Israel ataca cidade lotada de refugiados do sul de Gaza

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As forças de Israel iniciaram nesta terça (5) uma ação terrestre contra o que chamou de centros do grupo terrorista Hamas em Khan Yunis, maior cidade do sul da Faixa de Gaza, em um importante bairro da capital homônima da região e em torno do maior campo de refugiados do território palestino.

“Estamos no coração” dos três pontos, afirmou o comandante da região sul de Israel, Yaron Finkelman. Segundo ele, esta terça registrou os maiores combates contra forças do Hamas desde o início da guerra, há 60 dias.

Na véspera, tanques já haviam cruzado pela primeira vez a fronteira rumo a Khan Yunis, que concentra refugiados de etapas anteriores da guerra. O elevado risco aos civis levou a um aumento de pressão pela retomada da trégua na região, com o mediador Qatar acusado Tel Aviv de “crime hediondo”.

“Fiquem em abrigos ou nos hospitais em que estão. Não é seguro do lado de fora. Vocês foram avisados”, diziam panfletos jogados ao longo desta manhã (madrugada no Brasil) sobre a cidade por aviões das IDF (Forças de Defesa de Israel, na sigla inglesa).

A operação, dizem os militares, visa atacar esconderijos de lideranças do Hamas que fugiram da região norte de Gaza após início da guerra renovada na área, resultado do ataque do grupo terrorista palestino que deixou 1.200 mortos e 247 reféns, 109 deles libertados durante trégua de sete dias encerrada na sexta (1), há quase dois meses.

Após a retomada dos combates, Tel Aviv havia dividido a faixa em 620 áreas para mover civis de uma para outra em momentos de ataque, mas parece ter desistido no caso da importante cidade, que concentra muitos dos civis que deixaram a capital e a região norte do território palestino após o início da operação terrestre israelense, em outubro.

Habitavam o local antes da guerra pouco mais de 200 mil pessoas, mas o número pode chegar perto do 1 milhão, segundo diplomatas ocidentais com contatos na região, comandada desde 2007 pelo Hamas.

Khan Yunis abriga diversos dos parentes de brasileiros que o Itamaraty quer repatriar, uma lista de 86 nomes que o presidente Lula (PT) disse na segunda ter subido para 102. Parte deles foi para um abrigo em Rafah, na fronteira com o Egito. Vídeos de moradores e fotografias de repórteres no local mostraram o impacto dos ataques aéreos precursores da ação por terra, os mais violentos até aqui.

Ao menos 43 corpos haviam chegado, segundo a agência Reuters, a um dos principais hospitais da cidade. Em outra ação, um hospital de Deir al-Balah, não muito distante dali, autoridades palestinas contaram 45 mortos num bombardeio.

Os palestinos contam mais de 15.900 mortos na operação em Gaza, além de 260 que morreram em confronto com soldados de Tel Aviv na Cisjordânia, que é governada pela Autoridade Nacional Palestina, rival do Hamas.

As imagens de destruição e de civis mortos, crianças inclusive, se multiplicam, o que faz crescer a pressão sobre Israel para retomar a trégua. Se na parte norte de Gaza a mistura do Hamas com a infraestrutura civil era notória, a região sul da faixa está superlotada —cerca de 75% dos 2,3 milhões de habitantes saíram de suas casas, presumivelmente fugindo para lá.

No cessar-fogo da semana passada, 240 mulheres e menores de idade palestinos sem condenação que estavam presos foram trocados pelos reféns.

QATAR PRESSIONA POR TRÉGUA

Um sinal forte veio do Qatar, mediador principal no Oriente Médio para a crise, sendo ao mesmo tempo base da maior instalação militar americana na região, casa no exílio para a liderança do Hamas e interlocutor nos bastidores com Israel.

O emir local, xeque Tamim bin Hamad al-Thani, afirmou nesta terça (5) que Israel comete um “crime hediondo” com sua guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza e pediu que o Conselho de Segurança da ONU force Tel Aviv a voltar à mesa de negociações.

“É uma vergonha para a comunidade internacional permitir que esse crime hediondo continue por quase dois meses, nos quais a matança deliberada e sistemática de civis continua”, afirmou em um encontro do Conselho de Cooperação do Golfo, em Doha. O tom visa agradar a plateia árabe, mas também mostra que a intensidade da retomada da guerra não será aceita sem reação na região.

A realidade parece ser aceita em Israel. A segunda fase da guerra será “difícil militarmente”, disse nesta terça o porta-voz governamental Eylon Levy a repórteres. Ele reafirmou que as operações no norte de Gaza estão em fase final, o que não significa que a região esteja pacificada.

Nesta terça, ao menos cinco soldados israelenses morreram durante o ataque ao quartel-general do serviço de segurança do Hamas, no norte de Gaza, uma das maiores baixas admitidas em uma única operação. Foram relatados intensos combates contra terroristas que estavam presumivelmente em túneis na região e emergiram para defender o complexo.

O Exército de Israel não quis confirmar um relato publicado na véspera de que tem um plano para inundar o sistema de túneis do Hamas com água do mar, inclusive com bombas de sucção instaladas para tal, dizendo apenas ter todas as opções à mesa. O problema óbvio é que tal solução mataria provavelmente reféns que ainda estão em poder do grupo palestino.

Por fim, há forças em combate dentro da capital, Gaza, e o campo de refugiados de Jabalia, ao norte, foi cercado por blindados israelenses. Ele, que na realidade é um bairro urbanizado precariamente, era o maior do tipo na região antes da invasão e já sofreu ataques antes.

HEZBOLLAH TROCA FOGO COM ISRAEL

Na fronteira norte do conflito, a frente secundária contra o Hezbollah libanês, houve nova troca de fogo entre o grupo apoiado pelo Irã e aliado do Hamas do Irã. Segundo o Exército do Líbano, que opera também na área, um soldado seu foi morto em um ataque que Israel.

A intensidade sugere a manutenção da faixa de atrito, mas sem uma escalada que não interessa politicamente aos atores —e, no caso de Hezbollah e Irã, a presença militar americana nos mares da região é fator central de dissuasão.

Já no teatro do mar Vermelho, onde os rivais de Israel são os rebeldes houthis do Iêmen, os ataques promovidos contra navios de carga e a ação de destróieres americanos contra os drones usados nas ações seguem reverberando. O Irã refutou nesta terça a afirmação dos EUA de que foi responsável pelo lançamento de aviões-robôs e mísseis na região devido ao apoio que dá aos houthis.

IGOR GIELOW / Folhapress

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