SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Exército de Israel anunciou neste domingo (5) o fechamento da passagem de Kerem Shalom, que dá acesso à Faixa de Gaza e por onde passa ajuda humanitária, depois de o local sofrer um ataque com foguetes lançados pelo Hamas. O episódio ocorre em meio às negociações por um cessar-fogo da guerra em Gaza, sob mediação internacional, no Cairo, e deve dificultar ainda mais o diálogo.
Segundo o Times of Israel, ao menos 7 pessoas ficaram feridas, algumas em estado grave. As passagens de Rafah e de Erez, recentemente reaberta, permaneciam funcionando.
“Cerca de dez projéteis foram disparados de uma área adjacente [à cidade de] Rafah em direção à área de Kerem Shalom. A passagem da fronteira de Kerem Shalom está atualmente fechada para caminhões de ajuda humanitária”, afirmou o Exército em comunicado.
O braço armado do Hamas disse ter disparado foguetes contra uma base do Exército israelense perto de Kerem Shalom, mas não confirmou de onde fez o lançamento. Segundo o grupo, a passagem não era o alvo. Israel tem afirmado que vai invadir Rafah por terra para combater as forças do grupo terrorista, mas enfrenta pressão internacional para desistir da investida.
Pouco depois do ataque do Hamas, um ataque aéreo israelense atingiu uma casa em Rafah, matando três pessoas e ferindo várias, de acordo com médicos palestinos.
O Exército de Israel confirmou o contra-ataque, dizendo que o alvo atingido foi do local em que partiram os projéteis que atingiram Kerem Shalom, além de uma “estrutura militar” próxima.
“Os lançamentos realizados pelo Hamas perto da passagem de Rafah são um exemplo claro da exploração sistemática de instalações e espaços humanitários pela organização terrorista, e do seu uso contínuo da população civil de Gaza como escudos humanos”, afirmou. O Hamas nega as acusações de usar civis como escudos humanos.
O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, acusou o Hamas de mostrar sinais de não levar a sério a negociação e disse que, se for o caso, Israel lançaria ações militares em Rafah e em outras partes da Faixa de Gaza “num futuro muito próximo”.
Para chegar a um acordo, o Hamas exige que a guerra termine em troca da libertação de reféns. O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, porém, já se pronunciou dizendo que não “não pode aceitar” as exigências.
“Quando Israel mostra sua boa vontade, o Hamas persiste nas suas posições extremas, entre as quais se destaca a sua exigência de retirada das nossas forças da Faixa de Gaza”, disse Netanyahu em uma reunião de gabinete.
A reunião no Cairo para chegar a uma trégua entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza terminou neste domingo sem progressos concretos. O diretor da CIA, William Burns, está viajando para Doha para realizar uma reunião de emergência com o primeiro-ministro do Qatar, disse neste domingo uma autoridade envolvida com as negociações.
A delegação do Hamas deve deixar o Cairo no domingo à noite, após o final da última rodada de negociações, com a intenção de fazer outra reunião interna.
Neste domingo, o chefe da Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA), Phillippe Lazzarini, afirmou que as autoridades israelenses o impediram de entrar em Gaza pela segunda vez desde o início da guerra em 7 de outubro.
“As autoridades israelenses seguem negando o acesso humanitário para as Nações Unidas”, escreveu Lazzarini na plataforma X, antigo Twitter.
Desde o início do conflito, Israel autorizou a passagem de pouco mais de 20 mil caminhões com ajuda humanitária para Gaza, segundo a UNRWA, agência da ONU para refugiados palestinos uma média de 119 por dia pelas duas passagens no sul que estavam abertas (Rafah e Kerem Shalom). Cerca de três quartos desses caminhões levavam comida, e os demais transportavam materiais médicos, de abrigo (como tendas), alimentos para animais e peças de reposição para máquinas.
A situação humanitária na região desperta preocupação de organismos internacionais. Um estudo da Oxfam publicado no início de abril apontou que as pessoas no norte de Gaza têm sido forçadas a sobreviver com uma média de 245 calorias por dia. Isso representa menos de 12% da ingestão diária recomendada de 2.100 calorias por pessoa.
No final de março, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) ordenou que Israel tome todas as medidas necessárias para garantir o fornecimento de alimentos básicos à população na Faixa de Gaza.
Para levar mantimentos ao território palestino é preciso seguir uma série de regras impostas por Israel. Tel Aviv tem sido acusada de usar a burocracia para dificultar o fornecimento de ajuda a Gaza. Israel nega e afirma que a intenção do controle é evitar que materiais entregues possam ter uso militar pelo Hamas.
Redação / Folhapress