FLORIANÓPOLIS, SC (FOLHAPRESS) – A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de elevar a Selic de 11,25% para 12,25% em dezembro deve impactar investimentos de renda variável com mais dependência de crédito para sustentar o fluxo de caixa. Setores com baixo endividamento e caixa previsível tendem a enfrentar menos pressão em um cenário de altas de juros.
Por outro lado, setores como varejo e construção civil podem ser afetados no curto prazo, devido à redução na oferta de crédito e no consumo. Segundo especialistas, a elevação da taxa básica de juros indica a preocupação do BC com a inflação, possibilitando no médio prazo o aumento do poder de compra e favorecendo investimentos em renda variável.
Para proteger o patrimônio, a recomendação é diversificar os investimentos. Além disso, é fundamental acompanhar as condições econômicas para adaptar a estratégia de investimento sempre que necessário.
Segundo Bruna Sene, analista de renda variável da Rico, investimentos em setores que fornecem serviços essenciais com demanda estável tendem a ser menos impactados pelas altas dos juros. Essas empresas, geralmente, operam com contratos de longo prazo e possuem receitas recorrentes, o que aumenta sua resiliência.
“Setores ligados a energia, saneamento, óleo e gás são menos sensíveis por maior previsibilidade da demanda. Além disso, empresas com baixo endividamento e estrutura de capital sólida enfrentam menos pressão em cenários de juros altos devido à menor exposição ao custo de financiamento”, diz.
Para especialistas, o setor financeiro pode se beneficiar com a alta na Selic. Isso ocorre porque os bancos podem ampliar suas margens de lucro ao aumentar os juros em empréstimos e financiamentos, já que o spread bancário, a diferença entre os juros cobrados nos empréstimos e os pagos nos depósitos, tende a crescer.
O setor de seguros também ganha com o aumento da taxa. Índices mais altos elevam os rendimentos dos investimentos realizados pelas seguradoras, fortalecendo sua rentabilidade. Além disso, a alta da Selic torna os produtos de previdência privada mais atrativos para investidores, impulsionando a demanda.
Investimentos em negócios mais expostos ao dólar devem enfrentar um menor impacto das altas de juros no Brasil. Setores voltados para exportação de commodities, como mineração e agronegócio que têm baixo endividamento e resultados estáveis, podem se beneficiar da valorização cambial que geralmente acompanha altas de juros.
No entanto, a exposição ao dólar também traz desafios no médio prazo. Segundo Gilberto Nagai, superintendente de renda variável da SulAmérica, a alta da taxa de juros torna o mercado brasileiro mais atrativo para investidores estrangeiros, aumentando o fluxo de capital e apreciando o real. Com isso, as exportações podem perder competitividade, já que os produtos brasileiros ficam mais caros no mercado internacional.
Para Paula Zogbi, gerente da Nomad, ativos ligados ao cenário doméstico ainda sofrem com fatores que afastam o fluxo financeiro da Bolsa. “Uma alternativa é investir diretamente em outras economias, como BDRs (certificados de depósito de valores mobiliários), ações globais ou bonds, que são títulos de dívida emitidos por empresas ou governos no exterior”, afirma.
SETORES MAIS AFETADOS
O varejo tradicional, especialmente nos segmentos de vestuário e shoppings, tende a ser impactado pela alta dos juros. A menor disponibilidade de dinheiro reduz as vendas, enquanto o aumento do custo do crédito aumenta as despesas das empresas.
Segundo Jeff Patzlaff, especialista em investimentos, o encarecimento do crédito também deve afetar a demanda por financiamentos imobiliários, impactando negativamente as vendas nesse setor.
Em um ambiente de elevação das taxas de juros e incertezas fiscais, setores mais cíclicos e de empresas em fase de crescimento, como o de small caps, e os índices setoriais de consumo e imobiliário, costumam ser os mais penalizados.
Para Matheus Amaral, especialista em renda variável no Inter, companhias onde o mercado espera fluxos de caixa maiores no longo prazo, ou seja, empresas emergentes, podem sofrer maior impacto com o aumento dos juros, que afeta a taxa de desconto, que é o valor que investidor exige para compensar o risco de investir em um ativo ou projeto, como em alguns casos no setor de saúde e de tecnologia.
INVESTIMENTOS EM RENDA VARIÁVEL
MAIS AFETADOS PELO AUMENTO NA TAXA SELIC
Varejo (produtos e serviços para o mercado interno)
Construção civil
Small caps e empresas em crescimento
Saúde
Tecnologia
MAIS RESILIENTES AO AUMENTO NA TAXA SELIC
Setor financeiro (bancos e seguradoras)
Exportadores de commodities (mineração e alimentos)
Energia
Saneamento
Óleo e gás
FELIPE BRAMUCCI / Folhapress