Incêndio do Joelma, há 50 anos, provocou reforma tardia em normas de segurança

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Não havia sistema de alarme de incêndio nem treinamento para situações de emergência. Portas corta-fogo não eram obrigatórias, as escadarias dos prédios ficavam intransitáveis ao serem atingidas pelo fogo e acabavam servindo de condutoras de calor.

A fiação elétrica não era isolada de materiais inflamáveis, o forro dos pisos entre pavimentos era acarpetado e entrava facilmente em combustão.

Todas essas condições fizeram com que o incêndio no edifício Joelma, há 50 anos, chegasse a proporções trágicas. Em menos de meia hora, o fogo que começou num equipamento de ar condicionado já atingia quatro andares.

O caso serviu para impulsionar uma grande reforma no regulamento de prevenção a incêndios na cidade de São Paulo. Na semana seguinte à tragédia, um decreto municipal estabelecia o primeiro grande conjunto de normas de prevenção a incêndios em edifícios.

A discussão já estava em pauta por causa do caso do edifício Andraus, na avenida São João, que deixou 16 mortos em 1972.

Foi a primeira vez que a legislação exigiu a construção de saídas de emergência, escadas isoladas de incêndio, sinalização e iluminação de rotas de fuga, além de condicionar alvarás e licenças de funcionamento à fiscalização de segurança.

Já a reformulação do Código de Obras, conjunto de normas para as construções da cidade, demorou cerca de um ano para ser feito. O telefone 193 seria criado cinco anos depois da tragédia.

“Foi uma evolução gradual. Partimos de um ponto em que não havia uma regulação, pelo menos do Corpo de Bombeiros, e, a partir dessa catástrofe, passamos a pensar a partir do ponto de vista da prevenção”, diz o capitão André Elias, porta-voz do Corpo de Bombeiros.

“O conceito de segurança é temporal: o que é seguro ontem pode passar a não ser seguro hoje. O Corpo de Bombeiros evoluiu muito em termos de tecnologia, de equipamentos de proteção individual e vários outros tipos de ferramenta”, ele diz.

A adaptação de prédios antigos às novas regras também se tornou obrigatória, mas é um dos principais problemas na aplicação das normas. A maior parte dos prédios na região central da cidade, por exemplo, foi construída antes do incêndio de 1974.

O chamado sistema de compartimentação —que serve para impedir o avanço do fogo de uma sala para outra e de um andar para outro— é a maior dificuldade na adaptação de prédios antigos. Isso porque há regras para o tamanho de peças de concreto, vigas e espaços mínimos, e não é possível alterar certas características de prédios que já têm outras dimensões.

É daí a origem, por exemplo, de escadas de emergência externas aos edifícios. Elas foram construídas após a aprovação de novas normas de segurança, uma vez que dentro da própria estrutura do prédio não seria possível construir um escape que atendesse às regras.

Há também exigências de materiais que tenham resistência mínima ao fogo para o acabamento de pisos, paredes e dutos.

TULIO KRUSE / Folhapress

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