SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O fim de semana em São Paulo foi recheado de fantasias e doces em celebrações antecipadas do Halloween, festa que é comemorada na terça-feira (31) especialmente em países anglófonos.
Na sexta-feira (27), a escola de samba Rosas de Ouro realizou o ensaio do Halloween da Roseira. O evento foi criado em 2014 para atrair o público, já que, em outubro, os ensaios das escolas de samba paulistanas costumam ficar mais vazios.
Segundo a escola, a festa é um sucesso: desde que nasceu, só não foi realizado entre 2020 e 2021, em razão da pandemia de Covid-19.
O condomínio de casas Chácara do Pássaros, em São Bernardo do Campo, na região metropolitana, teve saídas para pedir doces e campeonato de decoração entre as casas.
Segundo a síndica Pamela Brusco, a motivação para organizar o evento, que conta com instrutores fantasiados e segurança reforçada, é a união das famílias e vizinhos para uma noite especial.
Aos que preferem não participar, basta deixar a arandela desligada. Quem mantém acesa recebe uma multidão de crianças e adultos à porta.
Funcionários da padaria Maria Lisboa, no bairro da Vila Ré, na zona leste, fantasiaram-se para atender clientes nos finais de semana de outubro.
Até o Metrô de São Paulo entrou na celebração. Na tarde de segunda-feira (30), a companhia de transporte público organizou um ponto de maquiagem de Halloween na estação Sé, na conexão entre as linhas 1-azul e 3-vermelha.
No Tatuapé, o shopping Anália Franco recebe, desde sexta-feira, desfiles de um navio fantasma, que circula pelos corredores às 16h e às 19h. Além dos piratas, o shopping tem espaços instagramáveis temáticos do Halloween. O evento continua até terça-feira.
Segundo Marcelle Naguib, gerente de marketing do shopping, o crescimento da comemoração a cada ano motiva o preparo de eventos como esse, com entretenimento temático.
Apesar do crescimento no Brasil, a tradição do Halloween é distante da cultura brasileira.
Segundo a escritora e tradutora literária Carol Chiovatto, as celebrações do Halloween nasceram de um conjunto de fatores.
Os povos celtas que habitavam as Ilhas Britânicas celebravam o festival de Samhain no dia 1º de novembro. Ele representava o fim do período das colheitas, o início do inverno e de um novo ano.
“Nessa noite, eles acreditavam que o véu entre o mundo dos mortos e o mundo dos vivos abaixava. Para apaziguar os espíritos, era preciso fazer oferendas de comida, acender fogueiras. Esse festival poderia ter vários formatos, já que os povos celtas eram diversos”, afirma Chiovatto.
No século 7, o papa Bonifácio 4º passou o Dia de Todos os Santos, que antes era comemorado no dia 13 de maio, para 1º de novembro, no que seria uma tentativa de suplantar a festa pagã, segundo a Enciclopédia Britannica.
“No conceito católico, os únicos mortos dignos de culto eram o santos. É uma heresia dentro da visão católica achar que um espírito poderia circular na Terra. Ou ele vai pro céu, ou ele vai pro inferno”, diz Chiovatto.
Com o tempo, as tradições pagãs e cristãs se misturaram. No século 16, as reformas que cindiram a Igreja Católica na Europa fizeram com que protestantes deixassem de comemorar a data. Ainda assim, ela continuou a ser festejada.
Cerca de 200 anos depois, quando a imigração europeia para os Estados Unidos se intensificou, a tradição foi carregada para América do Norte, especialmente pelos irlandeses. Ali, a festa cresceu e se tornou o que é hoje.
Para o escritor e professor Franthiesco Ballerini, o crescimento do Halloween no Brasil é explicado pela influência dos Estados Unidos, especialmente através de sua indústria cultural, que reproduz a celebração em filmes, séries e clipes musicais difundidos por todo o mundo.
“Na minha visão, indiretamente, o Halloween entra como uma espécie de ‘american way of life’, que não se resume apenas nos produtos que surgem nos anos 40 e 50, mas em todo o modo de vida americano”, diz.
BUSCAS NO GOOGLE HALLOWEEN
Na comparação entre 2006 e 2022, o interesse de busca pelo Halloween cresceu 84% no Brasil. O pico foi atingido entre 2021 e 2022.
Os dados são do Google Trends, ferramenta usada para examinar o volume de pesquisas por termos no buscador. Os números indicam a popularidade digital deles.
O índice alto em 2004 e 2005 se justifica pelo baixo volume geral de pesquisas naquela época em relação ao volume dos últimos anos. Neste ano, o interesse continua alto, com índice de 8,5 mesmo antes da data comemorativa
EDUARDO MARINI / Folhapress