Guerra nas estrelas? EUA dizem que Rússia tem arma nuclear no espaço

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A Rússia já tem na órbita da Terra o Kosmos 2576, um satélite militar que os Estados Unidos dizem se tratar de uma nova arma antissatélite com potencial de lançamento de armamentos nucleares a partir do espaço.

QUE ARMA É ESSA?

Kosmos 2576 seria “satélite de propósito desconhecido”, classificou a Nasa. A agência espacial dos EUA tornou pública sua classificação para o dispositivo russo, que foi monitorado e teria sido lançado no dia 16 de maio de 2024 pelo foguete Soyuz-2.1a/Fregat da plataforma em Plesetsk, base espacial da Rússia.

Seu objetivo pode ser a destruição de outros satélites. “Parece que o satélite [russo] foi implantado no mesmo plano orbital de um satélite de monitoramento americano”, apontou o pesquisador sênior Pavel Podvig, do Instituto das Nações Unidas para Pesquisas sobre Desarmamento, à rádio estatal americana NPR.

Kosmos estaria “seguindo” um satélite-espião do Exército dos EUA. O USA 314 é parte da série Keyhole 11, de dispositivos de vigilância secretos, e foi lançado originalmente em 2021. Os EUA usam a designação “keyhole” como código para satélites-espiões desde a Guerra Fria.

“Você não consegue realmente implantar um satélite e mantê-lo o tempo todo próximo a outro. Mas eles se movimentam e se aproximam a uma distância relativamente pequena um do outro a cada dia ou outro. A Rússia às vezes declara que estes satélites são ‘inspetores’. Certamente deixa o Exército dos EUA nervoso. É compreensível”, diz Pavel Podvig à NPR.

Distância entre satélites no seu ponto mais próximo é menor do que 50 km. “Eles ainda estão bem distantes, mas para os padrões espaciais, é muito perto”, opinou Pavel, sugerindo que russos usem o Kosmos para, ao menos, monitorar as atividades do Exército dos EUA.

IMBRÓGLIO DIPLOMÁTICO

Denúncia da existência do Kosmos foi feita em 14 de fevereiro pelos EUA. Michael Turner, presidente da Comissão de Inteligência da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, emitiu uma declaração em que advertia sobre “uma séria ameaça à segurança nacional”. Pouco depois, a Casa Branca confirmou que a Rússia estava desenvolvendo uma arma antissatélite de grande potência.

Putin negou no dia 20 de fevereiro. Ele ainda declarou-se “categoricamente contra o uso de armas nucleares no espaço” e clamou que todos os governos ratifiquem os tratados vigentes de desarmamento. Em abril, Japão e EUA apresentaram no Conselho de Segurança da ONU uma proposta de reforço da validade do tratado atual, que proíbe o uso de armas de destruição em massa no espaço. A Rússia o vetou, no entanto, reportou o jornal El País, contradizendo as declarações de seu presidente.

Embaixador americano chamou o Kosmos de “arma contraespacial”. Em uma reunião do CSNU em maio, Robert Wood afirmou que o satélite tinha “a capacidade presumível de atacar outros satélites na órbita mais baixa da Terra”, relatou a NPR. Até então, o Kosmos estaria vazio —sem ogivas, que se saiba. A proximidade dele com a superfície do planeta, contudo, representaria um risco em caso de ativação.

Kosmos não é primeira arma antissatélite. O general Patrick Ryder, porta-voz do Pentágono, afirmou que este lançamento de satélite “possui características semelhantes à implementação anterior de cargas úteis contraespaciais”, que aconteceram em 2019 e 2022. Estas “cargas úteis” podem representar armamentos nucleares levados ao espaço, mas o general não as especificou.

E SE A RÚSSIA DECIDIR DETONAR UMA ARMA NUCLEAR NO ESPAÇO?

Explosão nuclear no espaço poderia ter consequências devastadoras na Terra. Em 1962, os EUA realizaram a operação Starfish Prime, lançando o foguete Thor a 1.500 km do Havaí e explodindo uma bomba de uma megatonelada e meia a 400 km, a mesma distância da Estação Espacial Internacional. O pulso eletromagnético causou apagões e danificou redes elétricas e telefônicas do Havaí, além de inutilizar meia dúzia de satélites e criar um cinturão de radiação ao redor da Terra que levou meses para se dissipar.

Testes nucleares soviéticos no espaço durante a Guerra Fria geraram pulsos de milhões de amperes. Entre 1961 e 1962, uma série de lançamentos sobre o Cazaquistão resultaram em danos a uma central elétrica que abastecia a capital. Se uma ogiva de diversas megatoneladas, como se é capaz de produzir atualmente, explodisse a 200 km da superfície da Terra, o resultado poderia ser catastrófico.

Há mais alvos em 2024. Em 1962, ano dos testes americanos e soviéticos, havia cerca de duas dúzias de satélites artificiais orbitando a Terra, estima o El País. Já atualmente são mais de 10 mil. A maioria deles presta serviços de comunicações civis, meteorologia e GPS. Um ataque nuclear, caso não ferisse alvos na Terra, poderia destruir indiscriminadamente metade desta estrutura —de aliados ou inimigos.

Sentido de armazenar armamento atômico no espaço ainda não está claro. Atacar um alvo terrestre a partir da órbita exige uma espera de horas ou dias para estar dentro do alcance. É mais rápido usar um míssil ou fazer um bombardeio. Além disso, os custos da operação espacial são muito maiores, com dano colateral astronômico diante de uma arma disparada da Terra. Mas estes são os parâmetros conhecidos até o momento.

Redação / Folhapress

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