SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O que pode ter de tão especial e satisfatório na lavagem de um cabelo? Em um “head spa”, parece que muita coisa. O termo se refere a um spa para cabeça, em que o foco está em massagens do pescoço para cima. Esse tipo de procedimento viralizou no TikTok e está se espalhando aos poucos pelo Brasil.
Deitada em uma maca, a pessoa recebe um tratamento de spa, a diferença é que a cabeça fica em um lavatório enquanto a água jorra em seus cabelos. Em vez de massagens e drenagem pelo corpo, ela as recebe no rosto, no pescoço e principalmente no couro cabeludo. O ícone principal é a mangueira dourada curvada, de onde saem jatos leves de água sobre a cabeça da cliente, dando a sensação de estar submersa.
A técnica surgiu no Japão e é popular em outros países da Ásia, como China e Coreia. A técnica consiste em massagens no couro cabeludo que se uniram a aromaterapia e uma ambientação relaxante em prol do bem-estar da cliente.
Mas, para a tricologista Marina Bringhenti, o nome virou “modinha” e nada mais é do que a terapia capilar que existe há muitos anos. Além das massagens cranianas, a terapia capilar também busca tratar patologias e disfunções como caspa, excesso de oleosidade, queda, dermatite e inflamação do couro cabeludo.
“O terapeuta trata a saúde do couro cabeludo e do fio, ao mesmo tempo que trata a face e as emoções do paciente, porque geralmente o profissional usa óleos vegetais essenciais -que são medicamentos naturais que tratam a pele”, diz Bringhenti, que é educadora global da Ecosmetics. “Quando a pessoa inala esse óleo, ele trabalha as emoções, trata estresse e ansiedade.”
Um dos benefícios da prática, para além do relaxamento e sensação de bem-estar, é a atenção com o couro cabeludo “A maioria das mulheres só se preocupa com os fios de cabelo, mas não lembra que o couro cabeludo precisa de cuidado”, diz a tricologista. Segundo ela, o estímulo na região também pode ajudar no crescimento dos fios.
Quando a médica dermatologista Maria Angélica Muricy idealizou o Head & Hair Spa, em 2017, ela não sabia que já existiam coisas similares por aí. Especialista em transplante de cabelo, Muricy sempre fazia tratamentos com foco no couro cabeludo até unir suas técnicas em um mesmo espaço, aberto em 2019. Ela diz que ele é para uma pessoa “que queira relaxar e experimentar um processo de bem-estar”.
“É um ambiente de spa, com água, fonte, silêncio, aromaterapia, pensando no spa com massagem corporal, mas com foco no cabelo”, diz a dermatologista. Para o seu espaço, trouxe um lavatório japonês, que se inclina em 180º e tem ergonomia.
Ela queria trazer também uma espécie de shiatsu -técnica de massagem japonesa que aplica pressão em pontos de energia do corpo. A sessão do “head spa” inclui toalha quente, massagem, aromaterapia e a água caindo na cabeça.
Ela lista alguns dos benefícios que a prática trás: momento de autocuidado, momento de desconexão, redução de estresse, enxaqueca e tensão cervical. Mas o foco do lugar continua sendo os fios.
“Quando fala de spa de cabelo as pessoas pensam num salão e para nós é um desafio explicar que o Mariá não é um cabeleireiro”, diz. Isso porque todo ritual tem lavagem de cabelo, com shampoos e máscaras de uma linha própria de cosméticos.
É algo que Laís Teixeira de Oliveira, 22, e Carla Almeida Teixeira, 53, também tentam deixar claro para as clientes do Zenith Spa. Mãe e filha criaram o espaço em fevereiro deste ano. Carla sempre trabalhou com técnicas da medicina chinesa e Laís, engenheira de produção, tem foco na experiência do cliente.
Laís se inspirou nos vídeos que via no TikTok para criar o Zenith, uma vez que sua mãe já trabalhava com massagem craniana, técnica de compressão e o tui na –técnica de massagem que visa equilíbrio do fluxo de energia. E foi na rede social que o espaço também viralizou, chegando a ter uma lista de espera de 150 pessoas e agenda só para julho.
Não é muito difícil dormir durante o procedimento, com água quente, massagem, máscara facial e aromas. “Tira a pessoa da rotina dela”, diz Carla. “O head spa é algo realmente voltado para o cabelo, mas eu queria uma espécie de terapia”, complementa Laís.
Elas trabalham com anamnese, fazem uma ficha para os clientes responderem se tem algum sintoma que podem trabalhar, como ansiedade, e utilizam óleos essenciais e massagens em pontos específicos.
Muito diferente de um salão, o ambiente é calmo, com uma iluminação baixa, voltado para o cuidado com a pessoa.
Tendo isso em mente, as cacheadas podem se frustrar se forem com altas expectativas de finalização do cabelo, pois o máximo de produto será um leave-in e uma secagem para não sair com o cabelo molhado.
A lavagem dos fios e toda a sessão é feita em uma maca pensada e executada por elas mesmas com a ajuda de familiares, desde a parte de hidráulica até a marcenaria, só a torneira que parece uma coroa é que foi importada. Os produtos de cabelo, para combinar com o propósito do lugar, também são terapêuticos.
VITÓRIA MACEDO / Folhapress