SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma rápida passada de olhos nas redes sociais e não demoram a surgir termos e expressões como Ozempic, Baby tee, “magras, magras, magras” em tom de exaltação. Seria o prenúncio do fim do movimento body positive, que estimula e celebra corpos diferentes do padrão estético consagrado?
No que depender de Luiza Allan, do perfil Não Como Só Alface, ele está longe de enfraquecer. Na contramão das onipresentes “dietas do ovo”, dos treinos milagrosos e das canetinhas mágicas, a influenciadora criou a página em 2016. Ela traz conteúdos sobre alimentação saudável, além de vídeos de comédia. Mas, ao fazer um post de denúncia à cultura da magreza nas redes, o Instagram entendeu o conteúdo de forma errada e acabou punindo seu perfil.
O vídeo de Luiza relatava sua experiência pessoal com distúrbios alimentares e alertava sobre os perigos relacionados à volta da cultura da magreza. Ela também publicou uma foto nos stories avisando sobre o tema sensível e postou uma foto sua, de biquíni, da época em que sofria de anorexia e tinha um corpo excessivamente magro. “Aviso de gatilho para o meu último reels. Falo sobre anorexia. Se for tópico sensível para você, não assista”, dizia a legenda.
O conteúdo postado foi interpretado pela plataforma de forma contrária ao que propunha. Em outubro, a influenciadora recebeu notificações que diziam que seu story não seguia as “diretrizes da comunidade sobre suicídio, automutilação e distúrbios alimentares” e que “pode levar as pessoas a se autoagredirem”.
O aviso deu alguns exemplos de conteúdos que não seriam permitidos, como posts que debocham de transtornos alimentares, instruções sobre perda de peso e imagens que enfatizem a magreza extrema, “a não ser que sejam sobre recuperação”. Seu post entraria na exceção citada.
Após as notificações, o story foi removido. Em seguida, seus conteúdos foram proibidos de serem recomendados para novos seguidores e monetizados. O perfil foi impedido de fazer colaborações com outros perfis e de responder às mensagens enviadas por seguidores no chat privado. As medidas foram impostas pelo Instagram num prazo que vai até 10 de fevereiro de 2025.
Ao F5, Luiza lamentou os prejuízos que vem acumulando ao ser punida por um erro do Instagram: “Vou ter que trabalhar de graça para compensar algo que não foi erro meu, foi erro da plataforma”. “Quando o conteúdo fica restrito, isso faz com que eu não ganhe mais seguidores, o que é algo extremamente importante para o meu trabalho”, disse.
Para tentar reverter a situação, a influenciadora acionou o suporte técnico da rede social, submetendo um requerimento para esclarecer que o conteúdo não infringia as políticas da plataforma, mas visava exclusivamente promover a conscientização. Luiza não obteve retorno da empresa nem teve suas restrições removidas no momento.
O próximo passo foi entrar com uma demanda judicial. A equipe jurídica da influenciadora pediu uma tutela cautelar antecedente, destinada a obter a retirada imediata das sanções aplicadas, sob pena de multa diária em caso de descumprimento. Nenhuma restrição foi retirada até o momento e Luiza continua com recursos bloqueados.
Procurado pelo F5 sobre os critérios, metodologias e políticas de restrições, o Instagram não quis comentar.
Luiza lamentou a postura da rede social: “Qual é o critério? Por que umas pessoas são atingidas e outras não? Por que pessoas que estão falando sobre conscientização são punidas e restritas e pessoas que realmente estão incentivando estão aí, com conteúdos patrocinados?”. “Há várias pessoas fazendo conteúdos sobre extrema magreza, dietas restritivas, contagem de calorias, e nada disso é derrubado”, disse ela.
Ela falou também sobre o dano que os conteúdos relacionados à magreza podem causar no público: “Pessoas que são referências para meninas jovens e que, a cada dia que passa, ficam mais magras, mesmo que não falem sobre seus métodos, incentivam a procura por alternativas. E o [método] mais fácil é o mais danoso”.
LUÍSA MONTE / Folhapress