SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A nova fase do open banking começa a valer nesta sexta-feira (29). Se trata do open investment, que permite o compartilhamento de dados referentes a investimentos entre instituições financeiras.
Por enquanto, apenas os grandes bancos estarão com o serviço disponível. Segundo o Banco Central, em breve essa etapa também será obrigatória para os demais participantes do mercado.
O compartilhamento de informações também está limitado aos produtos de renda fixa e de renda variável mais populares entre os brasileiros neste primeiro momento. São eles:
○ Ações;
○ CDBs (Certificados de Depósito Bancário);
○ CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários);
○ CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio);
○ Debêntures;
○ ETFs (fundos de índices listados na Bolsa de Valores);
○ Fundos de investimento (renda fixa, ações, cambial e multimercado);
○ LCI (Letras de Crédito Imobiliário);
○ LCA (Letras de Crédito do Agronegócio);
○ RDB (Recibo de Depósito Bancário);
○ Títulos públicos federais disponibilizados pelo Tesouro Direto.
Há uma razão técnica para a nova fase começar sem algumas instituições e investimentos. São muitos dados envolvidos, o que demanda uma alta capacidade de processamento. Além disso, essas informações são sensíveis, protegidas não só pela LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), como pela Lei de Sigilo Bancário, o que implica alto investimento em tecnologia.
A XP é uma das corretoras que ficará de fora da estreia do open investment por não entrar no rol das instituições obrigadas a aderir à iniciativa neste momento. Segundo a empresa, estão sendo feitas adequações para que ela entre no programa entre o fim deste ano e o começo de 2024.
Segundo João André Pereira, chefe de regulação do sistema financeiro do BC, é necessário assegurar um bom funcionamento do básico, antes de expandir o programa. Ele diz ainda que foram feitos muitos testes e simulações com os bancos para que eles se adequem às regras de segurança estabelecidas.
“Esse é um projeto de médio e longo prazo do BC. O que a gente quer é redução de preço com mais transparência e eficácia”, diz Pereira.
A aposta do setor é que as novas fases do open finance tragam mais competitividade para deixar a qualidade do serviço como o principal diferencial para atrair clientes.
Dentre os participantes iniciais, o foco é contratar e treinar assessores de investimento que possam analisar os dados compartilhados e sugerir mudanças aos clientes com base na totalidade da carteira, e não só levando em conta o que ele tem naquele banco em específico.
“Há no mercado um movimento de ‘commoditização’ de produtos de investimento. Por isso, ele está baseado em assessoria e relacionamento. O diferencial na construção e manutenção desse relacionamento estará em quem pode oferecer ao cliente o que ele precisa, naquele momento, conhecendo seus objetivos”, diz Eduardo Villela, executivo de alocação e produtos de investimentos do Banco do Brasil, que investiu na repaginada do aplicativo de investimentos.
De acordo com profissionais da área, é provável que o contato entre gerentes, assessores e clientes aumente. Não só para motivar o compartilhamento de informações, mas para ofertar produtos de investimentos próprios de cada instituição, de modo que o cliente faça a troca pelos que têm na concorrência. Os bancos indicam ainda que, num futuro próximo, vão ofertar condições e produtos especiais para que isso aconteça.
Segundo especialistas, para evitar eventuais assédios, a dica é partilhar dados apenas com a instituição em que o cliente tem o maior relacionamento e preferência. Outra recomendação é checar se a instituição com a qual se compartilha informações está credenciada ao open finance no site do programa, para evitar golpes ou vazamento de dados.
As instituições também correm para desenvolver seus agregadores de investimento, onde será possível visualizar e organizar todos os ativos compartilhados. Neles, a inteligência artificial é chave, com automatização de recomendações de investimento com base no perfil de risco do cliente.
“O nosso agregador vai conseguir captar qualquer investimento que você tenha que fuja do seu perfil de investidor e te alertar que aquilo está errado”, diz Geraldo Rodrigues Neto, diretor de investimentos do Santander.
O Bradesco vai disponibilizar assessores de investimento para todas suas faixas de cliente, do varejo ao private, por meio de seu agregador, o aplicativo Invest+. Nele, o banco também incluiu a possibilidade de o investidor adicionar manualmente ativos não financeiros, como imóveis, automóveis e obras de arte.
O agregador do Itaú, por sua vez, fica no app do íon. “Mesmo sem a tubulação do open investment, os clientes já incluíam seus dados no sistema. Agora, a performance desse serviço tende a ser melhor, com atualização em tempo real”, diz Estevão Lazanha, diretor de canais digitais para pessoa física do banco.
PASSO A PASSO DE COMO COMPARTILHAR DADOS NO OPEN FINANCE
Para transportar informações relativas a investimentos entre as instituições, é preciso:
1. Acessar a corretora ou o banco para o qual você quer levar dados;
2. Nele, você deve buscar a funcionalidade open finance. Aqui, pode ser que você seja direcionado ao app agregador do banco;
3. Depois, escolha de qual banco você quer importar as informações;
4. Em seguida, selecione quais investimentos você quer informar àquela instituição e por quanto tempo gostaria de manter o compartilhamento;
5. Ao fim, você será redirecionado ao aplicativo ou à página do banco do qual está puxando os dados, para que passe pelas camadas de segurança da instituição e autorize o compartilhamento;
6. Feito isso, você poderá visualizar todos os seus investimentos em um só lugar;
7. Se mudar de ideia antes do prazo estipulado, ou quiser interromper a troca de dados entre seus bancos, basta solicitar o fim do compartilhamento.
JÚLIA MOURA / Folhapress