SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Israel anunciou ter matado nesta quinta-feira (17) o líder do Hamas, Yahya Sinwar, durante uma operação militar na Faixa de Gaza. O terrorista palestino foi o principal arquiteto do ataque de 7 de outubro de 2023, que disparou a atual guerra no Oriente Médio.
O anúncio, ainda não confirmado pelo grupo, é uma das maiores vitórias políticas do governo de Binyamin Netanyahu. O premiê celebrou a morte dizendo que o acontecimento representa “o começo do fim” do conflito em Gaza. Antes, porém, disse que “a guerra ainda não acabou”, voltando as baterias para os fiadores do Hamas: “Esta é uma oportunidade de parar o eixo do mal” liderado pelo Irã.
“Hoje nós acertamos as contas. Hoje o mal recebeu um golpe, mas nossa missão não está completa. Às queridas famílias dos reféns [do 7 de Outubro ainda em Gaza]: nós vamos continuar com força total até que nossos amados, seus amados, estejam em casa”, disse em pronunciamento gravado.
Sinwar (pronuncia-se “sinuar”), 62, era a pessoa mais procurada por Israel na guerra desde que assumiu o controle da facção palestina.
Ele sucedeu Ismail Haniyeh, que morreu em uma ação atribuída ao Estado judeu em Teerã, a capital do Irã, em 31 de julho. Morto, Sinwar se une não só a Haniyeh, mas também ao líder histórico do grupo extremista libanês, Hassan Nasrallah, atingido por em um ataque em 27 de setembro, e a dezenas de figuras da cúpula de ambos os grupos anti-Israel.
“É hora de [o Hamas] sair, soltar os reféns, levantar as mãos, render-se”, disse o ministro da Defesa, Yoav Gallant. Ele mencionou as mortes em série: “Nós vamos perseguir e eliminar nossos inimigos”.
Sinwar estava com dois outros membros do Hamas em um edifício quando foi atacado por uma patrulha. Segundo os militares israelenses, nenhum dos 64 reféns que, em tese, ainda estão vivos em poder do grupo após um ano estava presente no local.
Isso traz estranhamento ao relato da morte, dado que militares do país divulgavam anonimamente ter certeza de que o terrorista estava escondido em túneis, cercado por escudos humanos. Em uma ocasião, há algumas semanas, foi ventilado que Israel não o havia matado justamente por ele estar com vários reféns.
Segundo um militar disse à Folha, Sinwar não era visto desde então, o que alimentou especulações sobre seu destino. Sua identidade, segundo Tel Aviv, foi comprovada por teste de DNA o terrorista passou 22 anos preso em Israel; logo, havia amostras disponíveis para comparação.
Conhecido pelo apelido de “açougueiro de Khan Yunis”, referência dupla à sua crueldade e à cidade de Gaza onde nasceu, Sinwar foi o cérebro operacional do 7 de Outubro, quando o Hamas matou 1.170 pessoas e sequestrou 251 em Israel.
A maior ação terrorista da história israelense desencadeou a guerra que está reformulando o balanço do Oriente Médio, com a obliteração de Gaza e, agora, das estruturas do Hezbollah, aliado do Hamas também bancado pelo Irã.
Em paralelo, Israel prepara a retaliação contra um ataque de mísseis iranianos que sofreu no começo do mês, arriscando uma escalada ainda maior. As outras duas frentes da guerra são na Cisjordânia, contra grupos palestinos, e no mar Vermelho, envolvendo os rebeldes houthis do Iêmen também bancados por Teerã.
Sua morte dificulta muito a vida do Hamas, que já perdeu quase toda sua cúpula, e pode renovar negociações para o fim do conflito. Entre os eventuais sucessores de Sinwar, os olhos se voltam à liderança exilada luxuosamente no Qatar, longe dos mísseis de Tel Aviv: um candidato é Khaled Meshaal, que comandou o grupo de 2004 a 2017.
Outros nomes especulados são o do chefe militar Mohammad Shabana, que atua em Rafah, embora assim como no caso de outros líderes, não se saiba se ele está vivo, e o recluso irmão de Sinwar, Mohammed.
Sinwar era visto como intransigente em comparação com Haniyeh. Nesta semana, a mídia israelense reportou que as conversas de emissários de ambos os lados, que ocorriam no Cairo, estavam paradas havia quase um mês.
Mas Netanyahu também é acusado por críticos de prolongar e ampliar a guerra em benefício próprio e de sua coalizão radical. Sua referência aos reféns na fala desta quinta tenta vaciná-lo, mas o fórum das famílias de vítimas do 7 de Outubro disse que a morte de Sinwar tem de ser usada para um cessar-fogo com libertação de reféns.
Em entrevista à Folha no mês passado, Micha Koubi, o homem que interrogou o hoje líder quando ele foi preso por Israel em 1989, disse que Sinwar nunca toparia um acordo de cessar-fogo em troca dos reféns. “Ele nunca cederá”, afirmou na conversa. Para ele, o palestino tinha “os olhos de um assassino”.
Na prática, a destruição de Gaza e das estruturas do Hamas tornaram o grupo, que comandava o território desde o cisma palestino de 2007, numa força insurgente incapaz de grandes ações, mas ainda assim difícil de ser erradicada.
No Líbano, enquanto tenta resistir a um mês de violenta campanha de Tel Aviv, declarada após a continuidade dos ataques que expulsaram 60 mil moradores de casa no norte israelense, o Hezbollah também enfrenta dificuldades.
Também nesta quinta, o deputado Hassan Fadlallah, um dos 15 membros do Hezbollah no Parlamento do Líbano, disse que o grupo trabalha por um cessar-fogo com Israel.
Ele confirmou que o grupo está trabalhando com Nabih Berri, o presidente do Parlamento que ocupa o cargo desde o acordo entre sua facção xiita, o Amal, e o Hezbollah, nos anos 1990.
Isso mostra o momento de vulnerabilidade do grupo extremista, representado no Legislativo de 128 cadeiras com o nome Lealdade à Resistência no bloco de apoio ao governo interino.
IGOR GIELOW / Folhapress