de bandeira norueguesa Strinda foi atingido, segundo a Marinha americana, sofreu danos e ficou incapacitado de seguir viagem. Não houve vítimas relatadas entre os 22 tripulantes, todos indianos. Desta vez, contudo, não foram os EUA quem socorreram a embarcação: uma fragata francesa, a Languedoc, abateu ao menos um drone que ameaçava finalizar o ataque.
É o mais recente envolvimento de um navio de Paris na série de incidentes envolvendo os rebeldes da etnia xiita houthi, que travam desde 2014 guerra contra o governo de maioria sunita do Iêmen. A fragata fazia parte da força-tarefa multinacional que patrulha as águas da região, tradicionalmente infestadas de piratas, e já havia interceptado dois drones houthis na semana passada.
Os houthis afirmaram, em comunicado, que o Strinda levava óleo para Israel. No sábado, haviam prometido atacar todos navios com qualquer ligação com o Estdao judeu.
A empresa operadora do Strinda, contudo, afirma que ele levava óleo de palma para ser convertido em biocumbustível da Malásia para a Veneza. Segundo a Mowinckel Chemical Tankers, dona do navio, ele não iria parar em Eilat, principal porto do sul israelense.
Segundo o Comando Central dos EUA, que opera na região do Oriente Médio, o míssil que atingiu o Strinda provavelmente é um modelo de cruzeiro lançado de terra. Ele enviou o destróier USS Mason, que já havia sido alvo de um disparo fracassado de mísseis e derrubado projéteis antes na região, para ajudar a operação de resgate.
A região do ataque, 111 km ao norte do estreito de Bab al-Mandab, é uma das mais sensíveis de todo o mar Vermelho por causa da proximidade das costas dominadas pelos houthis. O estreito, cujo nome árabe significativamente se traduz como Portão das Lamentações, tem apenas 26 km de largura, separando o Iêmen de Djibouti.
Por lá passa todo o tráfego marinho entre os mares Vermelho e o Arábico, pelo golfo de Áden. Além das frotas multinacionais, desde o início da guerra os EUA deslocaram para a região um grupo de porta-aviões liderado pelo USS Dwight Eisenhower. Outro grupo, do mais moderno USS Gerald Ford, está próximo a Israel no Mediterrâneo.
O objetivo dos americanos, que também reforçaram suas bases, foi o de dissuadir o Irã de se envolver, ou de usar seus prepostos regionais na guerra contra Tel Aviv. Na prática, deu certo: Teerã negou participar de qualquer ação e o Hezbollah libanês, seu principal aliado, mantém um atrito de intensidade relativamente baixa na fronteira com Israel.
Não que seja algo inócuo: praticamente todo dia morre alguém de algum lado da fronteira. Mas não é nada parecido com uma guerra total aberta numa frente secundária, o que traria problemas para Israel.
O mesmo pode ser dito dos houthis, embora eles tenham capacidade de disrupção de comércio marítimo na região, que já era famosa pela ação de piratas somalis. Com os ataques houthis, que envolveram disparos contra navios comerciais e militares e o sequestro do cargueiro Galaxy Leader numa audaciosa ação com helicóptero, ficou mais caro navegar pelo mar Vermelho.
No mercado de seguro marítimo de Londres, referência no setor, o custo da proteção por sete dias subiu de 0,03% do valor da embarcação para até 0,1% desde o início da guerra. Isso implica dezenas de milhares, quando não centenas de milhares de dólares.
Adicionalmente, os houthis operam um relativamente sofisticado arsenal de mísseis de origem iraniana, e já lançaram modelos balísticos e de cruzeiro, além de drones, contra Eilat. A cidade israelense fica a 1.500 km de suas bases, o que dá a dimensão de suas capacidades. No começo de novembro, um sistema antiaéreo houthi derrubou um drone americano na região.
IGOR GIELOW / Folhapress