BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Lula (PT) retomou nos últimos dias a sua agenda de trabalho, após realizar uma cirurgia no quadril no final de setembro, com reuniões focadas na guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas.
Nesta segunda-feira (16), o presidente teve sua primeira reunião presencial com ministros no Palácio da Alvorada desde que iniciou sua recuperação. O encontro foi com os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Fernando Haddad (Fazenda), além do assessor especial da Presidência Celso Amorim.
Havia ainda a expectativa de que o presidente participasse virtualmente de um evento no Palácio do Planalto para marcar os 20 anos do Programa de Aquisição de Alimentos. Seria a primeira aparição com fala pública de Lula desde a cirurgia, mas o mandatário acabou não participando.
O chefe do Executivo operou no final de setembro o quadril e as pálpebras. Ele seguiu a recomendação médica e ficou duas semanas sem receber visitas na residência oficial da Presidência –apenas o seu chefe de gabinete esteve na residência oficial para colher assinatura de vetos e sanções.
Lula optou por não transmitir o cargo para o vice Geraldo Alckmin (PSB) tanto durante a cirurgia como durante o período de recuperação.
O vice foi escalado para missões que exigiam alta representação do governo, como a viagem para a região Norte afetada pela estiagem. Apesar de não comparecer, Lula quis participar das decisões nesse e em outros assuntos, realizando videoconferências. Nessas transmissões, ele apareceu de óculos escuros.
A agenda de trabalho após a cirurgia foi intensificada com o ataque do grupo terrorista Hamas ao território de Israel, seguida da resposta e declaração de guerra. A sequência de eventos aconteceu no mês em que o Brasil preside o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), o que ampliou os holofotes internacionais sobre a atuação diplomática do país.
O tema tornou-se central e tem consumido os compromissos do mandatário, seja presencialmente ou de forma virtual. Lula tem recebido informações tanto sobre a operação de repatriação dos brasileiros em Israel e na Faixa de Gaza como nas articulações diplomáticas no Conselho de Segurança da ONU.
O presidente ainda realizou telefonemas com líderes de países da região.
Auxiliares de Lula afirmam que ele vai intercalar os compromissos de trabalho com sessões de fisioterapia diária.
Apesar de ter retomado a agenda oficial, Lula ainda não voltará a fazer sua live semanal, o Café com o Presidente. O programa é tradicionalmente realizado às terças. Desde que se submeteu à cirurgia, o mandatário não fez mais nenhuma transmissão do tipo.
O presidente apareceu publicamente apenas por fotos, em duas ocasiões. Sua equipe divulgou imagens das ligações telefônicas com os presidentes de Israel e da Autoridade Nacional Palestina, Isaac Herzog e Mahmoud Abbas, respectivamente.
A repatriação dos cidadãos brasileiros na região tem sido um dos flancos da ação do governo diante do conflito.
Até a próxima quarta (18), terão sido mais de 1.100 resgatados em voos da FAB (Força Área Brasileira).
A principal preocupação é com um grupo de 28 pessoas que está tentando deixar a Faixa de Gaza, mas a fronteira com o Egito permanece fechada para passagem.
As negociações do Brasil envolvem Egito, Israel e Estados Unidos para encontrar uma forma de autorizar a saída deles com segurança. O Brasil também defende o estabelecimento de um corredor humanitário para entrada de ajuda em Gaza.
Milhares de pessoas, incluindo esse grupo brasileiros, continuam encurraladas no território à espera de um acordo para fugir da região rumo ao Egito.
Lula foi operado em 29 de setembro.
Como a Folha de S.Paulo mostrou, as informações relacionadas à saúde do presidente vêm sendo tratadas de forma pouco transparente por seus aliados e equipe, de forma a evitar que se estabeleça uma imagem negativa e de fragilidade do mandatário, de 77 anos.
Lula passou a primeira semana de recuperação realizando os exercícios prescritos por seus fisioterapeutas, com poucas atividades de trabalho. Uma das poucas interrupções nesse processo, nos primeiros dias do pós-operatório, foi para sancionar o projeto de lei com as regras do programa de renegociação de dívidas Desenrola.
MARIANNA HOLANDA E RENATO MACHADO / Folhapress