SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) registrou aceleração da inflação em maio, para 0,44%, após dois meses seguidas de alívio, segundo dados divulgados nesta terça-feira (28) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em abril, a alta de preços havia sido de 0,21%.
Ainda assim, o resultado deste mês ficou abaixo das expectativas do mercado. A mediana das estimativas levantadas pela Bloomberg junto aos analistas apontava para uma inflação de 0,47% em maio.
A aceleração de preços foi influenciada principalmente pelos gastos com saúde e cuidados pessoais, após reajuste nos preços dos produtos farmacêuticos, além da alta dos transportes. Os preços da gasolina e das passagens aéreas voltaram a subir e pesaram no índice.
No acumulado dos últimos 12 meses, o IBGE registrou um índice de 3,70% em maio, enquanto o mercado esperava que a inflação ficasse em 3,74% no período. Em abril, a taxa era de 3,77% nesse recorte de tempo.
Devido à dificuldade de apuração de preços no Rio Grande do Sul devido à situação de calamidade, 30% de toda coleta de dados no estado ocorreu de forma remota.
Ainda assim, o IBGE informou que nem todos os produtos puderam ser coletados por telefone ou pela internet, como foi o caso de algumas hortaliças e verduras. Ocorreu então a imputação dos dados, procedimento já previsto.
Apesar de os efeitos da tragédia no Sul não ter ainda aparecido no índice geral, analistas reforçam que esse é ainda um ponto de atenção para o futuro.
O economista Alexandre Maluf, da XP, chama atenção para o fato de que, apesar de 70% da coleta de dados ter sido feita antes do período mais duro do desastre, em alguns itens já é possível ver aceleração de preços no estado acima da média de todo o país.
Também aferido pelo IBGE, o IPCA-15 se difere da inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA, devido ao período de coleta, que ocorre entre a segunda metade do mês anterior e a primeira metade do mês de referência da divulgação. Por ser publicado antes, o índice sinaliza uma tendência para a contagem oficial de preços do país.
O IPCA, por sua vez, é baseado em dados levantados apenas no mês de referência, e será divulgado no dia 11 de junho. Desta forma, o resultado fechado de maio ainda não aparece completamente na coleta do IPCA-15.
REAJUSTE DE MEDICAMENTOS CONTINUA PESANDO NO BOLSO
Oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE tiveram resultados positivos em maio.
A alta de 1,07% nos preços de saúde e cuidados pessoais foi influenciada pelo reajuste de 4,50% nos preços dos medicamentos desde 31 de março, o que acarretou numa elevação de 2,06% dos produtos farmacêuticos, que tiveram um impacto de 0,07 ponto percentual no índice cheio do IPCA-15.
Esse item já tinha influenciado a aceleração de preços no IPCA de abril. Além disso, produtos de higiene pessoal também apresentaram aceleração no IPCA-15, de 0,29% em abril para 0,87% em maio, principalmente por conta da alta de 1,98% de perfumes.
A outra grande contribuição no IPCA-15 de maio veio do grupo de transportes (0,77% de elevação). Além da alta de 1,90% da gasolina (responsável por um impacto de 0,09 p.p. no índice geral), as passagens aéreas, cujos preços vinham recuando desde o início do ano, voltaram a subir (6,04%).
Em relação aos demais combustíveis, o etanol e o óleo diesel também tiveram alta, de 4,70% e 0,37%, respectivamente. Por outro lado, o gás veicular teve queda de 0,11% no preço.
DESACELERAÇÃO NOS PREÇOS DE ALIMENTOS SURPREENDE
Após uma inflação de 0,61% no IPCA-15 de abril, neste mês o grupo de alimentação e bebidas seguiu reduzindo o ritmo de alta, desta vez para 0,26%. A alimentação no domicílio influenciou o resultado com inflação de 0,22%.
Para o economista Alexandre Maluf, da XP, o ritmo de desaceleração dos alimentos foi o ponto que mais contribuiu para que o IPCA-15 viesse abaixo das expectativas do mercado em maio. “Os preços vieram bem mais baixos do que a gente esperava. Na alimentação no domicílio, avançaram 0,22% e nós tínhamos 0,47%”, diz.
As principais contribuições para alta dos alimentos foram a elevação de 16,05% no preço da cebola, de 2,78% no café moído e de 1,94% no leite longa vida. No lado das quedas, destacam-se o feijão carioca (-5,36%), as frutas (-1,89%), o arroz (-1,25%) e as carnes (-0,72%).
Já a alimentação fora do domicílio acelerou em maio para 0,37%, em virtude da alta mais intensa da refeição (0,07% em abril para 0,34% em maio). O lanche teve variação (0,47%) igual à registrada no mês anterior.
RESULTADO DE MAIO É POSITIVO PARA A POLÍTICA MONETÁRIA, DIZEM ANALISTAS
Para Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, em termos de política monetária, o resultado do IPCA-15 de maio pode ser considerado positivo se analisado sob a perspectiva da busca pela retomada da estabilidade de preços, objetivo atual do BC.
“Esta hipótese se sustenta quando analisamos o resultado sob a ótica das categorias de preço que compõem o indicador”, diz.
Ela cita os preços livres, que não são fruto de contratos ou regulação, e que por isso são mais sensíveis à oferta e demanda.
“A característica da inflação desses itens se mostra mais positiva do que nos meses anteriores e sugere que o nível de preços do grupo tende a arrefecer ao longo dos próximos meses por conta de uma sazonalidade positiva”, afirma.
Rafael Costa, analista e integrante do time de estratégia macro da BGC Liquidez, concorda que os dados de maio são positivos para os juros no país.
Ele cita o comportamento dos preços de serviços subjacentes (que excluem os itens mais voláteis) e a média dos núcleos da inflação, que vêm recuando em 12 meses e registram “patamares historicamente baixos na leitura mensal”.
“Num rápido primeiro olhar, no geral hoje tivemos mais um resultado favorável com medidas importantes de tendência dos preços”, afirma.
A inflação oficial é importante para as decisões de juros do país. O centro da meta perseguida pelo Banco Central é de 3% no acumulado de 2024.
A tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos (1,5%) ou para mais (4,5%). Assim, a meta será cumprida se o IPCA ficar dentro do intervalo de 1,5% a 4,5% nos 12 meses até dezembro.
Atualmente, a inflação brasileira acumula elevação de 3,69% nos últimos 12 meses, ou seja, por enquanto está dentro da meta.
O mercado projeta que o IPCA encerre 2024 a 3,86%, segundo a mais recente edição do Boletim Focus divulgada pelo BC na última segunda-feira (27). O documento reúne as projeções de economistas para os principais indicadores econômicos do país.
STÉFANIE RIGAMONTI / Folhapress