Instalar usinas solares no Brasil é mais caro que em outros países emergentes, aponta AIE

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Brasil tem o maior custo de capital para instalar usinas solares entre economias emergentes analisadas pela AIE (Agência Internacional de Energia). O país perde, por exemplo, para Indonésia, México e Índia.

O dado faz parte de um relatório publicado pela agência nesta segunda-feira (6) e considera usinas de 100 MW (megawatts). O estudo trata sobre a produção de tecnologias para a geração de energia limpa no mundo.

De acordo com o relatório, um investidor que decidiu injetar recursos em uma usina solar no Brasil em 2022 teve no negócio um custo médio ponderado de capital (WACC, na sigla em inglês) entre 5,7% e 17,3% -a média do país, naquele ano, foi de 11,3%.

Em comparação, o México e a África do Sul registraram médias de 11%. Na Índia, a média é de 9,5%, e na Indonésia, 8,3%.

O custo médio ponderado de capital aponta a taxa mínima de retorno que o investidor deve alcançar para criar valor para os acionistas. O custo de capital é expresso em moedas locais, em termos nominais e após impostos.

Na plataforma que compara o custo de capital entre alguns países emergentes, a AIE aponta que Quênia, Senegal e Vietnã também têm custos menores que o Brasil. O WACC do Senegal é de 9%, o do Vietnã varia de 9% a 10,5%, e o do Quênia varia de 8,5% a 9% e -os dois primeiros, porém, são resultados indicativos, devido à falta de dados completos.

A AIE estabelece a moeda local como o maior risco ao qual o investidor brasileiro está suscetível. Em segundo e terceiro lugares estão o arcabouço regulatório do país e a possibilidade de o contratante da energia atrasar o pagamento.

A agência afirma que, no Brasil, o maior desenvolvimento de energia solar e eólica onshore aumentou as filas de conexão ao grid (rede de distribuição) e o tempo de espera dos projetos, causando atrasos na obtenção de licenças e conexões que impedem a visibilidade sobre a demanda futura.

“Os atrasos resultantes nos investimentos em instalações de fabricação doméstica podem, por sua vez, criar insegurança no fornecimento de componentes, atrasando ainda mais os projetos de instalação”, diz a AIE no relatório.

A análise considera apenas usinas de geração centralizada, em que a maioria das receitas do empreendimento é definida antecipadamente em contratos de longo prazo -no Brasil, por exemplo, a contratação via leilões organizados pelo Ministério de Minas e Energia e pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) pode chegar a 30 anos.

O estudo desconsidera, portanto, os custos de capital da geração distribuída, hoje a modalidade de energia renovável que mais cresce no país. Nesse modelo, placas solares são instaladas próximas ao ponto de consumo, como no telhado de alguma residência.

Ainda assim, na visão de especialistas, o alto custo de capital apontado pela AIE não inibe o aumento das instalações de usinas solares no país.

“O custo de capital está associado ao risco de crédito do país, e a gente tem juros altos, mas isso não quer dizer que o retorno está sendo baixo. A dívida pode estar mais alta do que em outros países, mas os investidores conseguem um retorno no equity [participação em investimentos em projetos], que eles colocam muito alto, em função principalmente dos subsídios”, diz Angela Gomes, diretora-técnica da PSR Consultoria.

“Hoje em dia no Brasil ainda temos um custo de capital alto, mas os investidores conseguem desenvolver modelos de negócios que tornam os projetos viáveis, como a autoprodução de energia”, acrescenta Edmundo Grune, também diretor-técnico da PSR.

Os autoprodutores de energia solar, por exemplo, pagam só 50% da taxa relativa ao uso do fio na transmissão e distribuição de energia -essa modalidade é restrita a grandes consumidores. Os benefícios dados a essa modalidade, segundo Grune, garantem desconto de cerca de R$ 100 por megawatt a esses produtores.

“Investimento em solar centralizada é uma ótima alternativa nacional e continua sendo bem atrativo. Esta comparação com custo de capital de outro países pode indicar apenas que o preço da energia aqui é mais caro do que poderia ser”, afirma Tiago de Barros Correia, consultor de energia da RegE Consultoria e ex-diretor da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

Para a Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica), o principal fator do custo de capital elevado apontado pela AIE são os custos de financiamento das usinas, por conta das taxas de juros elevadas.

“Ainda assim, o Brasil tem um volume muito significativo de energia solar e a razão disso é o nosso potencial. Estamos falando de país continental com áreas que podem ser dedicadas à geração de energia elétrica e um país que tem um dos melhores recursos do mundo, com irradiação solar muito acima da média”, diz Rodrigo Sauaia, presidente-executivo da Absolar.

CHINA CONTINUARÁ LÍDER ISOLADA

China, Estados Unidos e União Europeia representam cerca de 80% a 90% da capacidade de fabricação de energia solar fotovoltaica, eólica, bateria, eletrólise e bomba de calor, segundo a AIE.

A China, porém, representou três quartos dos investimentos globais em fabricação de tecnologia limpa em 2023. O país asiático também representa mais de 80% da capacidade de fabricação global de módulos solares fotovoltaicos, e essa dominância deve permanecer inalterada ao menos até o final da década, pontua a agência.

A análise aponta que a China é o produtor de menor custo para todas as tecnologias destacadas no relatório.

De acordo com a AIE, o principal fator que contribui para os custos de produção é o investimento de capital para estabelecer uma planta de fabricação e os custos de financiamento associados. A agência constatou, por exemplo, que as instalações nos EUA e na Europa são de 70% a 130% mais caras do que as da China para fabricação de energia solar, eólica e de baterias.

PEDRO LOVISI / Folhapress

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