Israel diz que jornalistas da Al Jazeera mortos em Gaza eram ‘agentes terroristas’

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Exército de Israel acusou nesta quarta-feira (10) dois jornalistas da rede qatari de notícias Al Jazeera, mortos em um bombardeio na Faixa de Gaza, de serem “agentes terroristas” filiados aos grupos extremistas Hamas e Jihad Islâmico, responsáveis por ataques contra israelenses.

As famílias dos homens e a Al Jazeera não tinham comentado as acusações até a manhã desta quinta (11). Numa breve declaração, o Hamas as descreveu como “vagas e falsas”.

Hamza Dahdouh e Mustafa Thuria trabalhavam como cinegrafistas para vários veículos de imprensa internacionais, entre eles a Al Jazeera, e foram mortos em um bombardeio no sul de Gaza. Eles estavam em uma viagem de carro a serviço da rede qatari no momento em que foram atingidos.

“Antes do bombardeio, os dois pilotavam drones que representavam uma ameaça iminente às tropas israelenses”, disse o Exército em comunicado, acusando-os de “envolvimento direto” em ataques contra as forças de Israel. Questionadas pela agência de notícias AFP sobre o tipo de drone usado e a natureza da ameaça, as Forças Armadas responderam apenas que estavam investigando o caso.

O Exército disse que Thuria foi identificado em um documento encontrado pelos soldados em Gaza como membro de uma brigada militar do Hamas, enquanto Dahdouh pertencia ao Jihad Islâmico.

Os militares divulgaram uma cópia do que seria outro documento que contém uma lista dos agentes de uma unidade de engenharia eletrônica do Jihad Islâmico no qual aparece o nome de Dahdouh e o seu suposto número militar. As informações não puderam ser verificadas de forma independente.

O pai de Hamza, Wael al-Dahdouh, redator-chefe da sucursal da Al Jazeera na Faixa de Gaza, já havia perdido a mulher e outros dois filhos em um ataque atribuído a Israel nas primeiras semanas da guerra.

Na última segunda-feira, dois sobrinhos de Wael, Ahmed al-Dahdouh e Muhammad al-Dahdouh, também morreram em um bombardeio no momento em que viajavam de carro em Rafah, segundo o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, controlado pelo Hamas.

Já Thuria, que tinha cerca de 30 anos, havia colaborado também com a agência de notícias AFP. Segundo levantamento do CPJ (Comitê para a Proteção dos Jornalistas), com sede em Nova York, 79 jornalistas morreram durante o conflito Israel-Hamas: 72 palestinos, 4 israelenses e 3 libaneses. O sindicato dos jornalistas palestinos diz que morreram 102 e que 71 ficaram feridos. É o conflito mais letal a profissionais da imprensa nessa região nos últimos 30 anos.

Diante das mortes, o Alto-Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (ACNUDH) vem cobrando investigação. O Estatuto de Roma e as Convenções de Genebra, documentos que balizam as leis sobre conflitos —e, portanto, também servem como base para caracterizar o que é um abuso ou um crime de guerra—, fornecem proteção jurídica aos profissionais de imprensa, ainda que não detalhem sua atuação.

Em dezembro, a agência da ONU para os direitos humanos nos territórios palestinos ocupados disse que está “alarmada com o número sem precedentes de jornalistas e trabalhadores da comunicação social mortos em Gaza desde 7 de outubro”, quando ataques do grupo terrorista Hamas no sul de Israel provocaram a guerra.

O escopo das ofensivas israelenses em Gaza passou a ser criticada até mesmo por Washington, aliado de Tel Aviv. Nesta quarta, o porta-voz da Casa Branca, John Kirby, disse que os jornalistas não devem ser um alvo no conflito. “Eles [profissionais] têm todo o direito de cobrir o conflito. Queremos que sua presença seja totalmente respeitada”, afirmou o americano.

Redação / Folhapress

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