BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira (11) que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez ajustes no conjunto de medidas de corte de gastos, mas negou que o pacote tenha sido desidratado durante as discussões com outros ministérios.
“Teve ajustes. Teve aperfeiçoamentos incorporados, sim, mas eu não chamaria de desidratação. Pelo contrário, acho que tornam as medidas mais compreensíveis, mais palatáveis. Nós entendemos que o processo foi muito benéfico”, afirmou.
Segundo o chefe da equipe econômica, o governo aguarda até quarta-feira (13) o posicionamento de uma pasta incluída no “esforço fiscal” a pedido de Lula.
“Eu não vou adiantar [qual pasta] porque eu não sei se o ministério vai ter tempo hábil de incorporar o pedido dele. Mas acredito que vai haver boa vontade para a gente incorporar uma medida a mais”, disse.
A reportagem apurou que o ministro chamado para participar da discussão sobre os cortes é José Múcio, da Defesa. Integrantes da equipe econômica, como a ministra Simone Tebet (Planejamento), já afirmaram que medidas de redução de despesas na previdência dos militares das Forças Armadas estavam em estudo no governo.
Haddad disse que foram concluídos no fim de semana, em encontro com Lula fora da agenda no Palácio da Alvorada, todos os detalhes com os ministérios que participaram do debate até agora -Trabalho, Previdência, Desenvolvimento Social, Saúde e Educação.
“Dos ministérios que estavam na mesa durante essa semana passada toda, nós já concluímos os debates. Os atos já estão sendo feitos e encaminhados para Casa Civil, do ponto de vista formal”, afirmou.
Haddad deu entrevista a jornalistas ao deixar a sede do Ministério da Fazenda depois de ter se reunido com o chefe do Executivo no Palácio do Planalto. O titular da Fazenda afirmou também que um novo encontro com Lula está marcado para esta terça-feira (12) para tratar dos “encaminhamentos” com o Congresso Nacional.
Na semana passada, Haddad disse que “provavelmente” haveria uma apresentação prévia das medidas ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e ao presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
O encontro entre Lula e Haddad desta segunda não estava previsto na agenda. Foi a primeira vez que o chefe da equipe econômica conseguiu se reunir a sós com o presidente da República após uma série de reuniões com a participação de outros membros da JEO (Junta de Execução Orçamentária) e com titulares das pastas que podem ser atingidas pelos cortes.
Interlocutores no Palácio do Planalto apontam que não há mais necessidade de grandes reuniões com os ministros das áreas sociais e que a decisão agora depende exclusivamente do presidente Lula.
Questionado sobre a data do anúncio, Haddad disse que o calendário é de Lula e que não tem controle sobre o prazo.
As discussões sobre o conjunto de medidas para o ajuste fiscal chegaram à terceira semana. A ideia é anunciar o pacote antes do embarque de Lula para o Rio de Janeiro, no fim desta semana, para os eventos relacionados com a cúpula do G20 -o Brasil ocupa a presidência do bloco e vai sediar a cúpula de chefes de Estado.
O governo alimentou nos últimos dias a expectativa do anúncio do pacote de corte de gastos. A ansiedade foi reforçada na última segunda-feira (4), quando o próprio Haddad indicou que as medidas deveriam ser apresentadas ainda na semana passada.
Os dias seguintes foram marcados por uma série de reuniões para discutir as propostas. Participaram do debate os ministros Wellington Dias (Desenvolvimento Social), Nísia Trindade (Saúde), Camilo Santana (Educação), Luiz Marinho (Trabalho e Emprego), Carlos Lupi (Previdência) e o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços).
A semana passada, no entanto, terminou com uma grande reunião no Planalto na sexta-feira (8), sem nenhuma medida concreta tornada pública.
Questionado sobre a decisão do PT de endossar um manifesto de movimentos sociais a respeito do corte de gastos em análise pelo governo federal, Haddad minimizou.
“Nós estamos vivendo numa democracia, felizmente, é natural que haja o debate. Nós estamos muito seguros do que nós estamos fazendo. É para o bem dos trabalhadores. Controlar a inflação é parte do nosso trabalho. Manter a atividade econômica é parte do nosso trabalho. É um equilíbrio entre variáveis importantes para todos os brasileiros”, disse o ministro.
NATHALIA GARCIA, RENATO MACHADO E CATIA SEABRA / Folhapress