Incêndios causam ‘neve’ de cinzas em cidade do pantanal em Mato Grosso do Sul

MIRANDA, MS (FOLHAPRESS) – Pequeninos flocos esbranquiçados caem do céu encoberto em névoa em Miranda, cidade de Mato Grosso do Sul a pouco mais de 200 km da capital do estado, Campo Grande. São cinzas do fogo nos arredores que colocaram o município em situação de emergência desde a terça-feira (14).

A cidade e dezenas de quilômetros dos seus arredores estão encapsulados em uma névoa acinzentada de fumaça. Antes mesmo de se chegar a Miranda, ainda na estrada que a liga a Campo Grande, o cheiro de queimado já se faz presente, assim como um gosto de fuligem que vem à boca.

A situação é resultado do tempo seco instalado em parte do Brasil e dos inúmeros focos de queimadas que se alastram pela região do pantanal. É incomum que a região tenha tantos incêndios em novembro, mês em que, geralmente, as chuvas já alagaram a planície que caracteriza o bioma.

Segundo dados do Programa Queimadas, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), entre terça (14) e esta quarta-feira (15), foram registrados 111 focos de incêndio no município de Miranda, o segundo maior número no estado. Corumbá (MS) teve 154 focos nesse mesmo período.

Em todo o estado, foram 323 focos. Dessa forma, a pequena Miranda, de 25 mil habitantes, concentrou no período cerca de 34% dos pontos de incêndio no estado.

Já em Mato Grosso, foram registrados 511 focos de incêndio no pantanal nesta terça e nesta quarta. A cidade de Poconé (MT) é a mais atingida, com 243 focos.

“Não dá mais para falar de temporada de incêndios terminando em outubro aqui no pantanal”, afirma Márcio Yule, coordenador do Prevfogo, órgão ligado ao Ibama (Instituto Brasileiro Natural e de Recursos Renováveis), em Mato Grosso do Sul.

A reportagem da Folha percorreu nesta quarta-feira cerca de 100 km da BR-262, que liga Miranda a Corumbá. No trajeto, dezenas de quilômetros estão próximos a incêndios –são trechos envolvidos em fumaça ou ainda em chamas.

Nessa região, havia nesta quarta uma concentração de focos de incêndio nos arredores do Parque Estadual do Pantanal do Rio Negro. O próprio parque também foi atingido pelas chamas nos últimos dias.

Além do fogo que segue ou já queimou as áreas contíguas à rodovia, é possível ver colunas de fumaça mais distantes, áreas de propriedades queimadas e pequenos focos de fogo crepitando em meio à vegetação ao longe.

Ao mesmo tempo, carros do Corpo de Bombeiro vão e vêm na estrada. A missão nem sempre é o que se esperaria nessa situação, ou seja, apagar os focos que vem consumindo parte do pantanal.

Uma das ocorrências desta quarta envolveu um caminhão carregado com sacas de carvão. Após o veículo ser lambido por uma das labaredas que se jogam, vez ou outra, sobre a BR-262, a carga começou a pegar fogo.

Parado na beira da estrada, o motorista Julio dos Santos, 43, tentava, com um bambu, tirar os sacos que estavam em chamas. Também tentou frear o fogo na carga com um extintor, sem sucesso. Chegou a ir em uma área com água –e alguns pequenos jacarés– na beira da estrada para encher um balde.

Além da carga em si, a tinta queimada em parte da carroceria do caminhão, em contato com as sacas de carvão, mostrava o risco ao próprio veículo.

“A carga tem seguro. O caminhão eu não sei se vai cobrir, porque é de outro país”, diz Santos. O caminhão foi emplacado no Paraguai.

O Corpo de Bombeiros teve que interromper o trânsito na via enquanto tentava conter o fogo na carga. Pouco mais à frente, um avião liberava colunas de água para tentar conter focos ao lado da BR-262.

Parte da carga de carvão deixada na pista, pouco tempo depois já tinha queimado e virado cinzas.

SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA

Além de Miranda, outras quatro cidades em Mato Grosso do Sul tiveram situação de emergência declarada pelo governo estadual nesta terça. Foram elas: Corumbá, Ladário, Aquidauana e Porto Murtinho.

A situação de emergência decretada tem duração de 90 dias. Nesse período, estão dispensadas licitações para atender casos com potencial de prejuízo ou comprometimento de serviços públicos, segurança de pessoas e bens públicos ou particulares.

A situação das queimadas no pantanal também levou o governo de Mato Grosso a decretar situação de emergência em todo o estado, mas, nesse caso, com duração de 60 dias.

PHILLIPPE WATANABE E EDUARDO KNAPP / Folhapress

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