IPCA-15 fecha 2024 em 4,71%, acima do teto da meta de inflação do IPCA

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Pressionado pela carestia dos alimentos, o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) fechou o acumulado de 2024 com alta de 4,71%, segundo dados divulgados nesta sexta (27) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A variação supera o teto da meta de inflação para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) deste ano. O limite é de 4,5%.

O resultado de 2024, contudo, ficou levemente abaixo do registrado pelo IPCA-15 em 2023 (4,72%). A taxa de 4,71% é a menor para o índice prévio desde 2020 (4,23%).

Considerando apenas o mês de dezembro de 2024, a inflação medida pelo IPCA-15 desacelerou a 0,34%, após marcar 0,62% em novembro.

O novo resultado veio bem abaixo da mediana das projeções do mercado financeiro, que era de 0,46%, conforme a agência Bloomberg.

Economistas afirmam que grande parte da surpresa ficou concentrada nas passagens aéreas, que subiram menos do que o esperado (4,43%).

O IPCA-15 de 0,34% é o menor para meses de dezembro desde 2018 (-0,16%). O índice foi puxado para baixo pela energia elétrica residencial, que recuou 5,72% no último mês de 2024.

O IBGE associou a queda da conta de luz ao retorno da bandeira tarifária verde em dezembro. A medida retirou a cobrança adicional das faturas dos consumidores.

O cigarro, por outro lado, subiu 12,78% neste mês. Assim, pressionou o IPCA-15 do lado das altas no recorte individual.

Comida mais cara

Quando a análise considera os grupos de bens e serviços pesquisados, o destaque vai para alimentação e bebidas. O segmento registrou a maior variação e o principal impacto positivo no mês (1,47% e 0,32 ponto percentual).

O mesmo grupo também puxou o IPCA-15 no acumulado do ano. O segmento de alimentação e bebidas teve a maior variação e a principal contribuição em 2024: 8% e 1,68 ponto percentual.

A alta de 8% é a maior para o grupo desde 2022 (11,96%). A variação havia sido de 0,83% em 2023.

Analistas afirmam que os preços foram impulsionados em 2024 pela redução da oferta de parte dos alimentos em meio a problemas climáticos no país. O dólar alto e as exportações aquecidas de carne também teriam impactado a inflação da comida.

Individualmente, a gasolina (0,44 ponto percentual), o plano de saúde (0,31 ponto percentual) e a refeição fora de casa (0,21 ponto percentual) foram os principais elementos de pressão no ano.

Provável estouro da meta

O IPCA-15 sinaliza uma tendência para os preços no IPCA, já que é divulgado antes. O IPCA, por sua vez, é o índice oficial de inflação do Brasil e serve de referência para o regime de metas perseguido pelo BC (Banco Central).

Em 2024, o centro da meta é de 3% no acumulado de 12 meses. A tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos ou para mais.

Isso significa que o IPCA precisaria fechar este ano no intervalo de 1,5% (piso) a 4,5% (teto) para cumprir a meta. Analistas e o próprio BC, porém, esperam um estouro dessa medida.

Na mediana, as projeções do mercado financeiro apontam inflação de 4,91% para o IPCA deste ano, de acordo com a edição mais recente do boletim Focus, divulgada na segunda (23).

Se as estimativas se confirmarem, o futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, será obrigado a escrever uma carta aberta ao ministro Fernando Haddad (Fazenda) logo após assumir o comando da instituição, em janeiro de 2025. O documento deve explicar os motivos do provável estouro da meta.

Após a divulgação do IPCA-15, a consultoria LCA reduziu sua projeção para o IPCA de 2024, de 5% para 4,9%. Mesmo assim, a previsão segue acima do teto de 4,5%.

“O IPCA-15 de dezembro veio abaixo da nossa expectativa e do consenso do mercado, com surpresa baixista em passagem aérea, possivelmente com alguma devolução do resultado mais alto na leitura de novembro [22,56%]”, afirma o banco Itaú em relatório.

Apesar dessa surpresa, a instituição financeira diz que, em termos qualitativos, o IPCA-15 seguiu piorando na margem mais do que o esperado, com aceleração dos serviços subjacentes.

Os serviços subjacentes desconsideram preços mais voláteis, como os das passagens aéreas. Trata-se de um componente acompanhado de perto pelo BC na hora de definir a taxa básica de juros (Selic).

A atividade econômica aquecida, com desemprego na mínima histórica, tende a estimular a demanda por bens e serviços. O possível efeito colateral é a pressão sobre a inflação.

O aumento dos preços força o BC a elevar os juros para tentar esfriar o consumo e, assim, ancorar as expectativas para o IPCA.

IPCA-15 e IPCA

O IPCA-15 coleta a variação dos preços entre a segunda metade do mês anterior e a primeira metade do mês de referência. Neste caso, o trabalho ocorreu de 13 de novembro a 12 de dezembro.

O IBGE afirma que a metodologia é a mesma do IPCA, mas há diferenças no período de coleta e na abrangência geográfica das pesquisas.

A apuração dos preços do IPCA está concentrada no mês de referência do levantamento. Por isso, o resultado de dezembro ainda não está fechado. Será publicado pelo IBGE no dia 10 de janeiro.

O ano de 2024 é o último do sistema de metas com base no chamado ano-calendário, de janeiro a dezembro. Em 2025, o BC passará a perseguir a meta de forma contínua, sem se vincular ao ano-calendário.

No novo modelo, a medida de referência será considerada descumprida quando a variação do IPCA em 12 meses ficar por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância.

LEONARDO VIECELI / Folhapress

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