SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Iphan, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, firmou uma parceria com a Universidade de Pelotas para restaurar 20 obras de arte vandalizadas durante os ataques do dia 8 de janeiro de 2023.
O acervo faz parte do Palácio do Planalto e conta com peças como a escultura “Galhos e Sombras”, de Frans Krajcberg, e a tela “As Mulatas”, de Di Cavalcanti. A pintura, estimada em cerca de R$ 3,2 milhões, foi perfurada sete vezes durante a invasão. Já os galhos que compõem o trabalho de Krajcberg foram quebrados e jogados longe. O governo estima que a obra vale R$ 300 mil.
Os trabalhos de restauro custarão R$ 2,2 milhões e devem ser concluídos em até um ano. Presidente do Iphan, Leandro Grass afirma que algumas obras podem guardar marcas do vandalismo mesmo depois de restauradas para preservar a história dos itens.
“Isso é uma escolha técnica e científica dos conservadores, mas, possivelmente, algumas peças trarão a história junto com elas. As obras terão sua plenitude de volta, mas vão trazer cicatrizes, as marcas do passado, sem descaracterizá-las e deixar de oferecer sua beleza e suas marcas culturais.”
Ele afirma que o trabalho de restauro deve contar com várias etapas, sendo que a primeira consiste na análise dos danos e dos materiais que podem ser usados na restauração. Depois, é necessário limpar a obra, catalogar fragmentos para colá-los e, quando necessário, pintar novamente a peça. “Como é uma atividade técnico-científica, o restauro não é um processo simples.”
Grass explica que a parceria com a Universidade de Pelotas foi necessária porque a equipe de conservadores do Iphan em Brasília é pequena e precisaria de reforço.
Ao todo, 22 profissionais trabalham no laboratório montado no subsolo do Palácio da Alvorada. A equipe é formada por professores do curso de conservação e restauração, bolsistas de graduação e pós-graduação da universidade e profissionais contratados para o projeto.
Grass diz que a iniciativa é importante não só para recuperar os itens vandalizados, mas também para gerar conhecimento sobre eles.
“No caso das esculturas, como elas foram quebradas, a gente acaba tendo acesso às técnicas que foram usadas para elaborá-las e aos materiais daquela época. Isso gera também uma produção de conhecimento muito importante sobre a memória dessas obras de arte”, diz ele, para quem o vandalismo durante a invasão golpista foi um ataque a símbolos nacionais.
“Além de prejuízos materiais, gerou perdas culturais para o país. São artistas que representam a cultura brasileira e que, portanto, fazem parte da nossa identidade”, afirma Grass, usando como exemplo a tela “As Mulatas”. “É uma obra que expressa também a cultura de matriz africana, expressa a identidade feminina. É um trabalho de grande valor.”
Além de depredarem obras do Palácio do Planalto, os golpistas vandalizaram o Congresso Nacional. A restauração das obras de arte do Senado deve custar R$ 1,2 milhão. Ao todo, 21 obras foram comprometidas, sendo que o reparo de duas delas ainda está pendente. É o caso de um painel de Athos Bulcão que fica no Museu do Senado.
A peça apresenta arranhões provocados por estilhaços de vidro e espuma de extintor de incêndio. A pintura “Ato de Assinatura da Primeira Constituição” também não foi restaurada ainda. A tela, de Gustavo Hastoy, está solta da moldura na parte inferior. A expectativa é que ambas as obras sejam recuperadas este ano.
Na Câmara dos Deputados, 54 dos 64 itens depredados foram restaurados -incluindo pinturas, estátuas, painéis e vitrais. A Casa avalia que a recuperação completa dessas peças pode custar R$ 1,4 milhão aos cofres públicos, o que inclui mão de obra especializada e compra de insumos.
Já o Supremo não tem uma estimativa de quanto o restauro custará. A corte diz que 116 peças foram reconstruídas, entre telas, esculturas e mobiliário. Há, porém, 106 itens que não puderam ser recuperados em razão da gravidade dos estragos.
MATHEUS ROCHA / Folhapress