SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Irã começou a retaliação pelo ataque americano contra três de suas instalações nucleares lançando mísseis contra a maior base dos Estados Unidos no Oriente Médio, Al-Udeid, em Doha (Qatar). Também foi alvejado o aeródromo de Ain al-Asad, no Iraque, disse Teerã.
Segundo a mídia estatal iraniana, o ataque é o começo da Operação Anúncio da Vitória até aqui, só há relatos de explosões no Qatar. O governo local, que mantém boas relações com Teerã, abateu ao menos um dos mísseis lançados contra Al-Udeid e disse estar pronto para se defender.
Já as forças iranianas, em um comunicado, disseram que miravam apenas interesses americanos, longe de áreas residenciais, e que não têm interesse em nenhum estranhamento com Doha. A pequena monarquia está em alerta máximo, assim como os vizinhos Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Kuwait, que fecharam seus epsaços aéreos.
O ataque parece ter sido desenhado para dar uma resposta ao público doméstico no Irã, dado que foi limitado e, segundo diversos relatos, informado previamente tanto aos EUA quanto ao Qatar que fechou seu espaço aéreo antes da ação.
Não houve vítimas civis, segundo informação inicial do Qatar. Mesmo que tenha sido feita para ser limitada, a ação joga a guerra disparada por ataques israelenses ao Irã há 11 dias em um perigoso e imprevisível rumo. Outras unidades de Washington na região estão em alerta máximo.
Al-Udeid fica a cerca de 350 km da costa do Irã, do outro lado do Golfo Pérsico. Essa exposição fez com que os EUA retirassem boa parte de seus aviões de caça e transporte de lá. Segundo imagens de satélite divulgadas na quinta (19), não havia mais aeronaves em seus pátios o que supõe danos menores.
Normalmente, Al-Udeid centraliza ações aéreas americanas no Oriente Médio e, usualmente, tem cerca de 10 mil militares estacionados. Ela também tem contingentes de outros aliados, como os britânicos. Os EUA têm cerca de 20 bases naquele canto do mundo, 8 delas consideradas fixas.
Doha, cidade de 2,6 milhões de habitantes e capital do país que há pouco mais de dois anos sediou a Copa do Mundo de futebol, relataram fortes explosões na periferia. O Qatar não tem histórico de conflitos armados e é uma das ilhas de riqueza da região, calcado no petróleo.
Não que as tensões regionais lhe sejam estranhas: em 2017, a Liga Árabe, liderada pela vizinha Arábia Saudita, cortou relações com o reino e impôs um bloqueio a seu espaço aéreo devido às percebidas ligações com o Irã e a acusação de apoio ao terrorismo. A restrições foram levantadas a tempo da Copa de 2018, e todos acabaram selando a paz em 2021.
Já na base no Iraque, o comando local informou que as defesas antiaéreas foram acionadas e o pessoal, levado a abrigos, mas ainda não há informações se algum míssil chegou a atingir o local. Em 2020, ela já havia sido atacada pelo Irã, algo inédito então, após Donald Trump, em seu primeiro mandato, ter mandado matar o mais importante general iraniano, em Bagdá.
Ali, a situação é agravada pela presença de diversas milícias xiitas armadas pelo Irã no país, remanescentes do processo de fragmentação política depois que os EUA derrubaram a ditadura de Saddam Hussein, em 2003.
Mais cedo, Israel havia feito ataques pesados a centros ligados ao regime de Teerã, sinalizando buscar sua queda. Trump, por sua vez, havia dito que queria que o conflito terminasse após sua ação no sábado (21), o que foi rechaçado pelos aiatolás.
O americano havia advertido os iranianos a não retaliar contra alvos dos EUA na região, sob pena de um ataque ainda mais duro, escalando de forma incontrolável o conflito. Nesta segunda, o secretário de Estado, Marco Rubio, disse que o regime iraniano iria “se arrepender” se agisse.
O espraiamento do conflito é um dos maiores temores de observadores. A ação iraniana, contra instalações militares, pode ser vendida como proporcional ao ataque de sábado. No caso das ações de Israel, Teerã tem lançado mísseis de forma indiscriminada, atingindo centros urbanos.
IGOR GIELOW / Folhapress
