BELÉM, PA (FOLHAPRESS0 – O governador Helder Barbalho (MDB) reafirmou sua força no Pará nesta eleição municipal enquanto mira um projeto político nacional. Ao mesmo tempo, viu a ascensão de um ex-aliado que pode representar uma ameaça à sua liderança.
O MDB elegeu 82 prefeitos no primeiro turno no estado e levou candidatos ao segundo turno na primeira e na terceira maiores cidades do estado: Belém e Santarém. O desempenho foi melhor do que em 2020, quando o partido conseguiu o comando de 61 municípios, embora não tenha alcançado a meta, segundo aliados, de cem prefeituras.
O maior desafio está em Ananindeua, vizinha da capital paraense e segunda maior cidade do estado, onde o prefeito Dr. Daniel (PSB) foi reeleito com 83,48% dos votos válidos.
Daniel e Helder estão rompidos. Nos bastidores, o pessebista tem afirmado que quer ser candidato ao governo do Pará em 2026, provavelmente disputando contra quem for apoiado por Helder.
O segundo turno em Belém servirá de palco para a medição de forças. De um lado, o governador apoia o deputado Igor Normando (MDB), que terminou o primeiro turno com 44,9% dos votos e hoje é favorito a ser prefeito da cidade.
Do outro lado, Doutor Daniel decidiu respaldar a candidatura do bolsonarista Éder Mauro (PL), adversário do emedebista. Ele obteve 31,5 % dos votos na primeira fase do pleito.
Até o início deste ano, Doutor Daniel era um dos principais aliados do governador. Segundo pessoas ligadas a Helder, os dois começaram a ter divergências em 2022, durante a campanha presidencial, mas seguiam unidos. O rompimento ocorreu de fato em abril deste ano, quando Daniel deixou o MDB e se filiou ao PSB.
O principal motivo foi a escolha do candidato a vice-prefeito. Pessoas próximas do prefeito de Ananindeua relatam que Helder queria um aliado dele no cargo, enquanto Daniel preferia outro nome.
A avaliação é de que o emedebista queria ter proeminência sobre o número 2 da cidade para o caso de o número 1 deixar a prefeitura para disputar o governo.
Essa hipótese incomodou Daniel, que preferiu deixar o partido e lançar Ed Wilson (Solidariedade) como seu vice. Helder, contrariado, apoiou um adversário dele no município, Antonio Doido (MDB), que acabou a disputa com 8,4% dos votos.
Em 2020, Doutor Daniel foi eleito com 67% dos votos e apoio de Helder. O governador também respaldou o nome da mulher do prefeito, Alessandra Haber, para se candidatar a uma vaga na Câmara dos Deputados.
Alessandra acabou como a mais votada do estado, superando inclusive a mãe do governador, Elcione Barbalho. Aliados de Daniel dizem que isso incomodou Helder.
Do lado do governador, porém, a leitura é que o emedebista ficou contrariado com a posição do então aliado na disputa presidencial. Helder apoiou o presidente Lula (PT) no segundo turno, e Daniel preferiu não declarar voto.
Em abril, quando deixou o MDB, o prefeito de Ananindeua afirmou à coluna Painel respeitar o trabalho dos Barbalhos. “Respeito o trabalho do governador Helder, agradeço ao presidente do MDB no estado, Jader Filho, pela colaboração de sempre, e, agora no PSB, reafirmo meu compromisso com a continuidade do nosso trabalho em Ananindeua e a abertura permanente ao diálogo”, disse à época.
Neste ano, Daniel teve o apoio do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que gravou vídeos para a campanha. Também teve aliados eleitos em cidades importantes do Pará: Marabá, com delegado Toni Cunha (PL), e Parauapebas, que tem o maior PIB do estado, com Aurelio Goiano (Avante).
A intenção do prefeito é ampliar a influência por outras cidades para se tornar competitivo. Por ora, o plano de Helder é lançar a própria vice-governadora, Hana Ghassan, como sua sucessora em 2026.
O governador tem como ativo a popularidade no Pará. De acordo com pesquisa Quaest, de setembro, Helder é avaliado positivamente por 67% da população do estado.
Por isso, seus aliados acreditam que quando chegar a hora, Daniel pode desistir do projeto estadual por receio de ser derrotado.
Além de ser a segunda maior cidade do estado, Ananindeua é importante para Helder por ser seu domicílio eleitoral e onde ele se catapultou na política. Além de ser herdeiro da família Barbalho, o governador foi eleito o mais jovem prefeito da cidade em 2005, sendo reeleito.
Mais tarde, foi ministro de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), até ser eleito governador, em 2018.
Como uma das lideranças do MDB e ascendência sobre parte da bancada de parlamentares do partido, Helder buscou se cacifar nacionalmente. Indicou o irmão Jader Barbalho Filho para ministro das Cidades de Lula e também convenceu o presidente a escolher Belém como a sede da COP30, conferência climática das Nações Unidas, no ano que vem.
Helder diz a aliados que seu objetivo é tentar ser vice-presidente numa chapa encabeçada por Lula em 2026. Se este plano não der certo, já indicou o desejo de disputar o Senado e tentar comandar a Casa caso seja eleito.
Segundo integrantes do governo, a força de Helder no estado o coloca em boa posição para pleitear ambos os cargos. O problema, avaliam, será ele manter essa proeminência no Pará. O único capaz de ameaçá-lo no estado, acreditam tanto adversários como aliados de Helder, é exatamente o Doutor Daniel.
JULIA CHAIB / Folhapress