SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Autoridades iranianas impediram os pais e o irmão de Mahsa Amini, jovem curda de 22 anos que morreu no ano passado sob custódia da polícia moral, de viajarem à França para receber o Prêmio Sakharov para a Liberdade de Consciência 2023, atribuído ao movimento “Mulheres, Vida, Liberdade”, reprimido de forma sangrenta por Teerã.
A informação foi confirmada neste sábado (9) por Chirinne Ardakani, advogada da família Amini na França, à agência de notícias AFP. “Foram proibidos de embarcar no avião que os levaria a França para receberem o Prêmio Sakharov, apesar de terem visto, e os seus passaportes foram confiscados.”
Mahsa Amini morreu no dia 16 de setembro de 2022, três dias depois de ter sido detida pela polícia moral por supostamente não usar o véu islâmico (o hijab) corretamente. O assassinato da jovem desencadeou uma onda de manifestações contra os líderes políticos e religiosos iranianos, e a repressão destes atos levou à morte de centenas de pessoas e a milhares de detenções.
Um ano após a morte de Amini, a ativista Narges Mohammadi, 51, defensora histórica dos direitos das mulheres, ganhou o Nobel da Paz. Detida desde 2021 na prisão de Evin, em Teerã, ela iniciará uma nova greve de fome neste domingo (10), data da cerimônia do prêmio em Oslo, na Noruega, segundo anúncio feito pela família neste sábado.
A última greve de fome da ativista ocorreu entre os dias 6 e 10 de novembro, quando ela conseguiu ser transferida para um hospital sem cobrir a cabeça com o véu. Anteriormente, as autoridades penitenciárias haviam recusado a hospitalização de Mohammadi, que sofre de problemas cardíacos, após ela não aceitar o código de vestimenta durante o deslocamento, segundo familiares.
“Eu fui da prisão para o hospital sem usar o hijab obrigatório, vestindo casaco e saia, no meio de dezenas de agentes de segurança, e depois voltei”, afirmou ela. “Se a República Islâmica considera que o não uso de um lenço na cabeça está de acordo com os regulamentos e protocolos, então deveria, sem dúvida, aplicar o mesmo a todas as mulheres iranianas.”
Narges Mohammadi é a 19ª mulher a ganhar o prêmio, que hoje vale 11 milhões de coroas suecas (cerca de US$ 1 milhão, ou R$ 5,17 milhão), e a quinta pessoa a ser nomeada enquanto cumpre pena. Por isso, a ativista será representada pelos filhos gêmeos de 17 anos, Ali e Kiana Rahmani, que vivem exilados em Paris.
Os adolescentes temem nunca mais encontrar a mãe, mas dizem estar orgulhosos de sua luta pelos direitos das mulheres. “Talvez eu a veja daqui a 30 ou 40 anos, mas acho que não a verei novamente”, disse Kiana em uma entrevista coletiva.
O irmão, por outro lado, disse que se manterá otimista em relação a rever a mãe. “Se não a virmos novamente, sempre nos orgulharemos dela e continuaremos nossa luta.”
“É um prêmio político e, portanto, haverá mais pressão sobre Narges, mas ao mesmo tempo isso vai criar um espaço para ecoar a voz do povo”, disse o marido da ativista, Taghi Rahmani, que também estará presente na cerimônia de domingo.
Após o anúncio de Mohammadi como ganhadora, em outubro deste ano, as autoridades iranianas acusaram o comitê do Prêmio Nobel de intromissão e politização dos direitos humanos. “O comitê do Nobel da Paz concedeu o prêmio a uma pessoa condenada por repetidas violações da lei e atos criminais”, afirmou o ministro das Relações Exteriores, Nasser Kanaani, em comunicado reproduzido pela imprensa estatal.
Redação / Folhapress