Inflação de julho vem acima das projeções e alcança teto da meta

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Sob pressão dos aumentos da gasolina e da passagem aérea, a inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), acelerou a 0,38% em julho, após marcar 0,21% em junho.

A alta de 0,38% é a maior para o sétimo mês do ano desde 2021, quando a taxa havia sido de 0,96%, apontam dados divulgados nesta sexta-feira (9) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O resultado de julho também ficou acima da mediana das expectativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam variação de 0,35%.

No acumulado de 12 meses, o IPCA acelerou a 4,5% até julho, após registrar 4,23% até junho. O novo patamar é justamente o do teto da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central) no fechamento deste ano, até dezembro.

Segundo a analistas, os dados de julho trazem alertas e tendem a reforçar a preocupação da autoridade monetária com o comportamento do IPCA e as expectativas para o índice.

Por outro lado, o grupo alimentação e bebidas, vilão recente da inflação, trouxe alívio em julho. Os preços do segmento caíram 1% no recorte mensal. Foi a maior deflação (baixa) desde agosto de 2017 (-1,07%), disse o IBGE.

GASOLINA E PASSAGEM AÉREA PRESSIONAM

Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados no IPCA, 7 tiveram alta de preços em julho. A maior variação (1,82%) e o principal impacto no índice (0,37 ponto percentual) vieram dos transportes.

O grupo mostrou influência da carestia da passagem aérea (19,39%) e da gasolina (3,15%). Como pesa mais no orçamento das famílias, o combustível foi o responsável pelo maior impacto individual no IPCA (0,16 ponto percentual), seguido pelo bilhete de avião (0,11 ponto percentual).

A alta da gasolina veio após a Petrobras anunciar reajuste dos preços nas refinarias no começo de julho. O sétimo mês do ano também é marcado pelo período de férias escolares, que tende a estimular a demanda por passagens aéreas, com reflexos nas tarifas.

Outro fator de pressão veio do grupo habitação (0,77% e 0,12 ponto percentual). O segmento teve influência do avanço da energia elétrica residencial (1,93% e 0,08 ponto percentual).

Em julho, passou a vigorar a bandeira tarifária amarela, que encarece as contas de luz. Analistas ponderam que a alta da energia pode ser devolvida em agosto, já que o governo anunciou a volta da bandeira verde, sem cobrança adicional.

ALIMENTOS DÃO TRÉGUA APÓS SEQUÊNCIA DE ALTAS

O grupo alimentação e bebidas, por sua vez, ajudou a conter a inflação em julho, ao registrar queda de 1%. Trata-se da primeira baixa depois de nove meses consecutivos de alta.

O IBGE atribuiu o novo resultado a uma ampliação da oferta de produtos com a melhoria das condições climáticas no campo.

O subgrupo alimentação no domicílio caiu 1,51% no mês passado. A taxa veio após avanço de 0,47% na divulgação anterior.

O instituto ressaltou as reduções nos preços do tomate (-31,24%), da cenoura (-27,43%), da cebola (-8,97%), da batata inglesa (-7,48%) e das frutas (-2,84%).

Do lado das altas, destacam-se o café moído (3,27%), o alho (2,97%) e o pão francês (0,67%).

Ainda de acordo com o IBGE, a inflação de serviços, pressionada pela passagem aérea, acelerou de 0,04% em junho para 0,75% em julho. A variação em 12 meses alcançou 5,01%.

Analistas enxergam desafios para a trégua da inflação de serviços com o mercado de trabalho ainda aquecido no país. Esse componente do IPCA é observado com atenção pelo BC em suas decisões sobre a taxa básica de juros, a Selic.

Em ata publicada na terça (6), o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC subiu o tom e afirmou que pode aumentar a Selic se achar a medida necessária para assegurar a convergência da inflação à meta.

Apesar da aceleração do IPCA, o chamado índice de difusão recuou de 52% em junho para 47% em julho.

Trata-se do percentual de bens e serviços que registraram alta de preços, considerando a amostra do IBGE com 377 subitens. Conforme o instituto, a redução dos alimentos ajudou a conter a difusão.

ANALISTAS VEEM PIORA NO IPCA

Para o economista Igor Cadilhac, do PicPay, a composição qualitativa do IPCA apresentou piora em julho.

“Começamos o segundo semestre deixando para trás o nosso melhor momento desinflacionário, com uma piora significativa nos núcleos e serviços”, disse.

Ainda assim, ele espera IPCA de 4,3% no acumulado de 12 meses até dezembro, abaixo do teto da meta.

“De modo geral, o resultado de julho foi preocupante, mostrando uma deterioração das medidas que deveriam ser mais sensíveis à política monetária ainda bastante restritiva”, afirmou André Valério, economista sênior do banco Inter.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi perguntado por jornalistas sobre o resultado do IPCA. Ele disse que o governo esperava algum impacto na inflação em razão do cenário externo.

“Nós esperávamos, em função do que está ocorrendo no mundo, que houvesse alguma mexida na inflação deste ano. Mas vamos acompanhar com calma, o BC já parou os cortes [da Selic], vamos analisar com calma. Muita coisa para acontecer este ano ainda, sobretudo no cenário internacional. Precisamos ter cautela agora”, declarou.

Apesar de analistas apontaram piora no IPCA, a gestora Kínitro Capital diz ver com bons olhos a dinâmica que se desenha para o índice de agosto.

A casa fala em manutenção da deflação de alimentos no domicílio, acionamento da bandeira verde de energia elétrica, “esvaziamento” do reajuste de combustíveis e arrefecimento das passagens aéreas.

META DE INFLAÇÃO, JUROS E PROJEÇÕES

O centro da meta de inflação perseguida pelo BC é de 3% em 2024. A tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos ou para mais.

Isso significa que a meta será cumprida se o IPCA ficar no intervalo de 1,5% (piso) a 4,5% (teto) em 12 meses até dezembro.

Na mediana, analistas do mercado financeiro projetavam inflação de 4,12% para o acumulado deste ano, conforme o boletim Focus mais recente, divulgado pelo BC na segunda (5). A previsão subiu pela terceira semana consecutiva, mas seguiu abaixo do teto.

O aumento das expectativas ocorre em um contexto de dólar mais alto, incertezas fiscais no Brasil e pressão de preços no atacado.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou na quinta (8) que está otimista em relação à economia brasileira, “apesar da crise que o dólar vem causando no mundo inteiro”.

Na avaliação do petista, que já fez uma série de críticas ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, a inflação está “totalmente equilibrada”.

LEONARDO VIECELI / Folhapress

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