Israel bombardeia sul do Líbano, intercepta centenas de foguetes e diz ter evitado ataque maior do Hezbollah

SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Em uma troca de ataques que ameaça expandir o conflito no Oriente Médio, as Forças Armadas de Israel interceptaram centenas de foguetes lançados pelo Hezbollah e bombardearam o sul do Líbano com mais de cem aviões neste domingo (25). Tel Aviv, que declarou estado de emergência por ao menos 48 horas, descreveu a ação no vizinho como preventiva, de modo a evitar uma ofensiva maior do grupo libanês.

Pelo menos três pessoas foram mortas no Líbano, e um soldado israelense morreu depois de ser atingido por estilhaços de um míssil. O Hezbollah disse ter iniciado a primeira fase de ataques contra alvos israelenses.

Depois, o grupo afirmou que as ações tinham sido suspensas. Já Tel Aviv reiterou que não busca uma guerra total contra a milícia apoiada pelo Irã, a despeito das ofensivas em larga escala de ambos os lados. Um diplomata ouvido pela agência de notícias Reuters disse que Israel e o Hezbollah se comunicaram e reafirmaram que não desejam uma escalada no conflito.

Dois dos três mortos no Líbano eram membros do Hezbollah, de acordo com o grupo. Com isso, o número de militantes do grupo mortos desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, que deu início à tensão generalizada na região, chega a 430.

O Exército israelense emitiu um alerta para que os moradores da região sul do Líbano se retirassem imediatamente de suas casas. No comunicado, as Forças Armadas disseram que continuavam “monitorando os preparativos do Hezbollah para realizar grandes ataques em território israelense”.

O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, declarou um estado de emergência em todo o país que deve durar 48 horas. De acordo com as Forças Armadas, cerca de 210 foguetes e 20 drones foram lançados do Líbano em direção ao norte de Israel —o Hezbollah fala em 320 foguetes lançados contra 11 alvos militares em retaliação pela morte do comandante Fuad Shukr no mês passado.

Em resposta, Israel disse ter bombardeado 40 alvos no Líbano e destruído milhares de lançadores de foguetes —centenas destes, segundo Tel Aviv, estavam prontos para serem disparados contra bases das Forças Armadas israelenses no norte e no centro do país.

Imagens divulgadas nas redes sociais mostram o sistema de defesa de Israel, o Domo de Ferro, interceptando foguetes e drones lançados pelo Hezbollah.

Segundo o Hezbollah, o ataque feito pela facção não foi comprometido pelos bombardeios israelenses. O grupo libanês afirmou que foguetes e drones foram lançados conforme o planejado. Também voltou a ameaçar Tel Aviv, dizendo que a resposta à morte de Shukr ainda “levaria tempo”.

Fuad Shukr, também conhecido como Mushin Shukr, foi morto em um bombardeio israelense que atingiu Beirute no último dia 30. O ataque também matou duas crianças e feriu 72 pessoas, de acordo com o governo libanês. Shukr era considerado o braço direito do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah.

Nasrallah se pronunciou neste domingo, dizendo que os ataques foram calculados para atingir alvos militares e poupar civis, e disse que os israelenses começaram a bombardear o Líbano 30 minutos antes que os primeiros foguetes fossem disparados —mas que a operação foi concluída com precisão e correu como planejado.

O líder do Hezbollah também disse que o grupo conseguiu atingir uma base de inteligência próxima a Tel Aviv que estaria relacionada à morte de Shukr. Israel negou que o ataque contra o local tenha sido bem-sucedido.

O assassinato e a troca de fogo deste domingo aumentam as chances de que o conflito no Oriente Médio, por ora concentrado na Faixa de Gaza, saia do controle, ainda que todas as partes tentem evitar uma guerra generalizada entre Israel e o Irã que envolva o principal aliado de Tel Aviv, os Estados Unidos.

Este mês, Washington anunciou o posicionamento de um submarino nuclear na região para apoiar Israel e ameaçar Teerã e seus aliados. A Casa Branca disse neste domingo que o presidente Joe Biden estava acompanhando os desdobramentos na região.

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, por sua vez, afirmou que fará o que for necessário para garantir a segurança dos israelenses. “Estamos determinados a fazer tudo o que é possível para defender nosso país e continuar a obedecer uma regra simples: quem nos atacar, será atacado”, afirmou o premiê.

No norte de Israel, sirenes e uma série de explosões foram ouvidas por civis à medida que o Domo de Ferro derrubava foguetes vindos do sul do Líbano. Os serviços médicos do país estavam em estado de alerta.

O Exército israelense pediu que seus cidadãos evitassem reuniões ao longo do dia, mas depois permitiu deslocamentos ao trabalho desde que houvesse um abrigo antiaéreo por perto. A imprensa israelense disse que algumas casas foram danificadas no norte do país.

Um morador do vilarejo libanês de Zibqeen disse à agência de notícias Reuters ter acordado com os barulhos de aviões, de explosões e de mísseis antes de sua oração matinal. “Parecia o apocalipse.”

A maioria dos ataques israelenses atingiu alvos no sul do Líbano, mas o Exército estava pronto para atacar em qualquer lugar onde houvesse uma ameaça, disse um porta-voz militar israelense. Voos no aeroporto Ben Gurion em Tel Aviv foram suspensos por cerca de 90 minutos.

Por sua vez, grande parte dos voos no aeroporto de Beirute foi cancelada, e companhias aéreas como a Air France disseram que não operariam no Líbano pelo menos até segunda-feira (26).

Os ataques ocorreram enquanto negociadores se reúnem no Cairo em uma nova tentativa de concluir um acordo de cessar-fogo para a guerra entre Israel e o Hamas, em Gaza, e o retorno de reféns israelenses em troca de prisioneiros palestinos.

O Hamas parabenizou o Hezbollah pelo que chamou de um ataque “forte e concentrado” contra Israel. “Enfatizamos que essa resposta é um tapa na cara da entidade sionista”, disse o grupo terrorista em um comunicado.

De acordo com a emissora britânica BBC, Israel espera mais um ataque nos próximos dias, provavelmente vindo do Iêmen —os houthis, também apoiados pelo Irã, ainda não retaliaram o bombardeio israelense do porto de Honeida.

Em nota, o Itamaraty afirmou que o governo brasileiro acompanha com preocupação a escalada de tensões no Oriente Médio e pediu contenção das partes para evitar novas hostilidades. O Ministério das Relações Exteriores também desaconselhou viagens à região e informou que tem orientado a comunidade brasileira no Líbano por meio das redes sociais e da página da embaixada em Beirute.

VICTOR LACOMBE E VITÓRIA DE GÓES / Folhapress

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