Inflação acelera a 0,44% em setembro com pressão de energia e alimentos

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O índice oficial de inflação do Brasil acelerou em setembro com a pressão da crise climática sobre os preços da energia elétrica e de alimentos como carnes e frutas, apontam dados divulgados nesta quarta (9) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) teve alta de 0,44% no mês passado, após leve queda (deflação) de 0,02% em agosto. A variação de 0,44% é a maior para setembro desde 2021 (1,16%).

O novo resultado veio ligeiramente abaixo da mediana das projeções do mercado financeiro, que era de 0,46%, conforme a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 0,39% a 0,6%.

No acumulado de 12 meses, o IPCA acelerou a alta de 4,24% até agosto para 4,42% até setembro, apontou o IBGE. Com isso, o índice ficou mais próximo do teto da meta de inflação para o fechamento deste ano (4,5%).

“Tanto no caso da energia elétrica quanto nas carnes e frutas, fatores climáticos contribuíram para pressionar os preços”, disse o gerente da pesquisa do IPCA, André Almeida.

LUZ E ALIMENTOS MAIS CAROS

Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE, 2 tiveram maior influência para a alta do índice oficial em setembro.

São os casos de habitação (1,8%) e alimentação e bebidas (0,5%), que responderam por 0,27 ponto percentual e 0,11 ponto percentual, respectivamente.

O resultado de habitação está associado à energia elétrica. O subitem passou de baixa de 2,77% em agosto para alta de 5,36% em setembro com a entrada em vigor da bandeira vermelha patamar 1 no mês passado.

A medida, que representa cobrança adicional nas contas de luz, foi uma resposta à seca de proporções históricas no país.

A estiagem ameaça os níveis de reservatórios de hidrelétricas e força o acionamento de usinas termelétricas, que são mais caras. O calor também tende a elevar o consumo de luz.

Sozinha, a energia elétrica respondeu por 0,21 ponto percentual do IPCA de setembro. É possível que haja nova pressão em outubro.

Isso pode ocorrer porque a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) acionou a bandeira vermelha patamar 2 neste mês, o que deixa as tarifas ainda mais caras.

No caso de alimentação e bebidas, a alta de 0,5% veio depois de dois meses de queda dos preços. A alimentação no domicílio, que integra esse segmento, avançou 0,56%, também após duas baixas.

Almeida afirmou que o resultado foi influenciado, em grande parte, pelo aumento dos preços das carnes (2,97%) e das frutas (2,79%). A inflação das carnes foi a maior desde dezembro de 2020 (3,58%).

“Falando especificamente das carnes, a forte estiagem e o clima seco foram fatores que contribuíram para a diminuição da oferta”, disse o técnico do IBGE.

“É importante lembrar que tivemos quedas observadas ao longo de quase todo o primeiro semestre de 2024, com alto número de abates [de gado]. Agora, o período de entressafras está sendo intensificado pela questão climática”, completou.

Individualmente, o instituto ressaltou os aumentos de 10,34% do mamão, de 10,02% da laranja-pera, de 4,02% do café moído e de 3,79% do contrafilé. Do lado das quedas, destacam-se a cebola (-16,95%), o tomate (-6,58%) e a batata-inglesa (-6,56%).

“Depois de dois meses de deflação, os preços da alimentação no domicílio voltaram a subir no mês passado. Esse movimento tem um componente sazonal e também uma relação com a seca e as queimadas que têm prejudicado a produção de diversas culturas agrícolas”, afirma Claudia Moreno, economista do C6 Bank.

“A alta dos preços dos alimentos, que já havia sido captada pelos indicadores de inflação no atacado, está sendo agora repassada ao consumidor”, acrescenta.

IPCA E RISCO DE ESTOURO DA META

A consultoria LCA prevê avanço de 0,46% para o IPCA em outubro. A estimativa considera fatores como o efeito da estiagem em alimentos e bebidas, reajustes anteriores à Black Friday, alta sazonal de vestuário e aumento de serviços pessoais.

Para o acumulado do ano, a consultoria projeta inflação de 4,4%, levemente abaixo do teto da meta (4,5%).

Há, contudo, riscos associados ao clima que podem levar a um estouro da medida de referência, segundo Fábio Romão, economista da LCA.

“É para cima o risco em alimentação no domicílio e também na energia elétrica. Estamos na bandeira vermelha patamar 2 em outubro, que é a pior. Com chuvas no final do ano, é provável que 2024 feche com uma bandeira aquém desse nível. A questão é saber para onde vai”, diz.

“Tem analista que acha que a bandeira vai para vermelha patamar 1. Tem analista como eu que acha que vai para amarela”, completa.

Uma parcela das instituições financeiras já espera IPCA acima do teto de 4,5%. É o caso do C6 Bank, que projeta inflação de 4,7% ao final de 2024.

O centro da meta perseguida pelo BC (Banco Central) é de 3%. A tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos ou para mais.

Isso significa que o objetivo será cumprido se o IPCA ficar no intervalo de 1,5% (piso) a 4,5% (teto) nos 12 meses até dezembro.

Na mediana, o mercado financeiro prevê alta de 4,38% para o índice no fechamento do ano, conforme o boletim Focus publicado pelo BC na segunda (7), antes da divulgação do IBGE.

A variação prevista seguiu abaixo do teto (4,5%), mas passou por uma série de revisões para cima nos últimos meses.

LEONARDO VIECELI / Folhapress

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