RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O vídeo da reação do atirador que matou a policial militar Vaneza Lobão, 31, após o fuzil que ele portava falhar, indica treinamento tático policial, aponta a investigação. Isso porque após a pane, em vez de ele tentar resolver a falha, como uma pessoa sem treinamento poderia fazer, ele faz a troca rápida do armamento para uma pistola e continua o ataque.
As informações fazem parte da conclusão da investigação da Delegacia de Homicídios da Capital e da Corregedoria da Polícia Militar. Nesta quarta (7), dois subtenentes da PM foram presos sob suspeita de envolvimento no assassinato da agente. Após depoimento, um deles justificou as consultas feitas à placa do veículo da policial, e a Polícia Civil irá retirar seu nome da continuidade do inquérito.
Em nota, a Polícia Civil disse que “a prisão temporária é um instrumento para auxiliar nas investigações e, durante esta etapa, restando concluído que não há mais suspeita sobre o detido, é pedida a revogação da prisão, como ocorreu neste caso”.
Os três homens que participam do ataque que matou a tiros a policial ainda não foram identificados.
Imagens de uma câmera de segurança da rua mostram que um carro, modelo Ford Fiesta, estacionou próximo à casa de Vaneza, em Santa Cruz, zona oeste do Rio, às 19h55 do dia 23 de novembro de 2023.
Após estacionarem, os criminosos aguardam por mais de uma hora até a vítima sair de casa. Às 21h06, a esposa de Vaneza sai da residência e entra no banco de carona do carro que Vaneza havia comprado há duas semanas. Ambas iriam para a academia.
A polícia afirma acreditar que os atiradores chegaram até o endereço da policial após ela colocar o local da residência para o registro do veículo. Ainda segundo a investigação, a placa dos veículos utilizados por Vaneza estavam sendo monitorados pelos agentes presos nesta quarta; eles negam.
Quando Vaneza sai de casa, o atirador que estava no banco do carona deixa o veículo já realizando disparos na vítima com um fuzil e, após ela correr para o sentido oposto, ele a persegue. A vítima se rende, levantando as mãos para o alto, mas o atirador a mata com diversos tiros de pistola.
As imagens mostram que durante o ataque há uma rápida troca de armamento e, segundo os investigadores, isso deve ter ocorrido por uma possível falha do fuzil. Além da forma de andar com o armamento e da forma de atirar, a rápida transição da arma -soltando o fuzil na bandoleira e pegando a pistola na cintura-aponta técnica policial, aponta a apuração.
Não só essa habilidade fez a polícia à conclusão de que o atirador é um policial: a munição da pistola pertencia à Polícia Militar.
No local do crime foi encontrado um estojo de pistola no calibre .40 S&W, o preferido e mais usado pelos policiais, segundo os investigadores. Após rastreamento, a Polícia Civil descobriu que a munição original foi comprada em um lote de 2009 e totalmente entregue naquele ano para o 31º BPM (Recreio dos Bandeirantes).
Em nota, a Polícia Militar afirmou que “não compactua com o cometimento de crimes ou desvios de conduta por parte de seus entes, punindo com contundente rigor os envolvidos quando constatados os fatos”.
SUSPEITO RECEBIA PROPINA DA MILÍCIA, DIZ INVESTIGAÇÃO
Segundo a investigação, o subtenente da PM preso nesta quarta por suspeita de envolvimento no homicídio da policial receberia R$ 5.000 por semana (R$ 20 mil por mês) de Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho, apontado como líder da maior milícia do Rio de Janeiro. Segundo a Polícia Militar, a denúncia foi recebida em 2023 e causou a saída forçada do agente da corregedoria da corporação.
O policial negou participação no crime. Procurada pela reportagem, a defesa de Zinho não respondeu. Em manifestações anteriores, sempre negou que o preso seja líder de milícia.
Para os investigadores, a motivação da morte de Vaneza teria sido o seu trabalho na Corregedoria: ela era especialista na milícia de Zinho, de acordo com a Polícia Militar. Um dos seus trabalhos era preencher uma planilha com possíveis policiais militares que poderiam ter envolvimento com a organização de Zinho.
BRUNA FANTTI / Folhapress