Inflação de matérias-primas acelera com efeito do clima e ameaça bolso do consumidor

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A inflação de mercadorias agropecuárias e industriais mostra aceleração para o produtor no Brasil, segundo dados do IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo), calculado pelo FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

De agosto para setembro, o IPA passou de 0,29% para 0,70%. Com isso, a inflação acumulada pelo índice em 12 meses também ganhou força, saindo de 4,20% para 4,51%. O acumulado mais recente é o maior desde dezembro de 2022 (5,27%).

Conforme o economista André Braz, do FGV Ibre, os dados refletem os impactos de questões sazonais e da crise climática, que estão encarecendo itens como alimentos no país.

“O clima está influenciando e pode prejudicar mais, a depender de como vai se comportar nos próximos meses. Caso não comece a chover e a seca piore, pode prejudicar as safras com ciclos produtivos mais longos”, afirma Braz.

De acordo com o economista, a aceleração dos preços para o produtor, que já aparece no IPA, deve pressionar a inflação para o consumidor final nos próximos meses.

“Isso normalmente se espalha ao longo da cadeia. Uma pressão que nasce na cena produtora tende a morrer no consumidor. Tem a possibilidade de aceleração dos alimentos por conta dos fenômenos climáticos. Uma parte disso já está acontecendo.”

LUZ MAIS CARA PODE GERAR ESTOURO DA META

Na avaliação de Braz, um ponto de atenção para a reta final deste ano é o comportamento dos preços da energia elétrica, que ficou mais cara com a estiagem no Brasil.

Esse cenário, diz o economista, eleva o risco de a inflação para o consumidor final fechar 2024 acima do teto da meta perseguida pelo BC (Banco Central). O teto é de 4,5% no acumulado de 12 meses até dezembro.

O índice de referência para o sistema de metas é o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Até agosto, a variação em 12 meses ficou em 4,24%.

Braz projeta que o IPCA terminará o ano na faixa de 4,3% a 4,6%, dependendo do quadro energético. A seca dificulta a operação de hidrelétricas e tende a aumentar o consumo de luz.

Com a crise climática, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) acionou a bandeira vermelha patamar 2 em outubro. A medida acrescenta R$ 7,877 para cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos na conta de luz.

“Há possibilidade de não cumprimento da meta de inflação se o uso das bandeiras tarifárias for mantido no patamar máximo até o final do ano”, afirma Braz.

“Mas, se lá para dezembro houver possibilidade, com o volume de chuva, de uma bandeira tarifária menos onerosa ou de não ter [taxa adicional], aí a inflação recua e dá para fechar abaixo do teto de 4,5%”, acrescenta.

IPA VINHA EM TRÉGUA APÓS DISPARADA NA PANDEMIA

O IPA, do FGV Ibre, mostra as variações dos preços de produtos agropecuários e industriais em transações interempresariais, no atacado. Ou seja, antes do consumo final.

Durante a pandemia, o custo de diferentes matérias-primas explodiu. Assim, o IPA chegou a acumular inflação de 50,21% nos 12 meses até maio de 2021.

Na sequência, o índice perdeu força, passando a registrar deflação (queda) em 2023. Ao longo de 2024, porém, o indicador voltou a mostrar taxas positivas no acumulado de 12 meses –ainda bem distantes da disparada na pandemia.

O IPA responde por 60% do IGP-M (Índice Geral de Preços-Mercado), também divulgado pelo FGV Ibre. O IGP-M é popularmente chamado de “inflação do aluguel” por servir como referência para o reajuste de contratos de locação de imóveis.

Além do IPA, o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) e o INCC (Índice Nacional de Custo da Construção) também compõem o IGP-M, respondendo por 30% e 10% desse indicador, respectivamente.

LEONARDO VIECELI / Folhapress

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