Isay Weinfeld junta objetos inusitados e cria esculturas que fazem rir em exposição

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quando viaja, um dos programas preferidos de Isay Weinfeld é vasculhar feiras de objetos antigos e lojas de cacarecos, onde compra coisas aleatórias como um cabide de arame em formato de camiseta, as pernas de uma boneca de plástico e espingardas de brinquedo.

No decorrer dos anos, o arquiteto, um dos principais em atividade no país, encheu baús e baús em sua casa de “coisas que não têm a mínima utilidade”, ele conta. Sozinho, observa os objetos e pensa em como eles podem se relacionar, criando sentidos quando combinados.

Por isso, visitar a exposição que Weinfeld abriu nesta terça (11), na galeria Galatea, em São Paulo, é ver como a sua imaginação funciona. A julgar pelas obras da mostra, ela tem uma sede exploratória e brincalhona como a de uma criança descobrindo o mundo.

Logo na entrada há uma bonequinha de porcelana sentada sozinha na beira de uma prancha de madeira. “Insociabilidade”, diz a legenda. Ao lado, numa obra chamada “Invisibilidade”, uma bolinha aparece camuflada num suporte com a mesma padronagem. E por aí vai, num jogo de objetos inusitados associados a palavras começadas pelo prefixo “in”.

O humor é “a minha base para tudo, o jeito que eu vejo o mundo”, diz Weinfeld sobre o conceito da exposição, intitulada “Ininteligibilidade”. Para o espectador, a graça está tanto no absurdo de tirar os bibelôs de contexto e expô-los numa galeria, fazendo com que virem objetos de arte, quanto nos sentidos sugeridos pelos títulos dos trabalhos.

A conotação é sexual na obra das pernas abertas da boneca -“Insaciabilidade”- ou melancólica, em uma moldura de retrato vazia adornada com flores de plástico -“Imortalidade”. Há também comentários sobre o mundo de hoje, como num punhado de pequenas armas de brinquedo reunidas sob o selo “Indefensabilidade”.

Weinfeld conta que, apesar de ser conhecido pela sua arquitetura minimalista, é “um acumulador de coisas”. Ele diz amar objetos e comprá-los pelo prazer da coisa em si, sem saber de antemão o que vai fazer com eles.

Esta exposição, na qual vemos o Weinfeld artista plástico, dá forma à sua necessidade de se expressar com humor. “Isso não pode sair através de um projeto de arquitetura, para virar uma palhaçada. Mas esse humor tem que sair de alguma forma.”

Os objetos trazem referências à história dos mais de 70 anos de vida do artista. Por exemplo, uma obra em que um minúsculo pompom colorido repousa sobre um pequeno suporte preto desperta nele a lembrança de uma casa noturna que projetou em São Paulo, na qual o corredor de pastilhas multicoloridas contrastava com os interiores escuros.

Ele também conecta o trabalho à faixa “Motion Picture Soundtrack”, do Radiohead. “É uma música tenebrosa, escura, forte, densa. De repente, vem uma coisa de luz por todos os lados. É impossível não achar que tem uma relação com a obra ou com a discoteca. Incrível.”

A exposição na Galatea é a continuação de uma mostra de esculturas de brinquedo que o artista exibiu na galeria Millan, em São Paulo, há sete anos. Se naquela o título era incompreensível de propósito -“Supercalifragilisticexpialidocious”-, nesta ele brinca com a obsessão do meio das artes com as palavras vazias e as frases que não dizem nada.

“Esta exposição consiste em sistematizar a facticidade e reduzir a subjetividade da criação sem suprimir a transcendência e a imanência do corpo projetado”, afirma o texto de parede à entrada da galeria, antes de prosseguir por mais um parágrafo de blá blá blá. O que isso quer dizer? Weinfeld não titubeia. “Nada.”

ININTELIGIBILIDADE

Quando Até 8 de março. Seg. a qui, das 10 às 19h; sex., das 10 às 18h; sábado, das 11h às 17h

Onde Galeria Galatea – r. Padre João Manuel, 808, São Paulo

Preço Grátis

JOÃO PERASSOLO / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS