PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – A empresa chinesa de comércio agrícola Cofco International está agora “em pé de igualdade” no mercado brasileiro com as líderes Cargill e Bunge, “traders” com sede no Meio-Oeste americano que historicamente fazem a intermediação das exportações do agronegócio no Brasil.
É o que afirma seu vice-presidente, Yunchao Wang, que prepara um salto para o ano que vem, com a abertura de terminal próprio no país. Com investimento de R$ 1,6 bilhão, segundo ele, será o principal do porto de Santos e vai exportar 14 milhões de toneladas por ano, de soja a algodão e café.
“Nosso negócio está crescendo ano após ano”, diz Wang. “E estamos priorizando investimento em geografias e mercados onde vemos oportunidades significativas de crescimento sustentável para os nossos principais produtos, grãos, oleaginosas e açúcar, como o Brasil.”
Ele aponta o país como “fundamental” para a Cofco. “Com nossa presença forte e relacionamentos com os agricultores, reconhecemos o potencial do Brasil como centro agrícola global”, diz. “Estamos ansiosos para apoiar negócios e agricultura sustentáveis.”
A estatal chinesa chegou ao Brasil há uma década e, dois anos depois, adquiriu a Noble Agri, acelerando sua expansão. “Agora empregamos mais de 7.200 pessoas no país, a maioria de nossos funcionários globais”, diz Wang.
Subsidiária no exterior da corporação de mesmo nome, a Cofco International tem 11 mil funcionários e atua em 36 países. “Exportamos para a China e para quase todos os continentes, Américas, Europa, África”, acrescenta.
Segundo o mais recente ranking anual do jornal Valor, divulgado em agosto de 2023, a Cofco já era a 18ª maior empresa em receita no Brasil. A Cargill era a 9ª, e a Bunge, 14ª. Na edição anterior, a empresa chinesa não aparecia entre as mil maiores no país.
Em evolução “gradual” de suas operações brasileiras, segundo Wang, ela segue comprando soja e milho em volumes elevados, além de cultivar cana-de-açúcar. “Também desenvolvemos a nossa planta de processo em Rondonópolis [MT], que produz 1,3 milhão de toneladas de soja e 350 mil de biodiesel, por ano.”
A usina mato-grossense está ligada a Santos por ferrovia, enquanto um oleoduto conecta distribuidores de biodiesel próximos. Questionado se poderia exportar também através do porto de Chancay, no Peru, investimento de outra estatal chinesa, a Cosco, Wang respondeu que não.
Brasília vem negociando com Pequim como viabilizar uma ligação ferroviária de Rondonópolis até o novo porto, no Oceano Pacífico, em obra que seria realizada no âmbito da Iniciativa Cinturão e Rota –o programa chinês de infraestrutura pelo mundo, do qual o Brasil ainda não faz parte.
“Na verdade, nossa atenção está concentrada nos investimentos no porto de Santos, que são essenciais para o nosso negócio”, diz o executivo, acrescentando porém, sobre Chanqay, que “todo investimento em infraestrutura pode permitir a ampliação do comércio de commodities e beneficia a região”.
Questionado sobre outros investimentos da empresa no país, além de Santos, citou melhorias no moinho de Catanduva (SP), como o investimento de R$ 350 milhões em uma nova caldeira, e na infraestrutura de transporte para ligar a unidade ao porto.
Junto com o novo terminal, outro foco de atenção da empresa no Brasil seria “elevar os padrões sociais, ambientais e de rastreabilidade entre os fornecedores de soja”, diz ele.
Em junho, o primeiro cargueiro da Cofco carregado com soja brasileira “livre de desmatamento” chegou ao porto de Tianjin, saudado por vídeos em mídia chinesa como “um passo na direção de práticas sustentáveis”, pois sua produção “não causa mudança nos ecossistemas naturais”.
Wang diz que a promessa da empresa é uma cadeia de suprimento de soja “livre de desmatamento” até o ano que vem e “livre de conversão” até 2030. Antes, vai buscar se adaptar à regulação de desmatamento da União Europeia para soja com uma cadeia de suprimentos “segregada” desde a origem.
Guilherme Bastos, coordenador do Centro de Estudos do Agronegócio da FGV e ex-presidente da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), vê o esforço da Cofco por soja livre de desmatamento como “mais marketing do que efetivo, neste primeiro momento, porque, no volume que eles querem, vão acabar comprando” sem maiores restrições.
Confirma que “a Cofco realmente avançou em termos de estrutura logística e de sua capacidade de comprar grãos no Brasil”, passando a figurar entre as grandes do mercado. “Ela tem um cliente preferencial, que é a própria China”, argumenta.
Ele lembra que, quando foi autorizada a exportação de milho para a China, fenômeno recente do agro brasileiro, “a Cofco foi a primeira a fazer o embarque, porque as outras traders ainda tinham receio de que houvesse algum tipo de intercorrência no processo”.
O poder da empresa no setor se evidenciou, acrescenta Bastos, “recentemente com a questão do PIS/Cofins, quando a Cofco, na verdade, travou todo o mercado”. O trecho da medida provisória que retirava a isenção, afetando contratos vinculados à exportação, acabou caindo.
Wang, ao final de sua entrevista, afirmou que “gostaria de destacar a importância estratégica do Brasil nos nossos negócios”. Maior produtor e exportador de soja, o país “é a origem da maioria de nossas commodities, e é o país onde operamos nossas próprias plantações e usinas de cana-de-açúcar”.
RAIO-X | Cofco Internacional
Funcionários: 11 mil funcionários, 7,2 mil no Brasil
Países em que atua: 36
Receita operacional líquida: R$ 72 bilhões (2023)
Lucro líquido: R$ 392 milhões (2023)
NELSON DE SÁ / Folhapress