Investigadores apuram segunda saída de Ronnie Lessa na noite da morte de Marielle

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Depoimentos da investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes indicam que o policial reformado Ronnie Lessa, acusado de ter atirado nos dois, fez outra saída na madrugada do crime, após ter voltado a sua casa, na Barra da Tijuca.

Em nova declaração dada em juízo, a mulher do PM, Elaine Lessa, disse que o marido chegou à residência quando já estava quase amanhecendo.

O novo depoimento de Elaine, dado no dia 23 de maio deste ano, contradisse o que ela havia dito anteriormente nas investigações, de que o marido e o ex-PM Élcio de Queiroz -suspeito de ser o motorista do carro usado para cometer o homicídio- estavam na casa de Ronnie, no condomínio Vivendas da Barra, no momento em que o crime ocorreu.

A Polícia Federal e o Ministério Público investigam essa segunda saída de Ronnie.

A nova declaração de Elaine desmontou um álibi de Ronnie e Élcio e contribuiu para que o ex-PM decidisse assinar um acordo de colaboração sobre o caso, segundo o Ministério Público e a Polícia Federal.

Inicialmente, a dupla havia afirmado que, no dia do crime, ficou na casa do casal até por volta das 21h e depois seguiu para um bar na avenida Olegário Maciel, também na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. Marielle e Anderson foram assassinados a tiros por volta das 21h09 e 21h12 no Estácio, bairro no centro da cidade.

No depoimento mais recente, Elaine disse que chegou em casa por volta das 18h30 e já não tinha ninguém lá. Na delação, Élcio afirmou que encontrou com Ronnie às 17h no condomínio e logo em seguida tomaram o rumo para cometer o assassinato.

Ainda segundo a delação de Élcio, após o crime, os dois foram para o bar Resenha, na Olegário Maciel, onde ficaram até as 4h.

A mulher de Ronnie, por sua vez, afirmou que o marido chegou em casa mais tarde, próximo ao amanhecer, “pois pouco tempo depois acordou para levar seu filho na escola”. Ronnie já havia dito aos investigadores que teria saído de casa novamente após retornar do condomínio, na madrugada daquela noite.

Ele, porém, afirmou não se lembrar exatamente para onde foi, mas que seria para um dos quiosques da região.

“Eu tive que levar ele [Élcio] para minha casa, para ele pegar o carro dele, e eu continuei na rua”, disse Ronnie, em depoimento dado em outubro de 2019. “Todos os trailers ali, eu posso ter parado em qualquer um deles. Mas aí, no dia seguinte, lembrar exatamente qual foi, fica difícil.”

No depoimento de Élcio da mesma época, o ex-PM afirmou que era normal Ronnie sair de casa depois que bebia. “Eu não vi [ele entrando em casa]. Ele ficou me olhando ir embora com o carro”, disse.

Já na delação firmada agora, Élcio afirmou que antes de sair do condomínio de Ronnie, o amigo deu a ele R$ 1.000, mas afirmou que não tinha relação ao assassinato de Marielle e Anderson.

“Ele falou: “Vou te dar isso aqui cara, segura isso aqui, mas não é por causa disso não hein, não tem nada a ver com o crime não’. E me deu R$ 1.000”, disse Ronnie.

REGISTRO DA PORTARIA

No depoimento de dois meses atrás, Elaine também afirmou aos investigadores que, ao informar Ronnie de que ele tinha sido intimado pela Polícia Civil, o marido “pediu imediatamente para ir à portaria e pegar o registro de entrada do condomínio no dia 14 de março de 2018”.

Segundo Elaine, o pedido foi feito por Ronnie mesmo sem ter nenhuma informação do caso na intimação. A hipótese dos investigadores para isso é que o policial reformado já soubesse de que se tratava das investigações do caso Marielle.

A mulher de Ronnie afirmou ainda que chegou a perguntar ao marido qual era a necessidade do registro, mas ele respondeu apenas que “iria precisar”.

A intimação foi enviada à casa dos pais de Elaine, no bairro Pechincha, também na zona oeste. O local já foi alvo de operações passadas sobre o caso, sob suspeita de ter sido usado por Ronnie para esconder suas armas quando foi preso.

CAMILA ZARUR / Folhapress

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