BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Quanto mais próxima a eleição presidencial na Argentina, mais incerta a corrida parece ficar. A dias do prazo para fechar as listas de quem concorrerá às primárias, neste sábado (24), o país segue adicionando nomes à fila de cotados, numa disputa marcada por brigas e indefinições das principais forças políticas.
São sete pré-candidatos viáveis até agora, depois que os principais caciques deixaram a disputa. O primeiro a pular do barco foi o ex-presidente Maurício Macri, depois o atual presidente, Alberto Fernández, e, por último, a vice Cristina Kirchner, que confirmou a ausência após meses de mistério.
Agora, espera-se que a ex-presidente finalmente decida, nos próximos dias, quem vai apoiar pela coalizão peronista que se chamava Frente de Todos até a última quarta-feira (14), mas foi rebatizada de União pela Pátria diante dos muitos desgastes que passou nos últimos meses.
Ela deve escolher entre três nomes: o ministro da Economia, Sergio Massa, o chefe da pasta do Interior, Eduardo “Wado” de Pedro, e o governador da província de Buenos Aires, Axel Kicillof, que a princípio quer a reeleição local, mas passou a ser ventilado nos bastidores do kirchnerismo nos últimos dias.
Depois, há outro ponto a definir: se um deles vai concorrer sozinho nas primárias ou se disputarão a vaga do peronismo com Daniel Scioli, hoje embaixador da Argentina no Brasil, mais ligado a Fernández.
Do lado da oposição, o cenário da aliança Juntos por el Cambio parece um pouco mais estável. Os dois presidenciáveis, Horacio Larreta, chefe da capital federal, e Patricia Bullrich, ex-presidente do partido de Macri (Proposta Republicana), agora buscam seus vices, até sábado, em setores mais radicais.
Bullrich também constrói uma aproximação com o sétimo mas não menos importante cotado: o deputado federal ultraliberal Javier Milei, líder da coalizão A Liberdade Avança, que desde o início se apresentou como uma rara terceira via na Argentina e foi ganhando tração enquanto os dois lados não se decidiam.
Milei, porém, que vinha disputando de igual para igual com as forças peronista e republicana nas pesquisas eleitorais cada um tinha cerca de um terço dos eleitores, deu sinais de queda nos últimos levantamentos, além de ver seus apadrinhados perderem eleições provinciais recentes.
A aliança do liberal tem agora 20% das intenções de voto, segundo o jornal Clarín, enquanto o Juntos por el Cambio varia de uma leve vantagem (em média 29%) a um empate técnico com a União pela Pátria (26%).
As primárias, chamadas de Paso (Primárias Abertas, Simultâneas e Obrigatórias), acontecem em 13 de agosto em todo o país. Depois, os candidatos mais votados vão para as eleições gerais, em 22 de outubro, quando também serão eleitos metade dos deputados, um terço dos senadores e os governadores de 21 das 23 províncias e da cidade de Buenos Aires. Um possível segundo turno ocorre em 19 de novembro.
O pano de fundo dessas eleições é um descontentamento geral com a política na Argentina impulsionado pela profunda crise econômica, a inflação crescente e o crescimento da pobreza no país. Para o Brasil, está em jogo a reaproximação dos dois governos atuais, depois da chegada de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Planalto.
AXEL KICILLOF, 51 (UNIÃO PELA PÁTRIA)
É governador da província de Buenos Aires (que não inclui a capital federal) desde 2019 e era considerado pré-candidato à reeleição até poucos dias atrás, mas seu nome passou a ser aventado nos bastidores como possível favorito de Cristina Kirchner à Presidência.
Economista, ele foi ministro desta pasta de 2013 a 2015, no segundo mandato da ex-presidente, quando promoveu o consumo e a restrição à compra de dólares. Kicillof se aproximou da madrinha política ao assumir um cargo na direção financeira da companhia aérea estatal Aerolíneas Argentinas.
DANIEL SCIOLI, 66 (UNIÃO PELA PÁTRIA)
Embaixador da Argentina no Brasil desde 2020, é conhecido por ter conseguido uma trégua entre os governos de Jair Bolsonaro e Alberto Fernández. Vai tentar a Presidência pela terceira vez. Em 2015, chegou ao segundo turno, mas perdeu para Mauricio Macri por 51% a 48%.
Já foi duas vezes deputado federal, vice-presidente de Néstor Kirchner (2003-2007) e governador de Buenos Aires (2007-2015). Antes da política, foi oito vezes campeão mundial de motonáutica (jet ski), no qual sofreu um acidente que amputou seu braço direito, e também diretor da empresa Electrolux.
EDUARDO ‘WADO’ DE PEDRO, 46 (UNIÃO PELA PÁTRIA)
É ministro do Interior de Fernández e só surgiu como cotado à Presidência em abril, quando o presidente desistiu da corrida eleitoral. Advogado, começou a carreira política em 2006 como um dos fundadores da organização política juvenil La Cámpora, que apoia presidentes kirchneristas.
Foi também vice-presidente da companhia aérea estatal Aerolíneas Argentinas, um dos diretores da Telecom Argentina e depois deputado federal por dois mandatos (2011 a 2019). Nesse meio tempo, exerceu o cargo de secretário-geral da Presidência de Cristina Kirchner em 2015.
SERGIO MASSA, 50 (UNIÃO PELA PÁTRIA)
Foi nomeado ministro da Economia por Fernández em julho de 2022. Antes, foi presidente da Câmara por três anos e prefeito de Tigre por outros seis. Também foi chefe de gabinete de Cristina por um ano.
Formado em direito e de perfil conciliador, é visto como um ministro com a função de “segurar as pontas” do governo até as eleições. Viu a popularidade cair junto à de Cristina e de Fernández devido à economia.
HORACIO LARRETA, 57 (JUNTOS POR EL CAMBIO)
Está terminando seu segundo mandato como governador de Buenos Aires. Formado em economia, foi chefe de gabinete de Maurício Macri quando ele ocupou o mesmo cargo no passado, de 2008 a 2015.
Os dois fundaram juntos o partido Proposta Republicana (PRO), do qual fazem parte hoje. Gerou uma crise interna recentemente com o colega e seus concorrentes à Presidência por agendar as eleições locais de Buenos Aires junto com as nacionais sem consultar o partido.
PATRICIA BULLRICH, 66 (JUNTOS POR EL CAMBIO)
É uma das lideranças da coalizão Juntos por el Cambio e, até abril, era presidente do Proposta Republicana, do qual pediu uma licença para participar da campanha. Foi ministra da Segurança de Macri (2015-2019) e deputada federal por Buenos Aires (2007-2015).
Antes, atuou como ministra do Trabalho e Segurança Social na gestão de Fernando de la Rúa (1999-2001). Tem se movimentado para se aproximar do concorrente Javier Milei, dizendo que atuará junto com ele em propostas se ganhar, de olho em seus eleitores.
JAVIER MILEI, 52 (A LIBERDADE AVANÇA)
Economista e professor, foi eleito deputado federal em 2021. É líder do Partido Libertário e da coalizão A Liberdade Avança. Ficou conhecido a partir de 2018 por críticas contundentes às gestões de Cristina, Macri e Fernández e por seu modo agressivo de falar.
Naquele ano, chamou uma jornalista de “burra” e teve que pedir desculpas na Justiça. Define-se como anarcocapitalista e tem como principal proposta a dolarização da economia argentina. Costuma atrair principalmente o eleitorado jovem, e sua vice é a também deputada Victoria Villarruel.
JÚLIA BARBON / Folhapress