Internacional, currículo duplo ou bilíngue? Entenda conceitos sobre escolas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Escolas oferecem diferentes modalidades de ensino de línguas, mas os conceitos nem sempre são claros. O que caracteriza uma escola bilíngue, internacional ou com currículo duplo, por exemplo?

Para Luciana Brentano, do Laboratório de Bilinguismo e Cognição da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), as próprias escolas têm dificuldade de se autodefinir. “Algumas se denominam do jeito que querem.”

Essas classificações estão sob o guarda-chuva da educação bilíngue, termo para programas que envolvem o ensino de dois ou mais idiomas.

Para além do termo, uma escola bilíngue deve ter disciplinas como matemática, história e geografia ministradas em português e em outra língua.

A Camino School, na zona oeste de São Paulo, promove a alfabetização simultânea em português e inglês. Fundada em 2020, tem turmas da educação infantil ao ensino médio e em todos os segmentos há aulas nos dois idiomas. No fundamental 2 e no ensino médio, por exemplo, disciplinas de ciências são dadas em inglês, enquanto história e geografia, em português. A grade inclui ainda o espanhol como língua estrangeira.

“Nosso objetivo é preparar nossos estudantes para que não encontrem obstáculos linguísticos. Falar inglês é diferente de aprender em inglês”, diz Ana Paula Martins, coordenadora pedagógica.

Uma escola denominada internacional, por sua vez, segue calendário e diretrizes de outro país, geralmente para preparar alunos para morar fora. Nesse caso, a maioria das disciplinas é dada no idioma estrangeiro, com poucos componentes em português, como nas escolas americanas.

Existem também escolas que seguem as diretrizes do MEC e de outro país para fornecer dupla certificação. Podem ser bilíngues ou monolíngues, com algum projeto adicional verificado pelo respectivo governo estrangeiro.

O Colégio Dante Alighieri, na região oeste da capital paulista, tem aulas de inglês e italiano em seu currículo regular e oferece aos estudantes do nono ano um programa de high school até o segundo ano do ensino médio, com aulas ministradas por professores nativos dos Estados Unidos. A conclusão dá diploma reconhecido por universidades americanas.

A escola ainda dispõe de um currículo entre o sexto ano do fundamental e o terceiro ano do ensino médio que tem disciplinas divididas entre português e italiano e garante um certificado duplo, chancelado pela Itália desde o início deste ano. Com esse diploma, os estudantes podem acessar universidades na Itália.

Embora não ofereçam componentes curriculares além do português —e portanto não sejam consideradas bilíngues—, ainda estão sob o guarda-chuva da educação bilíngue as escolas com carga horária estendida para línguas. Nelas, há oferta de aulas focadas no aprendizado de gramáticas e vocabulários estrangeiros, como os colégios maristas.

A aquisição de outros idiomas não está restrita a um ou outro modelo. “Ser bilíngue é condição do sujeito que pode surgir a partir de variadas formas. A criança se tornar bilíngue ou não depende da qualidade dos professores, do material didático e da proposta”, diz Brentano, da UFRGS.

Além desses fatores, a idade segue como grande janela de oportunidades, embora não seja a única.

Segundo Janaina Weissheimer, colaboradora do Instituto do Cérebro da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), a plasticidade do cérebro de uma criança contribui para ela desenvolver um maior controle inibitório, que é a capacidade de sustentar a atenção e alternar entre tarefas. “Isso pode ser treinado de várias maneiras, e uma delas é sendo bilíngue.”

No cérebro dessa pessoa, os idiomas competem por atenção. “Parece uma coisa ruim, porque o bilíngue tem que fazer esforço maior, mas isso gera benefícios a longo prazo.”

Para Isabela Abbud, 17, que estuda no Dante desde os três anos, a naturalidade com que aprendeu inglês e italiano desde cedo a ajudou a manter seus conhecimentos mesmo após ter parado de estudar italiano, no nono ano. Hoje ela está no segundo ano do ensino médio e cursa o último semestre do high school.

“Se você me perguntar algo específico de conteúdo, talvez eu não saiba explicar, mas, na prática, sei falar.”

Na Escola Carlitos, na região central de São Paulo, o foco é o domínio de idiomas que permita que os estudantes consigam se virar. “Nada impede que o aluno se aprofunde e adquira fluência. Mas na vida real não é sequer necessário falar como nativo”, diz Milena Carasso, orientadora educacional e pedagógica.

A instituição, que tem turmas da educação infantil ao ensino fundamental 2, conta com aulas de inglês e francês para os alunos desde os três anos e de espanhol a partir dos seis anos, todas dadas como línguas estrangeiras.

BEATRIZ GATTI / Folhapress

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