SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em meio aos intensos movimentos diplomáticos para tentar evitar uma guerra ampla no Oriente Médio, o Irã afirmou nesta segunda-feira (5) que um ataque de suas forças contra Israel é inevitável. O regime, porém, disse não desejar que o conflito se espalhe pela região.
“O Irã busca estabilidade regional, mas isso só virá com a punição ao agressor e criando uma dissuasão contra as aventuras do regime sionista”, disse o porta-voz da chancelaria iraniana, Nasser Kanaani, empregando o termo usual do país para se referir a Israel.
Para ele, a ação é inevitável depois do assassinato do líder do grupo terrorista Hamas, Ismail Haniyeh, em um ataque que Israel mal disfarçou ter cometido na semana passada, em Teerã.
Além disso, Tel Aviv assumiu a morte do líder militar do Hamas e do chefe operacional do Hezbollah, o poderoso grupo libanês aliado dos palestinos. Ambas as organizações são bancadas por Teerã, assim como outras, incluindo o Jihad Islâmico.
O regime iraniano deu uma sinalização de seus preparativos ao emitir um aviso alertando os pilotos comerciais que estejam preparados para a degradação ou perda de sinal do GPS nas regiões central, oeste e noroeste do país. O alerta vale até 13 de agosto.
O aviso foi interpretado incorretamente como um fechamento do espaço aéreo na imprensa israelense, e a versão se espalhou pela internet. Isso dito, é um passo anterior a essa medida, que indica o lançamento iminente de mísseis e drones.
Os iranianos deverão saturar essas regiões com bloqueadores de frequência tanto para proteger seus lançadores quanto para desorientar eventuais mísseis lançados contra si.
Também nesta segunda, chegou a Teerã Serguei Choigu, o ex-ministro da Defesa da Rússia que assumiu a secretaria do Conselho de Segurança de Vladimir Putin. Os países são aliados próximos, e Moscou tem pedido comedimento aos iranianos ao mesmo tempo em que condenou os assassinatos.
Os EUA, como seria previsível, criticaram a presença russa no país, mas instaram todos os países com interlocução local a tentar demover o Irã do ataque. O presidente Joe Biden e o secretário de Estado, Antony Blinken, conversaram com autoridades da região, como a Jordânia. O Iraque, que é próximo de Teerã, emitiu um comunicado, de forma conjunta com a Itália, pedindo diplomacia.
Antes, um enviado do governo dos Emirados Árabes Unidos esteve no Irã com um recado: o país, assim como disse a Arábia Saudita, não aceita que seu espaço aéreo seja cruzado por mísseis iranianos.
Em abril, quando os iranianos lançaram uma grande salva de mísseis e drones contra Israel pela primeira vez na história, o país árabe ajudou Estados Unidos e Reino Unido a derrubar boa parte dos armamentos.
O governo americano trabalhava com a possibilidade de uma ação iraniana em conjunto com o Hezbollah já na madrugada desta terça-feira (6). Uma eventual ofensiva, porém, poderia ocorrer somente nos próximos dias, já que o Irã convocou uma reunião da Organização de Cooperação Islâmica nesta quarta (7). No encontro, o regime irá apresentar seu caso e pedirá apoio para atacar Israel.
Além disso, o líder supremo do Irã, Ali Khamenei, e o novo presidente do país, Masoud Pezeshkian, ganham uma janela para modular sua reação. Se ela é inevitável, como disse a chancelaria, sua intensidade irá determinar o futuro da região.
O perigo para o Irã é entrar numa missão suicida, abrindo a porta para uma tréplica israelense que lhe destrua as instalações do programa nuclear do país, por exemplo. A possibilidade de ter a bomba atômica em poucos meses é a principal carta de negociação que Teerã tem, e perdê-la é um risco grande.
Quando o Irã atacou Israel em abril, a resposta de Tel Aviv foi bastante comedida, mas com um sinal claro: um ataque pequeno próximo de Isfahan, cidade que concentra as atividades do programa nuclear dos aiatolás.
Na semana retrasada, o Estado judeu demonstrou estar pronto para um ataque de maior potência a longa distância no momento em que destruiu parte do porto de Hodeidah, o principal sob controle dos rebeldes houthis, pró-Irã, do Iêmen.
Esse grupo é outro fator de preocupação, dado o impacto de suas ações no mar Vermelho, onde ataques a navios mercantes ocidentais e ligados a Israel travou o comércio naquela região, obrigando desvios custosos a grandes empresas.
Os EUA anunciaram no fim de semana que vão reforçar sua presença na região. Ao menos um esquadrão de aviões de combate será enviado, e um grupo de porta-aviões de propulsão nuclear está a caminho para substituir aquele que já está em operação há meses por lá.
Além disso, há pelo menos seis poderosos destróieres lançadores de mísseis da classe Arleigh Burke operando no mar Vermelho e adjacências, além de um grupo de assalto anfíbio com três navios e 4.000 fuzileiros navais.
No início da atual crise, quando o Hamas provocou o maior ataque contra Israel na história, matando 1.200 pessoas em 7 de outubro passado, os EUA enviaram dois grupos de porta-aviões e vários reforços a suas bases, o que ajudou a deter eventuais escaladas por parte do Irã e de seus aliados.
O ponto mais preocupante sempre foi a fronteira Israel-Líbano, que foi esvaziada do lado de Tel Aviv e virou palco de atrito constante entre o Hezbollah e os militares israelenses. No fim de semana, uma barragem de foguetes assustou o mundo, temendo o início do ataque maior com o Irã, mas era apenas um teste de estresse por parte dos milicianos xiitas.
Várias empresas aéreas internacionais cancelaram voos para o Líbano. Nesta segunda, a alemã Lufthansa disse que também vai parar de voar para Tel Aviv até pelo menos 12 de agosto.
O conflito na Faixa de Gaza, que já matou, segundo os palestinos, 39.623 pessoas, continuou com ações nesta segunda. Israel emitiu um aviso para o esvaziamento da cidade Khan Younis, sugerindo que vai atacar a localidade.
IGOR GIELOW / Folhapress