Haddad anuncia bloqueio de R$ 5 bi no orçamento, disputa entre a União Europeia e o agronegócio brasileiro e o que importa no mercado

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Haddad corta, mas pacote mesmo fica para a semana que vem, novos capítulos na disputa entre a União Europeia e o agronegócio brasileiro e outros destaques do mercado nesta sexta-feira (22).

**HADDAD FECHA A MÃO**

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na quinta-feira um bloqueio de cerca de R$ 5 bilhões no Orçamento da União de 2024. Ele afirma ser o suficiente.

↳ Esse valor soma-se aos R$ 13,3 bilhões já travados no orçamento deste ano.

ENTENDA

O corte é mais uma medida para tentar cumprir a meta estabelecida para a dívida pública em 2024. No início do ano, a ideia era chegar no déficit zero, ou seja, igualar as receitas e as despesas do Governo Federal.

O consenso do mercado é que não vai rolar. Por agora, o ideal é chegar o mais perto possível disso, e o zero fica para o ano que vem.

E O PACOTE?

O já discutido plano para contenção de gastos de 2025 ficou para a semana que vem. Pelo o que já se sabe, as medidas do dito pacote devem ter um impacto de cerca de R$ 70 bilhões nas contas públicas nos próximos dois anos.

Em 2025, o alívio seria de R$ 30 bilhões, e em 2026, R$ 40 bilhões.

MÍNIMO

Para chegar lá, o governo deve limitar o ganho real do salário mínimo. Pela regra atual, ele teria reajuste 3,3% mais a inflação em 2025, seguindo o desempenho do PIB. Isso poderia pressionar o orçamento e obrigar a redução de outras despesas.

↳ A medida sozinha pode economizar R$ 11 bilhões até 2026 nos cofres públicos.

LUPA NA PREVIDÊNCIA

As ferramentas antifraude nos benefícios sociais, sobretudo as da Previdência Social e do BPC, devem ser fortalecidas.A pasta não deve desvincular o salário mínimo dos benefícios sociais.

SEM RESERVA

O governo pretende incluir no plano de ajuste fiscal a criação da idade mínima de 55 anos para militares passarem para a reserva, além de outras medidas voltadas às Forças Armadas.

**PARA FRANCÊS É MAIS CARO**

Nesta quarta-feira (20), o presidente mundial do Carrefour, Alexandre Bompard, escreveu em sua conta no Instagram que a rede francesa não vai mais vender carne produzida em países do Mercosul.

“Em solidariedade ao mundo agrícola, o Carrefour se compromete a não vender carne do Mercosul”, escreve o Bompard.

O movimento é mais capítulo de um embate entre europeus e brasileiros, numa batalha algumas versões e vários interesses.

“Me parece uma ação orquestrada das companhias francesas (…) de forma a ferir a soberania, desrespeitando a nossa produção, que é sustentável”, disse Carlos Fávaro, ministro da Agricultura.

“As declarações são infelizes e infundadas”, publicou a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).

VOLTOU ATRÁS

O supermercado informou que a decisão anunciada por Bompard só vale para as lojas da rede na França.

Há dois temas que você precisa conhecer para entender o cenário por trás dessas declarações.

[1] Mercosul + União Europeia. Os dois blocos econômicos negociam há pelo menos vinte anos um acordo, que nunca saiu do papel. O assunto voltou à tona na última semana com a presença de Emmanuel Macron no Brasil para a cúpula do G20.

O país é um dos mais vocais críticos ao acordo. Os agricultores de lá protestaram contra a parceria, que segundo eles, geraria uma concorrência desleal, já produtores da América do Sul têm preços mais competitivos.

Carrefour e Danone são dois exemplos de grandes empresas francesas contrárias ao acordo com o Mercosul.

Em outubro, Juergen Esser, CFO da Danone, disse que o grupo só adquire “produtos sustentáveis” e não consome soja do Brasil.

Silvia Dávila, presidente da empresa na América Latina, apaziguou os ânimos e disse não haver “medidas restritivas à compra da soja brasileira”.

