SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Mais jovens do que a população geral, os 1.330.186 de quilombolas residentes no Brasil têm um perfil mais masculino na comparação com o registrado no total da população.
Nos territórios oficialmente delimitados, que abrigam 12,6% dos quilombolas no país, essas duas características são acentuadas, com mais homens do que mulheres até a faixa dos 74 anos de idade.
É o que apontam os dados inéditos do Censo Demográfico para esta população tradicional brasileira. Os dados de idade e sexo, coletados em 2022, foram divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta sexta-feira (3) junto com informações sobre os povos indígenas.
O Censo mapeou a população de quilombolas em 1.700 municípios do país, e apontou que o índice de envelhecimento da população geral do Brasil é de 80 isso significa que para 100 pessoas de 14 anos ou menos, há 80 com 60 anos ou mais. Entre quilombolas, esse número cai para 54,98, e dentro dos territórios oficialmente delimitados, para 43,68.
É no Norte do país que a população exibe uma pirâmide etária mais jovem. Em seguida vem o Nordeste. A região tem a maior parcela (68%) dos quilombolas no Brasil e abriga o território mais jovem, São Tomé Açu, no Pará.
Dos 304 residentes na comunidade, 145 (47,7%) têm até 14 anos. Já a comunidade com mais pessoas até 29 anos, idade limite para a classificação de jovem, segundo o IBGE, é Tatituquara, em São Sebastião, também no Pará. Dos 283 residentes, 222 têm até 29 anos.
No outro extremo, a comunidade quilombola no país com perfil mais velho é Tomás Cardoso, em Goiás, com nove de seus 23 residentes com 60 anos ou mais.
Já o recorte de sexo mostra que os quilombolas dentro de territórios oficialmente delimitados representam um quadro similar ao da população preta no país, único grupo a ter mais homens do que mulheres.
Entre quilombolas, a proporção de homens é maior até a faixa dos 24 anos de idade, e nos territórios, essa maioria vai até os 74 anos. No Brasil, como revelou o Censo, os homens são a maior parte da população nas faixas etárias até os 19 anos, e depois são superados pelas mulheres.
A comunidade com perfil mais masculino é São João, em Adrianópolis (PR), formada por 21 homens e 10 mulheres. Já a mais feminina é Areal Luiz da Guaranha, em Porto Alegre (RS), com 134 mulheres entre seus 218 residentes, uma parcela de 61,5%.
Para essas comparações, o IBGE usa a razão de sexo, que calcula quantos homens existem para cada centena de mulheres. Em todo o Brasil, há 94,25 homens a cada cem mulheres. No caso de pessoas pretas, o número sobe para 103,9.
No total de quilombolas, contando quem vive dentro e fora de territórios, são 100,8 homens para cada centena de mulheres. Dentro das comunidades, são 105,89, e fora, 99,27.
Isso pode indicar, segundo o IBGE, que homens jovens quilombolas, especialmente os que vivem dentro de territórios, estão menos expostos a fenômenos que causam a sobremortalidade desse grupo populacional, como a violência. Mas a verificação depende de estudos, afirmam os técnicos.
“Além da gente não ter uma sobremortalidade masculina quando olha para dentro dos territórios, em princípio, podemos ter também, por outro lado, uma migração feminina maior para fora dos territórios, que traz uma diferenciação do perfil de sexo do dentro e fora”, afirma Marta de Oliveira Antunes, responsável pelo Projeto de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE.
Ainda segundo a técnica, pode haver algum tipo de sobremortalidade feminina materna, que ajudaria a explicar a diferença de perfil de sexo dentro e fora das comunidades.
Mas a pirâmide etária para a população quilombola também aponta para uma possível queda gradual de fecundidade, segundo o IBGE, também observada no recorte geral de população há pelo menos três décadas.
Algumas das hipóteses são o aumento da instrução, mas também a ocorrência de uma tendência mundial de postergação da maternidade, ligada ao aumento da inserção de mulheres no mercado de trabalho.
LUCAS LACERDA / Folhapress