SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A gestora de recursos Pátria Investimentos, com cerca de R$ 135 bilhões em ativos sob gestão, chamou a atenção do mercado nesta semana após anunciar que os investidores perderam todo o dinheiro aplicado.
O fundo em questão é o Pátria Special Opportunities II Fundo de Investimento em Participações Multiestratégia, de investimento em shopping centers.
Em fato relevante divulgado nesta segunda-feira (24), a gestora informou que o valor da cota havia passado de R$ 10,55 para R$ 301,04 negativos no dia 19 de julho.
Segundo a gestora, o prejuízo foi sacramentado após a venda da participação na Portfolio. A operação envolveu a venda de quatro shoppings detidos pela Portfolio, localizados em Taubaté (SP), Lages (SC), Varginha (MG) e Bragança Paulista (SP), informou o Pátria.
De acordo com a gestora, a transação foi realizada na modalidade “porteira fechada”, com a transferência de todos os ativos, passivos e obrigações da holding e de seus shoppings.
O Pátria diz que o comprador dos ativos, que não teve o nome revelado, tem expertise em reestruturação de negócios e empresas do setor imobiliário.
Segundo pessoas familiarizadas com o investimento, para entender o que aconteceu com o fundo, é preciso voltar para o início da década passada.
Em meados de 2010, quando o Brasil era capa da revista “The Economist” com o Cristo Redentor decolando, o Pátria apostou na tese de investimento de shoppings no interior do Brasil, em alguns casos em cidades que ainda não contavam com centros comerciais. Para isso, estruturou o fundo Pátria Special Opportunities 1, que levantou à época cerca de R$ 1 bilhão.
Os anos que se seguiram, contudo, não foram positivos para os investimentos do fundo, que amargou prejuízos sucessivos devido à recessão econômica durante o mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Para pagar as dívidas acumuladas, que chegaram a ultrapassar a marca de R$ 2 bilhões, os gestores do Pátria entraram em contato com os cotistas do Special Opportunities 1 para negociar um aporte de capital, calculado em torno de R$ 300 milhões.
Houve resistência de parte dos cotistas em aportar novos recursos, o que levou a gestora a optar pela estruturação do Special Opportunities 2.
O novo fundo, estruturado em 2020 com R$ 50 milhões e cerca de 50 investidores, contou com uma injeção de capital relevante dos próprios sócios do Pátria e tinha como objetivo fazer os investimentos necessários para manter a operação de shoppings no interior do Brasil de pé.
Ainda de acordo com as pessoas que acompanharam a operação de perto, o aporte adicional até permitiu que as operações maturassem e começassem a trazer o retorno esperado.
Pouco após a criação do novo fundo, no entanto, veio a pandemia, que obrigou os shoppings a fecharem as portas. Além de não poder contar com a receita das lojas abertas, o fundo passou a acumular um fluxo negativo de caixa para fazer frente aos encargos com a manutenção dos centros comerciais fechados.
Reconhecendo que a tese não teve o desempenho esperado, os gestores do Pátria passaram a vender nos últimos anos os 13 shoppings que tinham na carteira, e concluíram as negociações dos últimos quatro que ainda restavam na segunda quinzena de julho.
Para conseguir se desfazer da operação que reunia os quatro shoppings por meio da holding Portfolio Centro Sul, os gestores do Pátria tiveram de aceitar uma condição imposta pelo comprador, que era assumir determinadas dívidas e contingências que se acumularam.
A dívida assumida pela gestora para conseguir se desfazer da operação soma cerca de R$ 15 milhões, valor que será rateado entre os cotistas para que o fundo possa ser encerrado. Com isso, cada cotista deverá aportar cerca de R$ 300 mil nas próximas semanas para quitar as dívidas em aberto.
O aporte não deverá ser um grande problema aos envolvidos, visto que investiram recursos no fundo somente investidores tidos como profissionais pela legislação de mercado, que são aqueles com mais de R$ 10 milhões em investimentos. Concluída essa transação, o Pátria irá encerrar as atividades do fundo.
LUCAS BOMBANA / Folhapress