[2] De olho no desmatamento. Uma legislação aprovado na União Europeia prevê restrições à importação de produtos que não cumpram regras definidas para restringir o desmatamento em áreas como a Amazônia e o Pantanal.

Por um lado, é uma prova do compromisso da União Europeia com medidas que protegem o meio ambiente.

Por outro, cria restrições a importações de produtos que são fornecidos com preços melhores por países como o Brasil.

CAFÉ, SOJA E CARNE…

Serão as commodities mais impactadas pela medida no Brasil. Países da Europa estão entre os principais compradores desses produtos.

“Consideramos um instrumento unilateral e punitivo que ignora as leis nacionais sobre combate ao desmatamento”, escreveram os ministros Carlos Fávaro e Mauro Vieira, da Agricultura e das Relações Exteriores em carta à UE.

**FOGUETE NÃO TEM RÉ… OU TEM?**

Mais uma temporada de balanços trimestrais das empresas, mais um resultado impressionante da Nvidia.

US$ 35,08 bilhões (R$ 204 bilhões) foi a receita, 17% maior que a do trimestre passado e 94% maior que a do mesmo período de 2023.

US$ 19,3 bilhões foi o lucro reportado (algo como R$ 112,3 bilhões).

Os resultados são bons porque…a Nvidia tem sido a maior beneficiária do crescimento da inteligência artificial no mercado de tecnologia.

A companhia vende chips que permitem agregar IA generativa em diferentes máquinas. Você pode entender mais sobre essa tecnologia aqui.

Com o aumento das vendas e os bons resultados trimestrais, o valor das ações na bolsa de Nova York subiu 138% em um ano.

SIM, MAS…

O balanço atual decepcionou ao prever crescimento mais lento no próximo trimestre. As ações chegaram a cair 5% nas negociações da quarta-feira, e terminou o pregão regular com uma queda de 0,8%.

A gigante da tecnologia justifica a possível desaceleração dos resultados em razão de investimentos em sua linha de chips de IA, que devem pressionar a margem de lucro.

69,5% é o crescimento previsto para o quarto trimestre de 2024.

EXPECTATIVAS

A maior parte do mercado aposta na continuidade da valorização das ações da empresa, apesar da desaceleração dos resultados futuros –no momento, não há motivos para acreditar que a expansão da Inteligência Artificial perderá tração.

**PARA ASSISTIR**

“Industry”.

Max (ex-HBO Max), três temporadas, 24 episódios.

Se você fantasia com a ideia de trabalhar no caos da compra e venda de ações do mercado financeiro, vai se divertir maratonando a série Industry.

Com três temporadas disponíveis para assistir na plataforma Max (ex-HBO), a série conta a história de de jovens que disputam vagas no maior banco de investimentos de Londres (pense em algo como J.P. Morgan e você estará no caminho certo).

Os trainees têm origens, hábitos e objetivos diferentes, mas não hesitam em derrubar uns aos outros para chamar a atenção de clientes e acionistas. É uma boa pedida para quem está órfão após o fim de Succession, no ano passado.

Se prepare para ouvir todos os jargões da Faria Lima: short, bull market, treasuries, bonds, etc. E para descobrir mil e uma formas de sabotar seus colegas de trabalho. Bom final de semana!

**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**

PETROBRAS

Petrobras anuncia mais R$ 20 bilhões em dividendos extraordinários a acionistas. Valor havia sido retido no início do ano em crise que culminou com demissão de Jean Paul Prates.

123MILHAS

Ex-funcionários da 123milhas têm até o dia 26 para pedir dinheiro da demissão. Lista aponta R$ 14,5 milhões em verbas devidas a demitidos, mas não traz trabalhadores que foram à Justiça.

TECNOLOGIA

Governo dos EUA oficializa pedido de separação entre Google e Chrome. Departamento de Justiça exige separação dos negócios; juiz deve decidir em agosto de 2025.

LUANA FRANZÃO / Folhapress

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