Insatisfação com os juros cresce na pequena indústria

Imagem ilustrativa | Foto: Agência Brasil

A insatisfação com os juros levou empresários da micro e pequena indústria ao maior pessimismo no último ano, de acordo com pesquisa realizada pelo Simpi (Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo) e o Datafolha.

Em abril e maio de 2023, o Índice de Satisfação Macroeconômica dessas empresas chegou a 93 pontos, vindo de 103 pontos no levantamento anterior (em fevereiro e março de 2023), em uma escala que varia de 0 a 200 pontos.

O pico da série, que começou em abril de 2022, coincide com as últimas eleições, em outubro e novembro do ano passado. Naquele momento, a satisfação dos industriais havia sido de 122 pontos.

De acordo com a entidade, a queda do índice foi causada, sobretudo, pela percepção negativa que os empresários dizem ter a respeito da situação econômica: 48% responderam que o cenário está ruim ou péssimo e apenas 14% o consideram bom ou ótimo.

Um dos principais fatores apontados para esse pessimismo é o patamar elevado da Selic, os juros básicos, atualmente em 13,75% ao ano e ainda sem uma sinalização por parte do Copom —o Comitê de Política Monetária do Banco Central— de que se iniciará o ciclo de quedas dos juros.

De março a maio, aumentou de 52% para 66% o percentual de empresas que dizem estar sendo muito prejudicadas pelas taxas de juros. Os que se dizem pouco prejudicados eram 24%, agora são 16%.

Entre os que não se sentem prejudicados, o percentual passou de 22% para 17%. No comparativo entre regiões, o percentual mais alto dos que se sentem muito prejudicados foi no Nordeste (77%) e mais baixo no Centro-Oeste e Norte (63%).

Quando olham para as próprias empresas, os industriais tendem a ser mais otimistas: a satisfação com a situação do negócio era de 121 pontos em março e abril, patamar semelhante ao do levantamento anterior (122 pontos), embora mais baixo do que em outubro e novembro passados (135 pontos).

A satisfação com o faturamento era de 140 pontos e de 108 em relação à margem de lucro. No Sudeste, a satisfação quanto à situação da empresa alcança 128 pontos; no Nordeste, esse índice é de 116.

A pesquisa, de abrangência nacional, ouviu 712 pessoas, entre os dias 9 e 29 de maio de 2023. A margem de erro para o total da amostra é de 4 pontos percentuais, para mais ou para menos e a confiança é de 95%.

Usada como instrumento de controle da inflação, a Selic afeta outras taxas, como aplicações financeiras e financiamentos.

“Quanto mais a Selic sobe, menor será o consumo das famílias, com uma tendência na queda da inflação. Por outro lado, quando ela cai, há um estímulo e aquecimento do mercado”, disse o presidente do Simpi, Joseph Couri.

Apesar disso, ele afirmou que não espera uma redução significativa dos juros em um horizonte próximo. “Não vejo uma redução para valer. Se tudo correr bem, vejo uma sinalização pequena, em 90 dias.”

Couri acrescenta que o empresário tem visto o poder de compra da sociedade em queda, enquanto busca manter a empresa de pé. Essa situação afeta diretamente a economia e provoca um sentimento de pessimismo.

A queda dos juros tem sido a principal queda de braço entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. O petista tem externado publicamente a sua insatisfação com o atual patamar da Selic.

Na última semana, em visita oficial à Itália, Lula disse que a manutenção da atual taxa de juros é irracional.

“Tenho cobrado dos senadores. Foram os senadores que colocaram esse cidadão lá. Então os senadores têm que analisar se ele está cumprindo aquilo que foi aprovado para ele cumprir. Na lei que está aprovada, ele tem que cuidar da inflação, do crescimento econômico e da geração de empregos. Então ele tem que ser cobrado. É só isso.”

“Não existe explicação aceitável do porquê a taxa de juros está 13,75%. Nós não temos inflação de demanda”, avaliou. “Acho sinceramente que esse cidadão está jogando contra os interesses da economia brasileira”, concluiu o petista.

O mais recente Boletim Focus, publicado na segunda-feira (26), aponta que o mercado espera um corte da Selic em agosto e que a inflação seja menor em 2023 e 2024.

Pela pesquisa do Simpi, 17% dos entrevistados fizeram alguma consulta para tomar empréstimos ou financiamentos em abril e maio, vindo de um patamar de 11% no bimestre anterior.

Ao mesmo tempo, 46% afirmaram que não conseguiram os recursos solicitados, 44% disseram ter conseguido e 10% não obtiveram uma resposta do banco.

DOUGLAS GAVRAS / Folhapress

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