Helicópteros da polícia do Rio são baleados em operação para prender assassinos de médicos

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Dois helicópteros da polícia do Rio de Janeiro foram atingidos por tiros nesta segunda (9) durante operação em comunidades ligadas ao Comando Vermelho. As aeronaves tiveram que pousar, e um policial civil ficou ferido ao ser atingido por estilhaços. Um dos helicópteros voltou a operar após o ataque, segundo o estado.

As aeronaves sobrevoavam a Vila Cruzeiro, na Penha. O helicóptero da PM foi atingido no vidro da frente, já o da Civil, no tanque de combustível. Os dois pousaram em um terreno que pertence à Marinha, na avenida Brasil. De acordo com o governo do estado, os ferimentos do agente não foram graves.

As polícias Civil e Militar realizam ações simultâneas em diferentes comunidades. O objetivo é cumprir mandados de prisão, entre eles de suspeitos ligados aos assassinatos a tiros de médicos em um quiosque na Barra da Tijuca, zona oeste.

De acordo com o governo do estado, mil policiais atuam na Cidade de Deus, na zona oeste, além do complexo da Penha e da Maré, na zona norte. Na Maré, complexo de 16 favelas, a operação ocorre na Nova Holanda, comunidade visitada pelo ministro Flávio Dino, em março, e no Parque União.

O objetivo é cumprir mais de cem mandados de prisão, de acordo com o secretário de Polícia Civil, José Renato Torres. “O diferencial dessa operação é o emprego de tecnologia, com seis drones, câmeras de reconhecimento facial e de placas de veículos. Tudo ligado em tempo real ao CICC (Centro Integrado de Comando e Controle”, disse. O CICC reúne a cúpula das polícias.

Até o momento, nove suspeitos foram presos -três deles em flagrante e seis eram alvo de mandado de prisão. Foram apreendidos 33 veículos, entre motos e carros, e um fuzil, além de artefatos explosivos, carregadores e munições de diversos calibres.

A arma, os carregadores e parte das drogas apreendidos foram encontrados ao lado da escola municipal vereadora Marielle Franco, na Maré.

Também houve a prisão de um policial militar com cerca 100 kg de cocaína nas proximidades do Complexo da Penha.

A droga estava em um caminhão-baú, monitorado pela Polícia Civil. De acordo com investigadores, Yuri Luiz Desiderati Ribeiro, lotado no 27º BPM (Santa Cruz), pretendia levar a droga para a Penha, mas, por causa da operação, ficou com o veículo parado na avenida Brasil. Um outro suspeito também foi preso.

Ainda segundo policiais, o PM seria um dos homens de confiança de Wilton Quintanilha, o Abelha, apontado como um dos chefes do Comando Vermelho, que tem mandado de prisão. Quintanilha atua nos complexos do Alemão e Penha. A 1ºDPJM (Delegacia de Polícia Judiciária Militar) acompanha a prisão do policial, que foi levado para a Cidade da Polícia, na zona norte da cidade. Até a publicação deste texto, não havia a informação se ele tinha advogado.

Dois laboratórios de entorpecente e de fabricação de artefatos explosivos foram encontrados. Um no Parque União e outro na Nova Holanda; ambas são comunidades da Maré.

O secretário da Polícia Civil afirmou ainda que o setor de inteligência constatou que os alvos da ação na Maré tinham fugido para a Vila Cruzeiro e para Cidade de Deus. Por causa disso, expandiram a operação.

“Foi detectado que os chefes dessa comunidade [da Maré], que pertencem à mesma facção, migraram pesadamente para Vila Cruzeiro e para Cidade de Deus. Por acaso reduto dos marginais que saíram para matar os médicos na Barra da Tijuca”, afirmou.

O secretário da Polícia Militar, Luiz Henrique Marinho Pires, disse que todos os PMs que atuam na Maré utilizam câmeras corporais. No entanto, à tarde, ele recuou da afirmação.

Em entrevista a jornalistas, Marinho Pires disse que tanto os policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais) quanto os agentes civis da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) que estavam na operação ainda não têm o equipamento.

“Existe um cronograma a ser cumprido e ainda não chegou a fazer a instalação nessas duas unidades”, disse o secretário, que afirmou que os equipamentos devem ser instalados até o fim do ano.

Torres também afirmou que os agentes das delegacias da Polícia Civil também não estavam com as câmeras corporais.

“Polícia judiciária no mundo não usa câmera. Você imagina o investigador com a câmera, ele precisa estar passando [informação]. A discussão para gente é a Core. Mas nós estamos seguindo também o cronograma, há uma previsão da chegada e instalação das câmeras só na Core, porque faz um serviço mais operacional.”

“Todos os integrantes dessa facção criminosa são alvos da operação. A atividade de inteligência apontou a migração desses chefes para outras comunidades, então decidimos aumentar o escopo de atuação para a Vila Cruzeiro e Cidade de Deus, não só na Penha”, afirmou Torres.

Moradores relatam tiros na Penha e na Maré, mas não há relatos de feridos.

A Secretaria Municipal de Educação afirmou que, no Complexo da Maré, 44 escolas foram impactadas, afetando 16.138 alunos. Na Vila Cruzeiro, foram 14 unidades escolares (5.143 alunos). Na Cidade de Deus, as unidades de ensino tiveram o horário de entrada adiado. A pasta afirmou que não fechou as escolas, mas muitos alunos faltaram.

MORTE DE MÉDICOS

O crime aconteceu na madrugada da última quinta-feira, em frente ao Windsor Hotel, área nobre do bairro. Toda a ação durou exatos 27 segundos e foi registrada por câmeras de segurança.

Os ortopedistas Marcos de Andrade Corsato, 62, Diego Ralf de Souza Bomfim, 35, Perseu Ribeiro Almeida, 33 e Daniel Sonnewend Proença, 32, aparecem sentados em uma mesa do quiosque quando três homens, vestidos com roupas pretas, descem de um carro branco parado do outro lado da via e começam a atirar no grupo. Somente Proença sobreviveu.

Após balearem os quatro ocupantes da mesa, os criminosos voltam correndo para o veículo e vão embora sem roubar nada.

As imagens mostram também que outros clientes do quiosque testemunharam o ataque e saíram correndo para não serem feridos.

Uma testemunha que estava no local e prestou depoimento afirmou que não houve anúncio de assalto antes dos disparos.

A principal linha de investigação é a de que um dos médicos foi confundido com um miliciano rival ao grupo de atiradores.

Com o erro constatado e a repercussão, os traficantes teriam feito um “tribunal do tráfico”. O chefe do Comando Vermelho na Penha, Edgar Alves, o Doca ou Urso, teria ordenado a morte de todos e avisado a polícia por intermédio de informantes, de acordo com investigadores.

Os corpos foram encontrados na zona oeste.

BRUNA FANTTI E CAMILA ZARUR / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS