SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, 24, condutor do Porsche que bateu na traseira do Renault Sandero e causou a morte do motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, 52, pode ter bebido na noite do acidente, diz inquérito policial ao qual a reportagem teve acesso.
No documento, a polícia afirma que o jovem esteve horas antes do acidente no bar Porchetteria Gastronomia & Cocktail, no Tatuapé (zona leste), e que câmeras registraram a presença dele no local.
No inquérito é dito que ainda não é possível confirmar se há imagens de Fernando ingerindo bebida alcoólica, mas que existe, sim, a possibilidade de que ele tenha consumido álcool.
“Ainda não podemos confirmar se existem imagens do investigado consumindo bebida alcoólica, tendo em vista o curto tempo que tivemos para analisar de forma minuciosa todo o tempo de filmagem de todas as câmeras. O que se constatou até o momento é que realmente FERNANDO esteve no referido BAR e o que apuramos é de existir SIM a possibilidade dele ter consumido bebidas contendo álcool”, diz o inquérito.
O documento então expõe imagens extraídas das câmeras de forma cronológica, “deduzindo que tanto FERNANDO como seus acompanhantes ingeriram bebidas alcoólicas pelos tipos de copos que foram retirados pela atendente”.
No bar com Fernando estavam a namorada dele e outro casal de amigos.
Na comanda obtida pela polícia estão listados oito drinques chamado Jack Pork -feito com uísque, licor, angostura e xarope de limão siciliano-, além de uma capirinha de vodca. Também foi consumida uma água, um torresmo, um bolinho de costela, um hambúrguer e outros dois salgados.
A polícia solicita ainda que os funcionários do restaurante que atenderam a mesa em que Fernando estava sejam ouvidos para esclarecer se ele consumiu bebida alcoólica. Além disso, três testemunhas do acidente que foram ouvidas nos dias 9 e 10 de abril afirmam que Fernando estava com semblante embriagado e cambaleava ao andar.
Duas delas relatam que o viram vomitar. Uma afirma que ele não conseguia se levantar sozinho, e outra disse que ele estava com os olhos vermelhos.
Uma testemunha conta que pessoas que prestaram socorro viram Fernando sendo retirado do local e alertaram os policiais. Neste momento, as autoridades foram até o empresário, o fizeram retornar e pediram seus documentos.
A namorada buscava os documentos de Fernando, que segundo a testemunha “não conseguia nem parar em pé e tampouco responder onde estava a carteira”. Logo depois os policiais conversaram com Fernando e ele foi liberado.
Além da morte do motorista de aplicativo, o acidente também acidentou o amigo de Fernando, Marcus Vinicius, que estava ao seu lado no carro. O jovem passou por duas cirurgias, uma para retirada do baço e outra para controlar água no pulmão, e teve alta da UTI na noite de terça-feira (9). Ele está no quarto ainda sem previsão de alta hospitalar, segundo seu advogado.
“Os esclarecimentos quanto aos fatos no dia do acidente serão dados posteriormente à autoridade policial”, afirmou José Roberto Soares.
A namorada de Rocha prestou depoimento à Polícia Civil no último dia 3 e afirmou ter presenciado uma discussão entre ele, Fernando e a namorada do amigo antes de os dois entrarem no Porsche após deixar uma casa de pôquer. Disse ainda que o grupo havia consumido drinques em um jantar.
Segundo a testemunha, Fernando foi então aconselhado a não dirigir por estar um pouco alterado. Ela ainda disse que, como não chegaram a um acordo, o empresário conduziu o Porsche porque não quis deixar outra pessoa dirigir o veículo.
O amigo então se ofereceu para ir com Fernando no Porsche para que ele não fizesse nada de errado, disse a jovem, e as duas os seguiram no Audi de Rocha. Algum tempo depois, o empresário acelerou, e elas o perderam de vista, contou. Em seguida, foram informadas sobre o acidente.
A advogada de defesa de Fernando, Carine Acardo Garcia, afirmou que a depoente se referiu à discussão que ele teve com a namorada, que por isso estava “alterado”.
Após o acidente, o condutor do Porsche deixou o local no carro de sua mãe, Daniela Cristina de Medeiros Andrade, e não fez o teste do bafômetro.
Em depoimento prestado nesta terça, a namorada de Fernando disse que ele não bebeu naquela noite. Giovanna Silva afirmou que os dois namoram há oito anos e têm um combinado de que quando um bebe o outro não consome bebida alcoólica.
Disse também que o namorado não bebeu nada alcoólico porque não gosta de beber enquanto joga para não perder a atenção.
A jovem afirmou ainda que pediu para ir embora, mas que Fernando não queria porque estava ganhando. Ela insistiu até que ele decidiu ir embora, ficando “bastante alterado e irritado, iniciando uma forte discussão, por também se irritar com facilidade”, segundo trecho do relato do depoimento.
O Ministério Público afirma que a mãe do motorista do Porsche atrapalhou as investigações e pediu abertura de inquérito para apurar a conduta dos policiais militares que liberaram o suspeito antes de saber se ele estava sob efeito de álcool.
Em depoimento à polícia, Fernando afirmou não ter consumido bebida alcoólica antes do acidente e disse estar um pouco acima da velocidade permitida na avenida quando bateu. Imagens da câmera de segurança de um posto de gasolina próximo ao local do acidente mostram o carro de luxo trafegando muito acima da velocidade de outros veículos.
ISABELLA MENON / Folhapress