Ícone do teatro, Zé Celso odiava TV e fez só uma novela na carreira

ARACAJU, SE (FOLHAPRESS) – Morto nesta quinta-feira (6) aos 86 anos após um incêndio em sua casa na madrugada da última terça (4) no bairro do Paraíso, zona sul de São Paulo, Zé Celso Martinez sempre foi avesso às novelas e à televisão como um todo. Seu foco no teatro e a anarquia dos palcos nunca combinaram com a TV, na sua visão.

Mas em 2011, Zé Celso colocou em seu currículo a única novela que fez em toda a sua carreira. Ele aceitou um convite para atuar em “Cordel Encantado” (2011), novela das seis da Globo que fez muito sucesso na época. Mas ele quase desistiu da empreitada.

Protagonizada por Cauã Reymond, Bruno Gagliasso e Bianca Bin, com texto Duca Rachid e Thelma Guedes, a trama misturava cangaço e reinos europeus para contar a história da mocinha Açucena (Bianca Bin), filha de um casal que comanda um país distante e que é sequestrada por cangaceiros em uma visita Nordeste do Brasil.

Na trama, Zé Celso interpretou o astrólogo Amadeus, conselheiro do Rei Augusto (Carmo Dalla Vecchia), que previa o destino do nobre e interpretava seus sonhos. Muitas vezes, seu texto era poético e tinha algo próximo ao da linguagem a que estava acostumado. Para gravar as cenas, Zé Celso Martinez tinha todas as despesas pagas pela Globo, que o levava de São Paulo para os Estúdios Globo, no Rio.

Em entrevista na época das gravações, Martinez que no primeiro dia de trabalho, pensou em desistir do convite por odiar a televisão e a linguagem de novela. Quem o convenceu na última hora foi o então diretor de núcleo da produção, Ricardo Waddington.

“Quando cheguei ao aeroporto de Guarulhos, falei ‘não vou mais’. Mas conversei com o diretor (Ricardo Waddington), que me convenceu, e fui”, afirmou. Zé Celso admitia que Cordel Encantado era diferente de outras tramas, que ele considerava mal escritas ou não condizentes com o seu estilo.

“Estou adorando a novela. Só não fiz TV antes porque não tinha tempo, estava em um efeito coelho: produzindo e criando muito!”, brincou, na ocasião. Mesmo elogiado por seu desempenho, Zé Celso não recebeu outros convites para voltar à televisão.

A direção-geral de “Cordel Encantado” foi de Amora Mautner, que nesta quinta (6), na GloboNews, falou de sua genialidade. “Dirigir o Zé Celso foi um grande privilégio”, disse a diretora conhecida por novelas como “Avenida Brasil” (2012). Outros atores do elenco, como Deborah Bloch, também lamentaram sua morte.

GABRIEL VAQUER / Folhapress

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