SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As Forças de Defesa de Israel afirmaram nesta quinta-feira (15), segundo dia de invasão do hospital Al-Shifa, o maior da Faixa de Gaza, terem encontrado nos arredores do complexo o corpo de uma das mais de 200 reféns capturadas pelo Hamas no 7 de Outubro.
Yehudit Weiss, 65, era mãe de cinco e aposentada. Ela trabalhava com crianças do jardim de infância no kibutz Be’eri, onde foi sequestrada e onde seu marido foi morto naquele dia. Weiss, segundo os militares e a mídia local, fazia radioterapia para curar um câncer de mama.
O corpo teria sido transportado a Israel para análise e confirmação da identidade, até que a família foi enfim avisada da morte. Não foram compartilhados detalhes sobre a causa ou a provável data da morte, e as informações não puderam ser verificadas de forma independente.
Segundo Daniel Hagari, porta-voz das Forças de Defesa, armas que pertenceriam ao Hamas estavam guardadas próximas ao corpo de Yehudit na casa onde ela foi encontrada.
A revelação ocorre em meio à tensão crescente que envolve a invasão israelense do Shifa. Médicos palestinos afirmaram temer cada vez mais pela vida de centenas de pacientes e profissionais médicos que estão no centro de saúde.
O diretor do complexo hospitalar, Muhammad Abu Salamiya, afirmou à Al Jazeera que “a cada minuto que passa da invasão, mais pacientes morrerão”. Em um comunicado enviado no aplicativo de mensagens Telegram, o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas afirma que não há água ou comida no Shifa para os palestinos que estão ali.
O porta-voz da pasta, Ashraf al-Qidra, disse à agência Reuters que também não há leite para alimentar os bebês e que hoje o complexo abriga 650 pacientes e cerca de 7.000 pessoas que tiveram de deixar suas casas devido aos bombardeios e buscaram abrigo ali.
“Equipes médicas, pacientes e deslocados lutam contra a morte”, disse ele. “As forças de ocupação estão presentes no complexo, mas não forneceram combustível para o hospital continuar funcionando.”
Ainda segundo a pasta da Saúde, desde o último dia 11 morreram 40 pacientes no Shifa, incluindo três bebês prematuros, devido à falta de combustível para funcionamento dos aparelhos.
Comunicado desta quinta afirma que médicos são impedidos de mover pacientes de um departamento a outro do complexo porque drones de Israel atirariam em qualquer um que se movesse na área externa.
Tel Aviv, por sua vez, alega ter invadido o Shifa para desmantelar uma base do Hamas que ali operaria. As Forças de Defesa divulgaram fotos de armas e coletes à prova de bala que dizem ter encontrado no local. À Reuters um oficial disse que também informações relacionadas ao 7 de Outubro, dia em que a facção invadiu Israel, foram encontradas ali.
Os militares argumentam que seus soldados avançam em um edifício de cada vez, revistando todos os andares de forma “discreta, metódica e minuciosa”, de acordo com as informações enviadas à Reuters.
Na noite desta quinta-feira (tarde em Brasília), os militares afirmaram que conseguiram localizar acessos por meio do Shifa à rede subterrânea de túneis do Hamas e que teriam descoberto também no complexo um veículo com um artefato explosivo que estava “preparado para o massacre de 7 de Outubro”.
O Ministério da Saúde da faixa palestina afirma que, de cerca de 60 hospitais em Gaza, 26 já não operam mais desde a guerra. Outros nove operam apenas parcialmente. O número de mortos palestinos teria chegado a 11.470, sendo mais de 4.700 deles menores de idade. O de feridos, por sua vez, seria de 29 mil.
Enquanto isso, escalam as críticas internacionais.
A ONG Human Rights Watch disse em nota que as imagens divulgadas por Israel das armas no complexo não são suficientes para justificar a revogação do Shifa como um local protegido pelas leis de guerra instalações, veículos e pessoal médico são protegidos por lei.
“Os hospitais só perdem essas proteções se for demonstrado que atos prejudiciais foram cometidos nas instalações, e o governo israelense não forneceu qualquer evidência disso”, afirmou a organização.
Em outra frente, o espanhol Josep Borell, chefe da diplomacia da União Europeia, pediu que Israel “não se deixe consumir pela raiva”. “Um horror não justifica o outro”, disse ele, referindo-se às ações de Tel Aviv em Gaza após os ataques terroristas do Hamas.
Mais importante é o local onde foi feita a fala: Magen, comunidade no sul de Israel onde Borell esteve nesta quinta-feira. No local, o espanhol lembrou que, quando jovem, foi voluntário em um kibutz.
Já o Programa Mundial de Alimentos, ligado à ONU, disse em nota que Gaza enfrenta fome generalizada. “Com o inverno se aproximando, os abrigos pouco seguros, sem alimentos e superlotados e a falta de água potável, civis enfrentarão possibilidade de morrer de fome”, afirmou a diretora-executiva Cindy McCain.
O alto comissário para direitos humanos da ONU, o austríaco Volker Turk, afirmou que, além da fome, “surtos de doenças infecciosas parecem inevitáveis”. “A ausência de combustível terá um impacto catastrófico”, acrescentou, lembrando o colapso das redes de esgoto.
Redação / Folhapress