Hortência cobra posicionamento do Ministério do Esporte sobre eleições no COB

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em meio a disputa pela presidência do COB (Comitê Olímpico do Brasil) na qual a candidatura à reeleição do atual presidente é contestada por atletas e oposição, a ex-jogadora de basquete e representante da classe no Ministério do Esporte, Hortência Marcari, cobrou do ministro André Fufuca (PP-MA) um posicionamento.

“Acho que é uma entidade importante do esporte brasileiro, como que não se manifesta? Como não se posiciona em um momento tão importante como esse?”, afirma Hortência em entrevista à reportagem.

Atual mandatário do COB, Paulo Wanderley assumiu a presidência pela primeira vez em 2017, após a renúncia de Carlos Arthur Nuzman, que era investigado à época pela PF (Polícia Federal) por suspeita de pagamento de propinas para a escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos em 2016.

Em 2020, Wanderley venceu as eleições, e, no último dia de inscrições para as chapas no pleito deste ano, inscreveu sua candidatura, com Alberto Maciel Júnior como vice.

Associações que reúnem atletas olímpicos, como a Cacob (Comissão de Atletas do Comitê Olímpico do Brasil), da qual Hortência faz parte, se posicionaram contra a candidatura do dirigente, pelo fato de um terceiro mandato ser vedado pelo estatuto do próprio COB e também infringir a Lei Pelé e a Lei Geral dos Esportes.

Conforme o entendimento dos atletas, a candidatura pode acarretar na suspensão do repasse de recursos federais ao comitê olímpico e, consequentemente, às confederações e aos atletas.

Já Wanderley se baseia em um parecer jurídico favorável à sua candidatura encomendado pelo COB, após questionamento recebido do Cacob.

Conforme o parecer, como assumiu a presidência em um mandato tampão após a renúncia de Nuzman, Wanderley ainda tem direito a buscar o que ele entende ser sua primeira reeleição.

Posicionamento do conselho de ética do COB também se mostrou favorável à candidatura à reeleição.

Procurado, o Ministério do Esporte disse apenas ter recebido uma consulta do COB que aborda o processo eleitoral da entidade e está analisando seu conteúdo. “Assim que a análise for concluída, o resultado se tornará público.”

Pareceres do Ministério e da Justiça Federal de casos análogos indicam que a possível reeleição pode causar o bloqueio do financiamento público da entidade, o que a partir de 2025 inclui a arrecadação com bets.

“O COB acabou de ser assinar um contrato de R$ 160 milhões com a Caixa. Se o ministério confirma os pareceres contrários à reeleição, como vem fazendo, o COB corre o risco de perder o patrocínio”, afirma Hortência.

Segundo ela, que também é conselheira do movimento Pacto pelo Esporte, os atletas tentaram nos últimos dias uma reunião com o ministro Fufuca para abordar as eleições no COB, mas até agora não foram recebidos.

“Estamos tendo problemas com a principal entidade do esporte que é o Comitê Olímpico do Brasil, que faz a gestão do esporte nacional, e acho que o Ministério deveria dar seu parecer. Até agora não vimos isso”, afirma a integrante do Hall da Fama do basquete, que ocupou o cargo de diretora de seleções da CBB (Confederação Brasileira de Basketball) entre 2009 e 2013.

“[O ministério] só vai falar depois das eleições? Como assim? Depois pode ser um problema sério”, acrescenta a ex-atleta, que faz referência ao risco de suspensão do repasse de verbas do governo ao COB.

Pelo entendimento de que a candidatura de Wanderley não é legítima, Hortência diz ter a expectativa de que os 19 atletas com direito voto tenham um posicionamento conjunto em favor da candidatura da oposição, formada por Marco La Porta e Yane Marques.

Também votam nas eleições do dia 3 de outubro os 34 presidentes das confederações olímpicas filiadas ao comitê, e os dois membros brasileiros do COI (Comitê Olímpico Internacional) —Andrew Parsons e Bernard Rajzman.

Prata nas Olimpíadas de Atlanta-1996, Hortência diz que a falta de profissionalização do basquete brasileiro impede que o país volte a brigar pelo pódio em uma edição dos Jogos.

A seleção masculina avançou até as quartas de final em Paris, caindo ante os Estados Unidos, enquanto a feminina não se classificou para as duas últimas edições das Olimpíadas.

“Nunca tivemos uma gestão profissional no basquete. Fomos campeãs mundiais (1994), vice-olímpicas, bronze em Sydney-2000, e não souberam aproveitar a oportunidade.”

LUCAS BOMBANA / Folhapress

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