IPCA-15 fecha 2023 com inflação de 4,72%, acima das projeções

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A inflação medida pelo IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) acelerou a 0,40% em dezembro, após marcar 0,33% em novembro, apontam dados divulgados nesta quinta-feira (28) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A nova taxa, mesmo com a aceleração, é a menor para o último mês do ano desde 2018 (-0,16%).

Com o resultado, o IPCA-15 fechou 2023 com alta de 4,72% no acumulado de 12 meses. É a menor variação em três anos, desde 2020 (4,23%). O índice havia subido 10,42% em 2021 e 5,90% em 2022.

A taxa de 4,72% está abaixo do teto da meta de inflação perseguido em 2023 (4,75%) pelo BC (Banco Central) para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), também calculado pelo IBGE.

Apesar disso, tanto o acumulado (4,72%) quanto a variação mensal (0,40%) ficaram bem acima das previsões do mercado financeiro para o IPCA-15. Na mediana, analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam avanço de 4,58% em 2023 e de 0,27% em dezembro.

O IPCA-15 sinaliza uma tendência para os preços medidos no IPCA, que é o indicador oficial de inflação do Brasil. O centro da meta perseguida pelo BC é de 3,25% no acumulado de 2023. A tolerância é de 1,5 ponto percentual para mais (4,75%) ou para menos (1,75%).

Ou seja, a meta será cumprida se o IPCA ficar dentro desse intervalo até dezembro. A inflação estourou a medida de referência em 2021 e 2022.

Embora os dados divulgados nesta sexta tenham vindo acima das projeções, a leitura qualitativa do IPCA-15 não é tão ruim quanto pode parecer, aponta relatório dos economistas Daniel Karp e Adriano Valladão, do banco Santander Brasil.

Segundo eles, a maior parte da surpresa em dezembro está associada a componentes voláteis, como a passagem aérea. “O processo de desinflação continua, mas é um caminho acidentado”, dizem os economistas.

João Savignon, diretor de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, vai na mesma linha. De acordo com ele, mesmo vindo “muito acima” da mediana, o IPCA-15 não deve ser interpretado como ruim, já que a maior parte dos desvios foi em itens voláteis, que não compõem os chamados núcleos de inflação.

“Vamos ajustar para cima a nossa projeção para o IPCA de dezembro, tendo em vista a surpresa de hoje [sexta], mas isso não muda as perspectivas para a condução da política monetária”, afirma.

PASSAGEM AÉREA PRESSIONA DADO MENSAL

No mês de dezembro, 7 dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados no IPCA-15 tiveram alta de preços. A maior variação (0,77%) e o principal impacto (0,16 ponto percentual) vieram de transportes.

Dentro desse grupo, o subitem passagem aérea subiu 9,02%. Assim, teve o maior impacto individual no índice do mês (0,09 ponto percentual).

ALIMENTOS SOBEM EM DEZEMBRO, MAS CAEM NO ANO

Os grupos alimentação e bebidas (0,54%) e habitação (0,48%) também registraram aumento neste mês. Os segmentos contribuíram com 0,12 e 0,07 ponto percentual, respectivamente.

Dentro de alimentação e bebidas, a alimentação no domicílio subiu 0,55% em dezembro. O IBGE destacou as altas da cebola (10,63%), da batata-inglesa (10,32%), do arroz (5,46%) e das carnes (0,65%).

Os preços do tomate (-7,95%) e do leite longa vida (-1,91%), por outro lado, caíram neste mês. Já a alimentação fora do domicílio (0,53%) acelerou em relação a novembro (0,22%).

Os preços da comida costumam subir na reta final do ano sob impacto da demanda típica do período. Nas últimas semanas, o Brasil também registrou fenômenos climáticos extremos, como calor intenso e chuvas fortes, o que dificultou o cultivo de parte dos alimentos.

Apesar da pressão em dezembro, a alimentação no domicílio fechou 2023 com queda (deflação) de 0,82% no acumulado do ano. É a primeira redução desse subgrupo desde 2017 (-5,18%).

O resultado ajudou a segurar o IPCA-15 em 12 meses. Conforme analistas, a trégua dos alimentos veio na esteira de fatores como o aumento da oferta de produtos da safra agrícola e das carnes. Os preços das carnes subiram 0,65% em dezembro, mas fecharam o acumulado do ano com redução de 9,26%.

Nos 12 meses de 2023, emplacamento e licença (21,37%) e gasolina (11,1%) foram os subitens que geraram as principais pressões individuais no IPCA-15. Os impactos foram de 0,54 e 0,52 ponto percentual, respectivamente.

IPCA-15 E IPCA

A coleta dos preços no IPCA-15 se concentra entre a segunda metade do mês anterior e a primeira do mês de referência da divulgação. Neste caso, a apuração foi de 15 de novembro a 14 de dezembro.

Para a economista Claudia Moreno, do C6 Bank, a composição do IPCA-15 deste mês mostra um resultado “mais benigno” do que a surpresa da taxa de 0,40% sugere. A principal explicação para o resultado vem dos preços das passagens aéreas, diz a economista.

Segundo Moreno, o IPCA-15 deve terminar o ano “um pouco acima de 4,5%”. Ou seja, abaixo do teto da meta de inflação (4,75%).

A coleta dos preços no IPCA ocorre ao longo do mês de referência do levantamento. Por isso, o resultado de dezembro ainda não está fechado. Será publicado pelo IBGE no dia 11 de janeiro.

Na mediana, analistas do mercado financeiro projetavam IPCA de 4,46% em 2023, conforme a edição mais recente do boletim Focus, divulgada pelo BC na terça (26). A previsão está abaixo do teto da meta.

LEONARDO VIECELI / Folhapress

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