Impasse entre Petrobras e Gerdau paralisa obras em estaleiro no RS

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Uma das apostas da Petrobras para incentivar a construção naval do Brasil, o desmantelamento de plataformas de petróleo, já enfrenta problemas no primeiro contrato assinado pela gestão petista e complica ainda mais a situação do Estaleiro Rio Grande, em recuperação judicial.

O desmanche da plataforma P-32 foi paralisado em janeiro, depois que trabalhadores encontraram cerca de 500 litros de combustível de navegação e água oleosa na embarcação, iniciando um impasse entre a estatal e a compradora da estrutura, a Gerdau.

Enquanto as duas discutem quem paga a conta para a retirada do óleo, o Estaleiro Rio Grande já demitiu 54 dos cerca de 200 empregados contratados para empreitada, segundo o presidente do sindicato dos metalúrgicos local, Benito de Oliveira.

A reportagem apurou que, além do atraso com a Gerdau, o estaleiro já perdeu três novos contratos de reparo de embarcações, diante da dificuldade de manobra de entrada de navios em seu dique seco.

Benito acrescenta que o impasse põe em risco ainda o segundo contrato de desmantelamento fechado entre Petrobras e siderúrgica, da plataforma P-33, previsto para iniciar neste mês no mesmo estaleiro. “Já estão falando em levar a obra para outro estaleiro”, diz o sindicalista.

O desmantelamento de plataformas que chegaram ao fim de sua vida útil foi apresentado pela Petrobras como uma das grandes oportunidades para a indústria naval brasileira nesta década. A estatal prometeu licitar 26 unidades até 2027.

São obras com menor necessidade de trabalhadores do que a construção de plataformas, mas vistas como um alívio por estaleiros em dificuldades desde a suspensão de encomendas da estatal após a descoberta do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato.

Os dois primeiros contratos, para as plataformas P-32 e P-33, foram fechados em 2023 com a Gerdau, interessada no uso da sucata para produzir aço. Sobrevivendo de reparos de embarcações, o Estaleiro Rio Grande, um dos maiores do país, foi contratado para o serviço.

Oliveira conta que trabalhadores do estaleiro começaram a passar mal no início da obra e, em uma vistoria, foi descoberta a presença de óleo e combustível de navegação na embarcação, o que levou à paralisação das atividades.

A Petrobras diz que, quando a embarcação chegou ao estaleiro, “constatou-se um desalinhamento entre a expectativa da Gerdau e a real condição de limpeza da plataforma, notadamente quanto à presença de resíduo”.

Afirma ainda que as duas partes discutem responsabilidades e providências necessárias para a solução da pendência, “respeitando os requisitos de segurança, legais e ambientais”.

A Gerdau diz que “está atuando incessantemente para retomada total das atividades de desmantelamento, no menor tempo possível, dentro das condições previstas no leilão e, paralelo a isso, executando as atividades possíveis dentro das limitações impostas”.

O Estaleiro Rio Grande não quis comentar o tema. Fontes dizem que a empresa entende que não tem responsabilidade de arcar com os custos da limpeza da plataforma, que demandaria a transferência do óleo para outra embarcação e, posteriormente, seu tratamento.

Ele critica a falta de encomendas no setor, que foi um dos temas da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Lula acusou a Lava Jato de quebrar as empresas e prometeu voltar a contratar nos estaleiros brasileiros.

Até o momento, porém, houve pouco avanço. A Petrobras aprovou a encomenda de quatro navios de pequeno porte, mas o leilão aguarda medidas para garantir que não sejam vencidos por estaleiros estrangeiros.

Os estaleiros em atividade permanecem fazendo módulos para plataformas de petróleo, como já faziam antes do governo PT. O governo discute aumento na política de conteúdo nacional para ampliar esse tipo de encomendas, mas não anunciou medidas.

Oliveira diz que a situação na região de Rio Grande é preocupante. O EBR (Estaleiros do Brasil), na vizinha São José do Norte, finaliza em breve seu último contrato de módulos. Sem nova encomenda, diz o sindicalista, deve demitir cerca de 3.500 trabalhadores.

NICOLA PAMPLONA / Folhapress

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