SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Instituto Dana-Farber Cancer, afiliado à Escola de Medicina de Harvard e um dos centros oncológicos mais prestigiados do mundo, anunciou nesta segunda (22) que irá pedir a retratação de seis artigos científicos e a correção de outros 31 após denúncias de manipulação de dados e imagens.
A decisão faz parte de uma investigação ainda em curso que está revisando vários estudos, incluindo alguns de coautoria da CEO e presidente do instituto, Laurie Glimcher, do diretor de operações, William Hahn, e de pesquisadores renomados como Irene Ghobrial e Kenneth Anderson.
Os quatro são professores de Harvard, instituição que tem enfrentado uma série de alegações de má conduta. No início deste mês, Claudine Gay renunciou ao cargo de presidente da universidade sob acusações de plágio e após reações negativas a declarações suas sobre antissemitismo em uma audiência no congresso americano em dezembro.
Gay solicitou correções em alguns de seus escritos devido a problemas que a universidade descreveu como “citações inadequadas”.
No ano passado, a Harvard Business School colocou a professora Francesca Gino em licença administrativa após acusações de que seu trabalho continha dados falsificados.
Segundo Barrett Rollins, diretor-científico emérito e responsável pela integridade da pesquisa do instituto do câncer, alguns pedidos de retratações e correções já foram enviados aos periódicos científicos e outros estão sendo preparados.
“Estamos comprometidos com uma cultura de responsabilidade e integridade. Portanto, cada investigação é examinada integralmente para garantir a solidez da literatura científica”, disse em comunicado distribuído à imprensa norte-americana.
A investigação envolvendo o Dana-Farber Cancer ocorre depois que o biólogo molecular Sholto David publicou uma postagem no seu blog intitulada “Dana-Farberications na Universidade de Harvard”, alegando que pesquisadores do instituto do câncer manipularam imagens e dados.
Ele citou artigos publicados entre 1999 e 2017 que continham imagens esticadas, obscurecidas ou emendadas. Para David, essas imagens sugerem tentativas deliberadas de enganar os leitores.
O biólogo diz que usou uma combinação de software de análise de imagens de inteligência artificial e detecção manual para procurar erros nos artigos.
O uso de ferramentas de inteligência artificial tem possibilitado a descoberta de vários artigos com suspeitas de plágio e de imagens e resultados manipulados.
Recentemente, vieram a tona evidências de dados fabricados em vários artigos sobre a doença de Alzheimer. No ano passado, Marc Tessier-Lavigne renunciou ao cargo de presidente da Universidade de Stanford depois que se descobriu que alguns de seus artigos publicados continham resultados manipulados.
De acordo com Rollins, a instituição já estava analisando “potenciais erros de dados” em vários casos listados pelo blog antes mesmo da revelação por David, mas reforçou que os problemas descobertos não representam necessariamente má conduta.
“A presença de discrepâncias de imagem em um artigo não é evidência da intenção do autor de enganar”, disse Rollins no comunicado.
“Essa conclusão só pode ser tirada após um exame cuidadoso e baseado em fatos, que é parte integrante da nossa resposta. Nossa experiência é que os erros muitas vezes não são intencionais e não chegam ao nível de má conduta.”
Ele afirmou ainda que algumas alegações levantadas no blog contra os pesquisadores da Dana-Farber estão “erradas”, enquanto outras dizem respeito a dados gerados em laboratórios externos. No total, 16 manuscritos permanecem sob análise.
CLÁUDIA COLLUCCI / Folhapress