RIO DE JANEIRO, RJ, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) subiu 0,12% em julho, informou nesta sexta-feira (11) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A gasolina foi a que mais contribuiu para a alta, por um lado, enquanto alimentação e energia elétrica ajudaram a conter uma elevação ainda maior do índice.
Na mediana, analistas do mercado financeiro consultados pela agência Bloomberg esperavam avanço de 0,08%. A nova variação do IPCA veio após deflação (queda) de 0,08% em junho.
Com o resultado de julho, o índice passou a acumular alta de 3,99% em 12 meses. Nesse recorte, o avanço era de 3,16% até a divulgação anterior.
Ainda assim, especialistas enxergam o saldo como positivo no mês de julho. “No geral, apesar da surpresa altista, a abertura do IPCA de julho e suas medidas subjacentes trouxeram sinais positivos”, diz Alexandre Maluf, economista da XP.
Maluf cita como exemplo a melhora na inflação de serviços e nos núcleos da inflação itens mais resistentes à volatilidade momentânea do mercado.
“Há uma inequívoca melhora nas leituras recentes do IPCA no tocante às métricas de serviços e núcleos, o que possivelmente aumentará as apostas para corte de 0,75 ponto percentual na próxima reunião do Copom [Comitê de Política Monetária do Banco Central], apesar de considerarmos que o número de hoje ainda é consistente com um corte de 0,50 ponto”, afirma o economista.
Para Rafaela Vitória, economista-chefe do banco Inter, os dados divulgados nesta sexta mostram que a tendência de queda da inflação continua. “A difusão teve nova redução, ou seja, o número de itens em alta está menor, e a média dos núcleos variou apenas 0,2% no mês, no mesmo ritmo do mês passado”, comenta.
O IPCA é o índice oficial de inflação do Brasil, servindo como referência para o regime de metas do BC (Banco Central). No acumulado de 2023, o centro da meta perseguida pela autoridade monetária é de 3,25%.
A tolerância é de 1,5 ponto percentual para mais (4,75%) ou para menos (1,75%). Ou seja, a meta será cumprida se o IPCA ficar dentro desse intervalo.
Com a trégua dos preços no primeiro semestre, parte dos analistas passou a prever inflação dentro do teto até o final de 2023. Essa projeção estava fora do radar até pouco tempo atrás.
“Para frente, vemos que a inflação deste ano pode encerrar abaixo do teto da meta. Nossa projeção está em 4,60% para 2023 e 3,9% para 2024”, diz Andréa Angelo, estrategista da Warren Rena.
A mediana das previsões do boletim Focus, contudo, ainda indica IPCA de 4,84% no acumulado até dezembro, acima do teto. Essa estimativa consta na edição mais recente do relatório, divulgada pelo BC na segunda-feira (7).
Nos últimos meses, a autoridade monetária virou alvo de pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que defende a redução da taxa básica de juros, a Selic, como forma de impedir uma forte desaceleração da economia.
O primeiro corte da taxa no governo Lula veio na semana passada. A Selic foi reduzida em 0,5 ponto percentual, de 13,75% para 13,25% ao ano.
De acordo com analistas, até o fim de 2023, a inflação em 12 meses tende a ficar acima do patamar atual devido a fatores como a base de comparação.
É que as deflações registradas no segundo semestre de 2022 sairão da base de cálculo do IPCA no acumulado até dezembro deste ano.
Na segunda metade de 2022, o índice perdeu força com a redução artificial de itens como os combustíveis. A baixa dos preços ocorreu em meio ao corte de tributos promovido pelo governo Jair Bolsonaro (PL) às vésperas das eleições.
GASOLINA TEM MAIOR CONTRIBUIÇÃO PARA ALTA NO MÊS
Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE, cinco tiveram elevação em julho. O maior peso foi do grupo de Transportes (com alta de 1,50%), especialmente influenciado pelo aumento de preços da gasolina (4,75%).
O combustível foi o subitem com a maior contribuição individual no índice, sendo responsável pela alta de 0,23 ponto percentual do IPCA, segundo o instituto.
O gás veicular e o etanol também registraram alta no mês passado, de 3,84% e 1,57%, respectivamente, enquanto o óleo diesel teve queda de 1,37% nos preços. Ainda no grupo de Transportes, contribuíram para o resultado a elevação de 4,97% das passagens aéreas e de 1,65% dos preços de automóveis novos.
Segundo o analista da pesquisa do IBGE, André Almeida, esse último subitem foi impactado pelo encerramento do programa do governo federal de incentivo para a compra de carros populares. “Com o fim do programa, a gente percebeu uma alta de mais de 1% nos preços de carros novos”, afirmou.
O grupo de Alimentação e bebidas, por sua vez um dos itens que mais pesam no bolso dos brasileiros, seguiu em queda em julho, desta vez de 0,46%, mais suave que a deflação de 0,66% registrada no mês anterior.
O destaque nesse grupo vai para alimentação no domicílio, com a maior variação deflacionária do feijão-carioca (-9,24%), seguido por óleo de soja (-4,77%), frango em pedaços (-2,64%), carnes (-2,14%) e leite longa vida (-1,86%).
Pelo lado das altas, as frutas subiram mais, com elevação de 1,91% dos preços, e destaque para a banana-prata (4,44%) e o mamão (3,25%). A alimentação fora do domicílio teve desaceleração de preços, mas ainda com alta de 0,21%, ante 0,46% em junho.
Também com forte influência no orçamento familiar, o grupo de Habitação reverteu a alta do mês anterior e registrou deflação de 1,01% em julho, com a maior contribuição (-0,16 ponto percentual) da queda nos preços com energia elétrica residencial, que recuaram 3,89%.
Segundo o IBGE, o resultado foi influenciado pela incorporação do bônus de Itaipu, que foi creditado nas faturas do mês de julho. Os reajustes foram aplicados em três áreas de abrangência do IPCA: em Porto Alegre, a partir de 19 de junho; em Curitiba, a partir de 24 de junho; e em São Paulo, a partir de 4 de julho
Com relação ao índice de difusão, que mostra o quanto a inflação está espalhada entre os itens pesquisados, houve um recuo de 50% para 46%, menor taxa desde maio de 2020. A queda foi influenciada pelo grupo alimentício, cuja difusão caiu de 46% para 38%. Já o índice de difusão não alimentício subiu de 52% para 53%.
INFLAÇÃO DE SERVIÇOS DESACELERA
Setor que tem sido acompanhado de perto pelo Banco Central em suas decisões de juros, a inflação de serviços desacelerou em junho, de 0,62 ponto percentual para 0,25 ponto, mas ainda assim registrou alta.
André Almeida, do IBGE, ressalta que, no acumulado de 12 meses, o índice de serviços segue acima da média geral, de 3,99%,
A maior contribuição para a desaceleração da inflação de serviços se deu pela queda no ritmo de alta nos preços dos serviços com características turísticas. Segundo Almeida, a maior influência para isso foi a desaceleração nos preços das passagens aéreas, que passou de uma alta de quase 11% em junho para quase 5% em julho.
LEONARDO VIECELI E STÉFANIE RIGAMONTI / Folhapress