Gustavo Petro chega cambaleante a seu 1º ano de poder na Colômbia

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Às vésperas de completar um ano na Presidência da Colômbia, Gustavo Petro viu irromper o maior escândalo do seu governo. Nesta quinta-feira (3), o procurador Mario Burgos afirmou que o filho mais velho do presidente, Nicolás, disse em um interrogatório ter recebido dinheiro ilegal para a campanha de 2022 de Petro —inclusive de um ex-narcotraficante.

Petro completará na próxima segunda-feira (7) um ano como o primeiro líder de esquerda da Colômbia. Ele chega a essa marca com uma imagem positiva para 48% da população, segundo pesquisa do Centro Nacional de Consultoria, com margem de erro de 3,4 pontos percentuais. O levantamento, feito com 920 pessoas no final de julho —portanto, antes dos últimos acontecimentos no país— mostra uma sociedade dividida nesse ponto: 45,7% têm uma imagem negativa do presidente.

Fora das ruas, os primeiros movimentos do Legislativo neste segundo semestre desenham novos desafios para os planos do presidente. No dia 20 de julho, o Senado começou seu segundo ano legislativo impondo uma derrota ao governo de Petro ao eleger Iván Name, apoiado pela oposição, para a Presidência da Casa. A senadora Angélica Lozano, nome endossado pelo governo, teve apenas quatro votos a menos.

Ainda não se sabe quais serão as estratégias do presidente para fortalecer a sua coalizão no Senado, mas elas serão essenciais para suas ambições de reformar setores importantes da sociedade colombiana, como o sistema público de saúde, a rede prisional e a aposentadoria. Algumas das reformas, porém, já ruíram, como a trabalhista, que em junho não passou no primeiro debate na Câmara por falta de quórum.

Na ocasião, Petro reconheceu a derrota e culpou “o capital e os meios de comunicação”. Segundo ele, o fracasso “demonstra que a disposição para a paz e o pacto social não existem no poder econômico”.

O Senado, por sua vez, frustrou a tentativa de reformar o sistema político do país —projeto apresentado em setembro do ano passado que instituiria, entre outros pontos, listas fechadas com alternância entre homens e mulheres para o Legislativo, em uma tentativa de fortalecer partidos em vez de indivíduos.

A reforma da saúde, por outro lado, escapou desse destino ao ser aprovada por 10 votos a 8 em seu primeiro debate em uma comissão da Câmara.

Já a “paz total”, termo cunhado pelo presidente para aprofundar a pacificação das guerrilhas do país desarmando por meio de acordos a última delas, a ELN (Exército de Libertação Nacional), voltou a caminhar após um compromisso de cessar-fogo de seis meses firmado no início de junho —meses antes, em janeiro, a ELN havia desmentido um acordo propagandeado pelo governo.

Em outra derrapada na comunicação, Petro precisou se retratar após ter afirmado erroneamente que quatro crianças indígenas haviam sido resgatadas na Amazônia após a queda de um avião —o episódio cinematográfico teria um desfecho positivo 40 dias depois do acidente.

Ainda está incerto, porém, quais serão as consequências das declarações de seu filho sobre o financiamento da campanha de 2022. Assim como aconteceu em outros escândalos, opositores pediram à Comissão de Acusações da Câmara de Representantes uma investigação de Petro. Embora a entidade abrigue 12 petristas contra seis opositores, na última quarta-feira (2) ela passou a ser presidida pelo conservador Wadith Manzur.

Nicolás Petro teve relação tortuosa com o pai antes de delação

Mensageiro da bomba que abateu o governo colombiano na quinta-feira (3), Nicolás, filho mais velho do presidente Gustavo Petro, teve uma relação ambivalente com o pai antes mesmo de se tornar uma peça da investigação que apura se a campanha do líder esquerdista recebeu financiamento ilícito.

Assim como seu pai, Nicolás, 37, nasceu em Ciénaga de Oro, cidade a mais de 500 km da capital, Bogotá, e próxima do Caribe colombiano. Perto dali, ele desabrocharia politicamente em 2018 ao conseguir um cargo na Assembleia do Atlântico. Sua posição na região seria estratégica para a vitória de seu pai, então um senador, anos depois.

Nicolás, formado em direito pela Pontifícia Universidade Bolivariana e mestre em mudanças climáticas pela Universidade Iberoamericana, foi o único dos seis filhos do presidente a herdar a vocação política de seu pai, o que os aproximou na última década.

Nos anos 1980, durante parte da infância de Nicolás, Petro era um militante do Movimento 19 de abril, guerrilha urbana criada após a eleição presidencial de 1970, marcada por acusações de fraude. Em seu livro de memórias, “Una Vida, Muchas Vidas” (Editora Planeta, 2021), o atual presidente relata o momento em que conheceu o seu primogênito, ainda recém-nascido, na prisão La Picota.

“Quando o recebi em meus braços, tive uma sensação profunda. Surpreendeu-me que seu olhar de bebê era muito triste. Foi muito estranho conhecer meu primeiro filho na prisão, sabendo que não voltaria a vê-lo em muito tempo”, escreveu Petro.

Após o período preso, o então guerrilheiro voltou a morar com a família e conseguiu ficar um ano com o filho e a mulher em Bucaramanga, capital do departamento de Santander, no nordeste da Colômbia.

Petro tenta se desvencilhar das polêmicas envolvendo sua família desde que vieram a público. Uma das primeiras ações do presidente foi publicar um comunicado em suas redes sociais pedindo que a Procuradoria-Geral investigasse Nicolás.

“Meu compromisso com a Colômbia é conseguir a paz, e quem quiser interferir nesse propósito ou tirar proveito pessoal disso não cabe no governo, inclusive se são membros da minha família”, disse o presidente colombiano.

Além disso, em entrevista à revista Cambio, Petro afirma que não voltou a se relacionar com Nicolás após o ano em que viveram juntos. “Ele se criou em Córdoba.

Estudou lá. Fez sua universidade. Realmente nunca tivemos a oportunidade de conviver. Não o criei, essa é a realidade”, disse o presidente.

DANIELA ARCANJO / Folhapress

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