SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As Forças de Defesa de Israel atacaram na tarde desta terça (30) posições do Hezbollah em Beirute, a capital do Líbano. Seu alvo era o chefe operacional do grupo fundamentalista islâmico, Muhsin Shukr, cujo destino não é conhecido ainda.
A ação foi uma retaliação para “alvejar o comandante responsável pelo assassinato de crianças em Majdal Shams e de numerosos civis israelenses”, disseram os militares em seu canal no Telegram.
A nota se refere à morte de 12 pessoas em um campo de futebol na localidade citada, que fica nas colinas de Golã, anexadas da Síria em 1967. O ataque no sábado (27) foi atribuído por Israel ao Hezbollah, que negou a autoria e jogou a culpa para o sistema de defesas antiaérea do Estado judeu.
Desde então, começou uma corrida diplomática para tentar demover o governo de Binyamin Netanyahu de lançar um ataque de grande escala contra o grupo, que apoia os palestinos do Hamas na guerra decorrente do ataque terrorista de 7 de outubro contra Israel.
Até aqui, as escaramuças de fronteira com o Hezbollah eram diárias, com alguns momentos mais intensos, mas o conflito aberto foi evitado. Na última vez que isso ocorreu, em 2006, houve um empate com sabor de vitória para os fundamentalistas, que assim como o Hamas são apoiados pelo Irã, arqui-inimigo de Tel Aviv.
Segundo a imprensa americana, a Casa Branca apelou a Netanyahu para que evitasse inclusive atacar alvos em Beirute, mesmo tendo a autorização para uma operação de vingança dada pelo seu gabinete de guerra.
Ainda faltam detalhes acerca do escopo do bombardeio israelense e mesmo de sua natureza -se envolveu caças ou drones, por exemplo. Desde o sábado, houve ataques de lado a lado, e nesta terça um civil israelense morreu atingido por um foguete do Hezbollah na Galiléia, norte do país.
De todo modo, o incidente retoma o temor de uma guerra regional mais ampla, no momento em que a ofensiva contra o Hamas está em declínio aparente -tendo deixado até aqui 39 mil mortos, segundo os palestinos, além dos 1.200 israelenses assassinados e centenas de reféns tomados no ataque terroristas inicial.
O Hezbollah é um grupo muito mais poderoso militarmente do que o Hamas, tendo sido fundado pelo próprio governo do Irã em 1982 nos campos de refugiados xiitas do sul libanês, então sob invasão israelense.
De seu lado, o cálculo para uma guerra também é complexo. O Hezbollah é um grupo militar que compete em influência com o próprio Exército do Líbano, bem menos equipado, e opera com bastante liberdade em toda faixa sul do país.
O impacto de uma guerra maior contra o país, que mal se recupera da trágica explosão do porto de Beirute em 2020, pesa na conta dos fundamentalistas, que acabaram sendo responsabilizados pelo custo humano de uma crise renovada.
Isso dito, tanto a liderança do Hezbollah quanto o Irã têm escalado sua retórica recentemente. Os iranianos, que acabam de eleger um presidente nominalmente moderado, chegaram a ir à vias de fato em abril contra Israel, disparando centenas de mísseis e drones contra o país pela primeira vez.
Houve uma retaliação comedida de Netanyahu, evitando então um choque maior. Além do Hezbollah, os rebeldes houthis do Iêmen, também apoiados por Teerã, têm atacado navios no mar Vermelho como forma de solidariedade ao Hamas.
Israel já disse que quer ver o Hezbollah contido ao norte do rio Litani, mantendo uma área de separação para evitar ataque ao norte do Estado judeu. Essa fronteira já havia sido delimitada pela ONU em 2000, mas o acordo nunca foi cumprido.
Com as hostilidades crescentes após início da guerra com o Hamas, Tel Aviv evacuou cerca de 20 mil pessoas de uma faixa de fronteira distante 2 km do território libanês. Até agora, essa população está fora de suas casas, morando em pensões estatais ou casas de parentes, o que gera ainda mais pressão sobre o governo.
IGOR GIELOW / Folhapress