Instituição que atua para bets movimentou dinheiro de listados na Interpol, diz polícia

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Uma investigação da Polícia Civil de Pernambuco mostra que casas de apostas e suas operadoras financeiras movimentam quantias em dinheiro vivo entre contas de mesma titularidade ou entre sócios e, também, de pessoas que constam na lista da Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal). Suspeita-se de dissimulação da origem e destino dos recursos.

Os documentos, aos quais a reportagem teve acesso, foram produzidos com informações do Ministério da Justiça, do Banco Central e do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).

A apuração mirou a Esportes da Sorte e depois chegou à influenciadora Deolane Bezerra e ao cantor Gusttavo Lima. Também é investigada a PayBrokers, empresa facilitadora que atua como um banco, intermediando movimentações financeiras de bets.

Nos documentos, a PayBrokers é citada por registrar mais de R$ 3,9 bilhões em movimentações suspeitas.

Procurada, a PayBrokers afirmou que atua de acordo com as normas do Banco Central, por transações rastreáveis e via Pix, e disse que transferências para o exterior também são monitoradas por instituições de fiscalização.

Sobre as transações para contas da mesma titularidade dos donos, a empresa declarou que “se refere a um procedimento operacional de segurança e todas as transações eletrônicas são declaradas de forma confiável e eficiente para empresas e indivíduos”.

“Todas as transações suspeitas são tratadas pelo time de analistas de prevenção à lavagem de dinheiro da Paybrokers, que realiza a verificação da legalidade das transações e dos usuários. Caso a suspeita persista, as transações são comunicadas ao Coaf”, disse a empresa.

Em relação aos casos da Interpol, a facilitadora disse que os “usuários não foram identificados em listas restritivas consultadas”.

“As transações financeiras, tanto de entrada, como de saída, passam por análise e regras rígidas de compliance, seja das instituições de pagamento, seja do Banco Central e, também da Esportes da Sorte. Qualquer apontamento, dúvida ou ponto de atenção, são imediatamente encaminhados ao Coaf”, disse a Esportes da Sorte.

A empresa disse ainda que o inquérito policial não tem fundamento e que o Ministério Público apontou as fragilidades da acusação penal. Por isso, revogou uma série de medidas restritivas.

“A Esportes da Sorte vem sendo vítima de diversas informações distorcidas e equivocadas propagadas na internet, contudo, indispensável esclarecer que as notificadas e as pessoas ligadas a si permanecem colaborando com as autoridades”, completou.

A Folha teve acesso a um relatório da diretoria de inteligência da Polícia Civil de Pernambuco, dentro do processo que investiga a casa de apostas. Nele, estão anexados relatórios financeiros do Coaf sobre os investigados e pessoas ou empresas relacionadas.

Em um desses documentos é apontado que a PayBorkers e suas filiais são citadas em um grande volume de movimentações consideradas suspeitas, em nomes de terceiros, que somam R$ 3,9 bilhões.

O relatório compreende o período entre janeiro de 2020 e abril de 2024, porém detalha apenas os casos que considera haver relação com o caso da Esportes da Sorte.

Entre eles, há dez transações intermediadas pela PayBrokers, realizadas por duas pessoas que constam na lista da Interpol. Os valores variam de R$ 15 a R$ 3.900 e somam quase R$ 10 mil.

Segundo os dados da agência internacional contra o crime organizado, uma dessas pessoas é suspeita de associação ilícita e fraude em dados de cartão de crédito ou débito de terceiros. A segunda consta na lista da Interpol por falsificar dinheiro e cartões.

A Polícia Civil pernambucana lista ainda mais de R$ 900 milhões movimentados pela PayBrokers entre contas de mesma titularidade, “o que pode indicar dissimulação da origem e destino dos recursos”. Há também pagamentos feitos aos próprios sócios.

“Identificou-se que a PayBrokers possui histórico de bloqueios judiciais de natureza de ação cível e ação criminal”, completa o relatório da investigação.

A operação que culminou na prisão de Deolane Bezerra e Gusttavo Lima começou com a apreensão de um saco de dinheiro vivo em um ponto do jogo do bicho, ligado aos sócios da Esportes da Sorte. A PayBrokers é a empresa financeira que opera não só para essa casa de apostas mas para centenas de outras.

Na investigação, a polícia identificou que a Esportes da Sorte recebeu R$ 19,5 milhões em um ano, entre março de 2022 e de 2023, dos quais R$ 10 milhões foram via a facilitadora.

Conforme o relatório da Polícia Civil, a HSF, empresa por trás da Esportes da Sorte, também recebeu depósitos em dinheiro vivo em valores altos.

Foram três pagamentos, de R$ 200 mil, R$ 90 mil e R$ 150 mil, feitos entre 2021 e 2022.

A polícia afirma que todo depósito em dinheiro acima de R$ 50 mil precisa ser comunicado ao Banco Central, o que não aconteceu nesses três casos.

A investigação em Pernambuco aponta ainda que os sócios da Esportes da Sorte e seus familiares efetuaram dezenas de movimentações em dinheiro vivo.

“Conforme pode se verificar, as movimentações suspeitas, além de serem em valores elevados, ocorreu de forma a dificultar a identificação de origem e destino, aliado ao fato de ter grande volume depositado em espécie, muito acima da capacidade financeira dos investigados”, diz a polícia.

O relatório da área de inteligência conclui que há “grande possibilidade da prática de lavagem de capitais” e pede a quebra de sigilo dos investigados.

JOÃO GABRIEL / Folhapress

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